Em debate, Paes e Witzel 'disputam' afinidade de ideias com Bolsonaro

Gabriel Sabóia e Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

  • FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

    11.out.2018 - Eduardo Paes e Wilson Witzel em debate do Grupo Band e Firjan

    11.out.2018 - Eduardo Paes e Wilson Witzel em debate do Grupo Band e Firjan

Adversários no segundo turno para o governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM) declararam afinidade com as propostas e procuraram mostrar proximidade com o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), líder na disputa ao Palácio do Planalto, durante debate realizado nesta quarta-feira (17) pelos jornais O Globo e Extra, em parceria com a Fecomércio-RJ.

Apesar de reiterar neutralidade na disputa presidencial e não declarar o seu voto, Paes disse que se alinha à agenda de Bolsonaro na área de segurança, que será tratada como prioridade em um eventual governo seu. Paes, que à época em que foi prefeito do Rio era aliado dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, também afirmou se identificar com a agenda econômica de Paulo Guedes, cotado como ministro da Fazenda de um eventual governo do presidenciável.

A agenda colocada pelo Paulo Guedes é uma agenda mais naquilo que eu acredito. Mais liberal, mais pró-concessões, mais pró-PPPs (...) Eu diria que no campo econômico, no campo daquilo que a gente entende como prioridades para o nosso país, eu tenho uma identidade maior com a agenda do Bolsonaro.

Eduardo Paes, candidato do DEM ao governo do Rio

Já Witzel, que se declara eleitor de Bolsonaro e afinado com as propostas do candidato do PSL desde o primeiro turno, prometeu colaborar para a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, caso seja eleito.

Estou tão alinhado com as ideias do Jair Bolsonaro, não importa se ele está neutro ou não, importa é que eu tenho posição. Nós vamos trabalhar para ter mais clubes de tiro no estado do Rio de Janeiro para apoiar a política de flexibilização do Estatuto do Desarmamento

"Nós vamos ter uma rede de escolas militares, nós vamos trabalhar para que as escolas tenham disciplina, o professor seja respeitado e vamos melhorar muito o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], coisa que, infelizmente, na sua gestão não aconteceu", defendeu Witzel, que também declarou simpatia às propostas do economista Paulo Guedes.

Os candidatos chegaram a travar disputa, inclusive, quanto a seus estreitamentos nas relações pessoais com Bolsonaro. Paes, que trabalhou em Brasília ao lado de Bolsonaro, no Congresso Nacional, disse que o conhece melhor do que o adversário.

"Tenho com Bolsonaro a melhor relação do mundo, mas quem vai assinar as medidas no Rio serei eu, se eleito. Para com essa conversa de apoiar Bolsonaro porque ele nem sabe quem você é. Você colou no filho dele, no primeiro turno, mas agora ele já disse para a 'meninada' se afastar", disse o ex-prefeito carioca.

Witzel contestou a declaração de Paes. "Bolsonaro não me conhece? Nos conhecemos há muitos anos e as ideias que alinhamos são parecidas. Eu o apoio sim, Paes. Eu tenho uma posição estabelecida, ao contrário de você", retrucou.

O candidato do PSC defendeu o alongamento do pagamento da dívida do estado e a revogação do acordo de recuperação fiscal, assinado pelo estado e a União.

'Maracutaia', 'privilégios' e ficha criminal

Paes lembrou no debate de um vídeo em que Witzel, que é ex-juiz federal e dirigiu uma associação da classe, aparece instruindo colegas juízes a fazer uma "engenharia" a fim de receber mensalmente gratificação de R$ 4.000, prevista na lei da magistratura. Ela envolve o envio de juízes substitutos para atuar em outras varas e, assim, o magistrado titular assume mais tarefas em troca de gratificação.

"O espírito da lei está claro, mas, o que o senhor chama de engenharia, eu chamo de maracutaia. É imoral", afirmou Paes.

O candidato do DEM pontuou que Witzel ganhou auxílio-moradia, mesmo possuindo imóvel próprio no Rio, e disse que o adversário teria passado um tempo sem pagar IPTU, além de ter recebido por um período rendimentos de R$ 80 mil, acima do teto salarial dos funcionários públicos. O ex-prefeito ainda afirmou que o candidato do PSC teria sido processado por sonegação.

"Para alguém que diz que quer acabar com privilégio, é muito privilégio", disse Paes.

Witzel respondeu apenas à acusação referente ao acúmulo de gratificações --disse que pela "engenharia", um juiz substituto ocupa duas vagas e, dessa forma, representaria uma economia para o país. Segundo Witzel, ao invés de pagar um salário de R$ 29 mil para contratar um novo juiz, o estado pagaria só R$ 4.000 para a realização do trabalho.

Quanto às outras acusações disse apenas: "meus problemas estão resolvidos". Witzel afirmou ainda que tais problemas não causam impacto na sociedade. Porém, atacou Paes dizendo que ele teria uma "folha de antecedentes criminais extensa" por responder a inquéritos policiais envolvendo corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Witzel afirmou ainda que Paes só disputa a eleição sob efeito de uma decisão liminar da Justiça. O ex-prefeito se tornou inelegível por oito anos após ser condenado por abuso de poder político-econômico pelo TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro). "Você tem que dizer a seus eleitores que sequer pode terminar o segundo turno", provocou Witzel.

Caso Marielle

Paes atacou Witzel afirmando que ele participou com "alegria e regozijo" de ato no qual os deputados eleitos Rodrigo Amorim (Alerj) e Daniel Silveira (Câmara Federal), ambos do PSL, rasgaram uma réplica de placa feita em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março --ato que Paes classificou como "uma manifestação absurda contra a vida de uma pessoa".

Witzel estava presente no comício onde o ato aconteceu em Petrópolis, na região serrana fluminense. Sua participação foi gravada em um vídeo que veio a público no início de outubro. A placa em homenagem à vereadora era similar a uma placa de rua e havia sido colocada por ativistas sobre uma placa oficial com o nome de uma praça no centro do Rio.

O ex-juiz reafirmou que não sabia que a destruição da placa aconteceria durante o comício, disse que fez "inúmeros" trabalhos em prol dos direitos humanos e que não admite intolerância. Afirmou também que se empenharia pessoalmente para descobrir os assassinos de Marielle.

Witzel negou que sua proposta de autorizar que policiais atirem em suspeitos flagrados com fuzis aumentará tiroteios em comunidades. Segundo ele, o treinamento dos policiais dado pela equipe de intervenção federal na segurança pública do estado permitirá a realização de operações "cirúrgicas" para enfrentar "guetos do crime organizado".

Crivella, Cabral e o empresário Mário Peixoto

A suposta ligação entre Witzel e o empresario Mário Peixoto foi questionada por Paes. Peixoto, que foi apontado pelo senador e candidato derrotado ao governo do Rio, Romário (Podemos) como coautor do programa de governo de Witzel, é sócio dos deputados estaduais Paulo Mello e Jorge Picciani (ambos do MDB), que estão presos pela Lava Jato acusados de favorecer empresas de ônibus no âmbito da Alerj.

Witzel negou que Peixoto faça parte da sua campanha. "Ele apenas mandou uma mensagem de apoio à minha candidatura, como várias pessoas fizeram. Você, sim, se relaciona com o núcleo que afundou o Rio de Janeiro", respondeu.

Minutos depois, foi a vez de o candidato do PSC questionar Paes quanto à condenação do seu ex-secretário de Obras Alexandre Pinto, na última segunda-feira (15), por lavagem de dinheiro --depois da condenação, a Prefeitura do Rio anunciou que investigará as obras do BRT  Transcarioca, uma das intervenções geridas por Pinto e que teria sido mal executada, causando prejuízos aos cofres públicos.

Paes se disse constrangido pela condenação, mas negou envolvimento pessoal com o seu secretário. "Fico triste porque era um quadro técnico meu que se envolveu com corrupção. Mas não é alguém com o qual eu tenha relações pessoais", disse.

O democrata usou a abertura da investigação anunciada pelo prefeito Marcelo Crivella (PRB) para atacar Witzel. "Quando soube da investigação, pensei: 'que bom, o Crivella vai trabalhar'. E, logo em seguida, fiquei aliviado, porque todos veem que ele te apoia", disse. Crivella disse, por meio de sua assessoria, que não comentaria as declarações de Paes.

Witzel por sua vez lembrou a relação estreita entre Paes e o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), preso pela Lava Jato em novembro de 2016 e condenado a mais de 180 anos de prisão. "O Cabral pede votos para você até hoje, dentro do presídio, aos outros presidiários. Você também é candidato do Luiz Fernando Pezão."

Paes, que dividiu o partido e trocou apoios com Cabral ao longo dos seus dois mandatos à frente da prefeitura, disse que o ex-padrinho político "é um criminoso, condenado, com o qual não me relaciono pessoalmente. Enquanto prefeito, sempre dialoguei com todo mundo".

O ex-prefeito também afirmou que Witzel procurou Cabral na cadeia, a quem teria pedido apoio, antes de se candidatar. Na resposta, o ex-juiz citou o episódio conhecido como "Farra dos Guardanapos". "Eu quero esclarecer que nunca dividi guardanapo com Cabral, não sento à mesa e nem como com ele, como você fez naquela festa", concluiu, se referindo ao jantar que reuniu políticos e empresários em Paris, em 2009.

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