No Rio, candidatos são intimidados em áreas dominadas pelo tráfico
Roberta Pennafort
Rio
Na política há 30 anos, o deputado federal Luiz Sérgio (PT), candidato à quinta reeleição, nunca havia passado por um momento tão delicado em uma campanha eleitoral quanto o que viveu em sua cidade natal, Angra dos Reis, no mês passado. Em um cenário em que o município do litoral sul fluminense vive um conturbado cenário de violência, com uma guerra de facções pelo tráfico, o parlamentar foi impedido de distribuir panfletos por emissários de criminosos.
"Nunca tinha passado por este constrangimento. Estava no Camorim Grande, um dos locais mais conflagrados de Angra, e recebi um recado de que não poderia subir, que não era bem-vindo. Justo um lugar que ajudei a urbanizar quando fui prefeito (entre 1993 e 1996)", lamentou. "Isso é muito preocupante e gera indignação. Reflete uma realidade que não existia em eleições passadas. É a negação da cidade".
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Luiz Sérgio é apenas um dos candidatos a sofrer este tipo de intimidação no Estado do Rio em territórios dominados por traficantes ou por milicianos. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) informou que não dispõe de números de denúncias deste pleito, tampouco das eleições de 2016 e 2014. Na contramão das reclamações de candidatos, o presidente da Corte, desembargador Carlos Eduardo da Fonseca Passos, os trabalhos da chamada Coalização Eleitoral, grupo integrado pela Corte, o Ministério Público Eleitoral e órgãos de segurança, "têm sido conduzidos em clima de total normalidade".
"Não há registro de qualquer intercorrência de maior relevância. Não houve, até o momento, qualquer ação ostensiva de organizações criminosas envolvendo o processo eleitoral", afirmou. "A Coalizão Eleitoral foi formada justamente com objetivo de, mediante congregação de esforços e apoio mútuo, garantir a legitimidade do processo eleitoral, e tem produzido resultados relevantes. A partir do momento em que organizações criminosas se imiscuem nos debates e na disputa eleitoral, certamente, haverá reflexos na própria segurança do processo como um todo."
Nas eleições de 2014, a estimativa das forças de segurança era que em cerca de 40 comunidades a campanha era controlada por grupos de criminosos, inclusive com ocorrência de voto de cabresto. No dia a dia da campanha, os candidatos têm excluído de suas agendas áreas de influência forte de traficantes e milicianos, a fim de evitar coações e exposição de apoiadores a riscos.
"Estive na Vila Aliança (zona oeste do Rio) e uma pessoa colocou uma pistola no meu vidro. Acho que pensou que eu era da Polícia. Isso é uma vergonha", disse um deputado estadual do PT, que pediu para não ter o nome publicado. "A gente recebe informações de que tem lugar proibido mesmo, na Vila Kennedy (zona oeste), em São João de Meriti (Baixada Fluminense). Quando marcamos em favela, temos que ter alguém te esperando no acesso."
Presidente licenciado do Sindicato dos Policiais Civis do Rio, Marcio Garcia (PSC), candidato a deputado estadual pela primeira vez, também toma cuidados. "Dou muitas entrevistas e posso ser reconhecido como policial. Não vou a lugares que possam oferecer risco à minha vida. Existem regras veladas."
Conforme a Secretaria de Segurança, as áreas de Inteligência do TRE e das polícias estão mapeando e investigando toda as denúncias envolvendo candidatos. Passado outubro, o TRE vai analisar a votação em áreas com suspeita de intimidações. Em outra frente, para ajudar o eleitor, a secretaria incluiu denúncias eleitorais em seu aplicativo de celular Emergência RJ, com garantia de anonimato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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