Zema aproveita onda Bolsonaro, ganha em MG e garante 1º estado para o Novo
Téo Takar
Do UOL, em São Paulo
Romeu Zema Neto (Novo) teve duas razões para comemorar neste domingo (28). Além de completar 54 anos de idade, o empresário de Araxá (MG), que nunca havia concorrido a um cargo público, foi eleito governador de Minas Gerais, confirmando o favoritismo nas pesquisas e derrotando o ex-governador e ex-senador Antonio Anastasia (PSDB).
A eleição de Zema representa a primeira conquista de um cargo executivo pelo partido Novo, fundado em 2011. A sigla elegeu neste ano 12 deputados estaduais (três na Assembleia de Minas) e oito deputados federais (dois mineiros).
Para especialistas, foi a declaração de apoio a Jair Bolsonaro (PSL) que fez a candidatura de Zema decolar. "Sem dúvida, o Zema surfou na onda Bolsonaro. Ele soube aproveitar bem esse fenômeno, ao declarar seu voto ainda no primeiro turno", disse o cientista político Fábio Wanderley Reis. Na véspera do segundo turno, porém, o empresário fez uma ressalva, e disse que não concorda com "posições extremistas" do presidenciável.
Apoio a Bolsonaro e virada em pesquisas
A manifestação de apoio aconteceu durante o debate ao governo mineiro promovido pela Rede Globo no dia 2 de outubro, cinco dias antes do primeiro turno. O candidato adotou o bordão "Bolsozema" na campanha, apesar de não ter recebido apoio oficial do PSL. Apesar de provocar mal-estar com o Novo, que tinha João Amoêdo disputando a Presidência da República, a estratégia deu certo.
Na pesquisa Ibope do dia 2, divulgada horas antes do debate, Zema aparecia em terceiro lugar na disputa pelo Palácio da Liberdade, com 10% das intenções de voto, atrás de Antonio Anastasia (PSDB), com 33%, e do atual governador, Fernando Pimentel (PT), com 22%. Zema terminou o primeiro turno na frente, com 42,73% dos votos válidos, seguido por Anastasia, com 29,06%, enquanto Pimentel recebeu 23,12% dos votos válidos e ficou de fora do segundo turno.
"É difícil explicar os motivos que fizeram esse movimento [pró-Bolsonaro] ganhar força nacionalmente. O fato é que ele influenciou a eleição mineira", afirmou Reis.
Renovação política
Zema se apresentou na campanha como opção de renovação, em oposição a figuras tradicionais da política mineira. "Estou aqui porque acredito em mudanças que os mesmos políticos de sempre não serão capazes de conduzir", disse o governador eleito durante sua campanha.
Para Reis, a rejeição ao PT, que tirou Pimentel da disputa à reeleição ainda no primeiro turno e deixou Dilma Rousseff de fora do Senado, teve papel secundário na vitória de Zema. "Há o efeito do antipetismo, mas ele se mistura ao crescimento do Bolsonaro", declarou o cientista político.
A eleição de Zema é reflexo também do aumento da rejeição aos políticos tradicionais. "O eleitor queria dar uma chacoalhada na política. Estava disposto a aceitar qualquer coisa que fosse diferente do que está aí", afirmou Carlos Ranulfo, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). "Anastasia sofreu com o desgaste do PSDB, especialmente após o episódio de corrupção envolvendo Aécio Neves, seu padrinho político", disse Ranulfo.
Apresentando-se como estreante na política, Zema teve de se explicar, no meio da campanha, sobre ter sido filiado ao PR por 19 anos. Ele deixou a legenda há seis meses, para filiar-se ao Novo e candidatar-se. Segundo ele, filiou-se no passado por convite de um amigo, mas nunca participou "de qualquer atividade partidária".
O professor da UFMG disse ainda que o Novo é um partido formado "tipicamente por empresários ricos" e sem experiência política. "O pessoal lá de cima resolveu dispensar os intermediários e botar a mão direto na massa", afirmou. "O problema é que o Novo não tem histórico, não tem trajetória. É uma aventura política."
Empresário milionário
Divorciado e pai de dois filhos, o empresário é formado em administração de empresas pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e tem patrimônio declarado de quase R$ 70 milhões. É dono de 30% da empresa da família, o grupo Zema, fundada há 95 anos por seu bisavô.
Com sede em Araxá, o grupo Zema faturou R$ 4,5 bilhões nem 2017. A empresa atua nos segmentos de distribuição de combustível, varejo de móveis, de eletrodomésticos e de vestuário, concessionárias de veículos e autopeças, consórcios e serviços financeiros. Para disputar as eleições, Romeu Zema se afastou do conselho de administração da companhia.
Para ajudar a bancar sua campanha, contou com apoio de outros empresários, como Salim Mattar, dono da Localiza, que doou R$ 700 mil, e Ricardo Antônio Vicintin, proprietário da Rima Industrial, que contribuiu com R$ 300 mil.
Disparo de mensagens via WhatsApp
Zema foi citado em reportagem da "Folha" sobre compra de disparos em massa de mensagens via WhatsApp. Segundo o jornal, ele declarou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pagamento de R$ 200 mil à Croc Services para impulsionar conteúdos. O diretório estadual do partido em Minas gastou R$ 165 mil com a mesma empresa.
A reportagem teve acesso a propostas de trocas de email dessa empresa com algumas campanhas oferecendo disparos em massa usando dados de terceiro, o que é ilegal. Questionadas, a companhia e a campanha afirmaram ter usado somente as bases do candidato, filiados ao partido e apoiadores de Zema, o que é legal.
Ainda de acordo com a "Folha", eleitores em Minas receberam mensagens em WhatsApp vinculando o voto em Zema ao voto em Jair Bolsonaro dias antes do primeiro turno.
'Metamorfose ambulante'
"Ele já mudou o programa quatro vezes. Falou em privatizar a Cemig, a Copasa, depois voltou atrás. O primeiro desafio dele será definir o programa e a equipe de governo", analisa Ranulfo.
Diante das mudanças de posição sobre diversos temas ao longo da campanha, Anastasia atribuiu a Zema o apelido de "metamorfose ambulante".
"Seu programa é para valer ou algum outro surgirá depois? Não podemos ter um governador que muda de ideia a todo momento", disse o tucano.
Crise financeira é desafio
O principal desafio do governador eleito será achar uma saída para o caos financeiro que tomou conta de Minas Gerais nos últimos anos. Apenas a folha de pagamento de funcionários públicos ativos e aposentados consome quase 90% da arrecadação do estado, que foi da ordem de R$ 57 bilhões em 2017.
Durante a campanha, Zema declarou que só aceitará receber seu salário como governador quando o pagamento do funcionalismo estiver em dia.
A provável indicação do economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, para cuidar das finanças do estado foi elogiada pelo cientista político. "É um bom quadro, um economista consistente com o discurso liberal", disse Ranulfo.
Zema declarou, após a vitória no primeiro turno, que governará Minas Gerais como se fosse uma empresa. "Terei um secretariado 100% técnico. Os secretários serão escolhidos da mesma forma que uma empresa. Vamos selecionar no mercado."
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