Na favela ou na web, Bolsonaro e Haddad jogam suas últimas cartas

  • Hélvio Romero/Estadão Conteúdo

    Fernando Haddad participa de caminhada em Heliópolis, na região sul de São Paulo

    Fernando Haddad participa de caminhada em Heliópolis, na região sul de São Paulo

São Paulo, 27 Out 2018 (AFP) - Jair Bolsonaro (PSL) através da internet; Fernando Haddad (PT) na favela: no último dia de campanha, os candidatos presidenciais jogam suas últimas cartas junto ao eleitorado, que, segundo as pesquisas, parecem inclinados a favor do capitão do Exército de direita.

Os brasileiros têm, de um lado, Haddad, herdeiro político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que promete trazer de volta os anos dourados de bonança econômica do período PT; do outro lado um nostálgico do regime militar, partidário de liberar o porte de armas, e que afirma que vai "limpar" o Brasil da corrupção, da insegurança e do comunismo.

Leia também:

Haddad e a virada

Em seu último evento de campanha, Haddad fez uma "Caminhada pela Paz" em Heliópolis, a maior favela de São Paulo. Poucos milhares de seguidores o acompanharam pelas ruas estreitas do bairro, em clima festivo e vestidos de branco.

"Armar a população só aumentará a violência. A população está tomando consciência do salto para o desconhecido que a candidatura de Bolsonaro significa. Estão querendo vender gato por lebre, uma pessoa truculenta por uma pessoa pacífica ", disse Haddad aos jornalistas no no local.

"A virada virá", enfatizou, coincidindo com o otimismo de seus militantes.

"Já viramos, vamos ganhar, a democracia vai ganhar, não o militarismo. A ditadura de novo, não. O Brasil não precisa de armas, e sim de projetos sociais", afirma Emerson Santana, 44 anos, que participava emocionado do comício de Haddad Heliópolis.

Haddad, de 55 anos, foi indicado como candidato em setembro, substituindo Lula, que cumpre pena de prisão de 12 anos por corrupção desde abril, sendo ele a principal figura do PT e seus aliados atingida pelas investigação da Operação "Lava Jato".

A decolagem de Haddad se baseou no apoio de milhões de brasileiros que se beneficiaram das políticas de inclusão social de Lula.

Mas até agora só conseguiu o "apoio crítico" dos principais líderes de centro-esquerda, que censuram o PT por suas tramas e manobras político-financeiras durante seus anos no poder e principalmente sua falta de autocrítica.

No entanto, os apoios de última hora ainda não foram descartados.

Neste sábado (27), o popular ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa, encarregado do "Mensalão", o primeiro grande escândalo de corrupção do PT, em 2005, declarou seu voto.

"Pela primeira vez em 32 anos de exercício direto do voto, um candidato me inspira medo, então votarei em Fernando Haddad", tuitou Barbosa, que quase se candidato no início deste ano.

Muitos também reclamam que o partido se distanciou das classes populares, como o rapper Mano Brown (Racionais MC), que em um evento de campanha a favor de Haddad criticou a "cegueira" do PT por ter deixado seu eleitorado da periferia nas mãos de Bolsonaro.

Fátima Ferreira, uma dona de casa de 45 anos e vizinha de Heliópolis, exibe uma faixa em defesa da educação.

Ela concorda com as críticas de Mano Brown, mas acredita que o PT se corrigiu a tempo.

"Eles tinham que ficar mais perto do povo, que foi quem os escolheu. O PT havia desapareceu e agora está voltando", reconhece, com satisfação.

"Trending topic" #MudaBrasil17

Bolsonaro, 63 anos, por outro lado, conduz suas últimas ações de campanha de sua casa, na Barra da Tijuca, Rio, como tem feito desde que foi esfaqueado em um comício 6 de setembro e teve que passar por um processo de recuperação após duas cirurgias.

Bolsonaro lamentou não estar perto dos eleitores por suas limitações médicas e pediu a seus seguidores que não antecipem a vitória na eleição.

"Confiamos e ouvimos o Brasil. LEMBREM-SE NADA ESTÁ GANHO! Força até o fim! ", tuitou.

Bolsonaro conseguiu que seus seus milhões de seguidores virtuais colocassem a hashtag # MudaBrasil17 como o trending topic mais discutido no Twitter em todo o mundo neste sábado.

Conhecido mais por sua retórica exaltada, nutrida por comentários sexistas, racistas e homofóbicos, Bolsonaro tentou moderar o tom nas últimas horas, tentando afastar o medo de que seu governo, que terá a presença proeminente de militares, possa significar um retorno aos sombrios anos da ditadura (1964-1985).

"A maneira como vamos mudar o Brasil será através da defesa das leis e da obediência à Constituição", afirmou na manhã deste sábado.

"Cada cidadão terá seus direitos preservados", garantiu.

As últimas horas da campanha também foram marcadas por operações policiais em universidades de vários estados do país, onde a justiça autorizou a retirada de faixas "antifascistas", requisição de documentos e suspensão de atos, alegando que se tratava de propaganda eleitoral irregular.

Muitos professores denunciaram essa atitude como "censura" e a ministra Cármen Lúcia, do STF, suspendeu neste sábado todas as operações desse tipo para garantir o direito à liberdade de pensamento.

Chegou o segundo turno: Veja o que você precisa saber antes de votar

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos