PSL será 'fiel da balança' para novo governador de São Paulo, dizem líderes
Guilherme Mazieiro
do UOL, em São Paulo
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Roberto Navarro/Alesp
Com a maior bancada eleita na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), o PSL, partido do candidato à Presidência Jair Bolsonaro, terá papel decisivo nas decisões do parlamento estadual. Líderes dos maiores partidos ouvidos pelo UOL, consideram que a nova bancada ganhou voz e poder e por isso terá que ser ouvida, mas também precisará entender as tradições da Casa. A sigla que tinha uma vaga em 2014, e atualmente não tem nenhuma, com as eleições de domingo (7) conquistou 15 das 94 cadeiras.
A mudança ocorre após o PSDB perder a hegemonia que marcou as últimas gestões da Alesp. Das 22 vagas que conquistou nas urnas em 2014, garantiu apenas 8, em 2018. A eleição que jogou os tucanos de primeira para terceira bancada - 8 vagas assim como o PSB - coincide com a crise interna no PSDB. Nesta semana dois fatos reforçaram impasse, a insinuação de Geraldo Alckmin de que Doria é "traidor" e a postura do candidato ao governo que intensificou o racha no partido.
A nova formação que assumirá a Alesp em março de 2019 estará dividida em três blocos. O núcleo de 15 partidos de apoio a Márcio França (PSB) terá 31 assentos. Já a coligação de seis partidos de João Doria (PSDB) ficará com 27. Juntos ocuparão 61% das vagas da Assembleia. As 36 cadeiras restantes estarão distribuídas entre os 15 lugares do PSL, as dez vagas do PT (a segunda maior bancada) e outros partidos.
Outra mudança no cenário paulista será o aumento de partidos. A Casa estará mais fragmentada com 24 partidos, em 2014, eram 21. Com os novos partidos a renovação de parlamentares chegou a 55%. Para esta conta, a reportagem considerou apenas os resultados nas urnas, desconsiderando as mudanças de partidos dos parlamentos eleitos durante o período de quatro anos de legislatura.
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Uma das lideranças do PSDB próximas a João Doria, Marco Vinholi acredita que junto com o PSL, o NOVO com quatro deputados serão partidos que serão importantes para negociar a liderança da Casa.
"O partido do governador sempre tem uma força para isso [formar liderança]. Apesar de não conhecer pessoalmente ninguém do PSL, espero que possam representar bem o povo paulista. É bastante gente nova chegando", disse o tucano em referência à mudança de metade da Casa: 51 dos 94 são novos deputados.
Um dos líderes do PT, que há mais de duas décadas está na oposição da Casa, Enio Tatto, acredita que a eleição do PSL "bagunçou" o cenário. Ele acredita que a sigla é uma incógnita na casa e que a maior parte dos eleitos foram "puxados" por coeficiente eleitoral, em razão da expressiva votação de Janaína Paschoal, que obteve 2.060.786 votos, recorde em uma eleição de Legislativo no Brasil. A performance ajudou o partido a ter os quatro deputados com menor votação entre os eleitos (Adalberto Freitas, Frederico D'Avila, Tenente Coimbra e Coronel Nishikawa).
"O governo que se eleger, seja Doria ou França, vai ter dificuldade de montar maioria absoluta", analisou. Ele considerou que não há possibilidade de uma coligação entre PT e PSL pela diferença ideológica. Eles [deputados do PSL] vão perceber que quem se elege com 2 milhões de votos ou 30 mil votos, nas votações da Alesp conta como um voto só. Então vão precisar conversar com todo mundo", disse.
Como a tradição da Casa é que a maior bancada eleja o presidente da Assembleia, a tendência é que o PSL fique com o comando, segundo Tatto. A mesma visão é compartilhada por Barros Munhoz (PSB). Ex-tucano, um dos líderes do partido de Márcio França entende que a sigla mais numerosa deve ter o poder de escolha. "Eu em princípio sou a favor das tradições boas. Essa é uma boa tradição", disse Munhoz.
Deputada mais votada no estado, Janaína Paschoal, declarou em entrevista à Rádio Jovem Pan, nesta quinta-feira (11) que lançará candidatura à presidência. "É um dever que eu me habilite nesse processo, (...) eu entendo que não posso deixar de me candidatar porque é uma votação sem precedentes. São Paulo me elegeu presidente da Assembleia mediante tantos votos", disse em recorde de votação que obteve.
A nova configuração pode alterar o perfil da Assembleia nos últimos anos. Em 2018, segundo reportagem feita pela Folha de S. Paulo, 70% das propostas enviadas pelo governo foram aprovadas. A oposição também cansou de alegar que as investigações contra o governo não prosperaram por conta do domínio governista na Casa.
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