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PMs em greve na Bahia decidem em assembleia hoje à tarde se voltam ao trabalho

Janaina Garcia

Do UOL, em Salvador

09/02/2012 12h14

Integrantes de quatro associações que representam os policiais militares da Bahia se reúnem em assembleia às 16h desta quinta-feira (9), no centro de Salvador, para definir se mantêm a paralisação iniciada no último dia 31 ou se retomam as atividades. No grupo estarão também os mais de 240 PMs acampados até as primeiras horas de hoje no prédio da Assembleia Legislativa do Estado, no Centro Administrativo.

Nesta manhã, representantes das quatro associações discutiram, na associação dos bancários de Salvador, uma contraproposta a ser apresentada durante a tarde ao governo do Estado. O ponto que gera maior impasse nas negociações é a anistia aos 12 grevistas que, segundo o governo, teriam cometido ou coordenado atos de vandalismo. Quatro já foram presos, dois deles hoje cedo, durante a desocupação –um deles, o líder do movimento, o ex-soldado Marco Pristo.

De acordo com o diretor da APPM (Associação de Praças da Polícia Militar da Bahia), Joel dos Santos Castro, a rendição hoje dos 245 homens acampados na Assembleia Legislativa não enfraqueceu o movimento. Com cerca de 8.000 associados, a APPM é a maior associação dentre as quatro que representam os policiais na Bahia.

Por outro lado, o dirigente admitiu que os áudios de conversa de Prisco com grevistas de outras partes do Estado, divulgadas na edição desta quarta-feira (8) no "Jornal Nacional" e em jornais da Bahia, hoje, afetou a liderança do ex-soldado entre os companheiros. Em uma delas, Prisco fala com um suposto PM que menciona intenção de fechar rodovias e incendiar veículos.

“Não concordamos com o que saiu pelas palavras dele [Prisco]. Tocar fogo em caminhão não é coisa da PM da Bahia, instituição praticamente bicentenária; a reivindicação é por salários melhores. E como ele tem um passado de lutas e a tropa confiava nele, não iria concordar com uma coisa dessas [ações de vandalismo] se ele tivesse comunicado, e isso tem que ser levado para a tropa”, afirmou Castro. “Prisco perdeu a total direção da coisa.”

A assembleia das 16h, marcada para acontecer no ginásio de esportes do sindicato dos bancários, deverá reunir as associações Força Invicita, a APPM, a associação que representa os sargentos e a dos subtenentes. Já Prisco e Antonio Paulo Angelini, outro líder preso hoje ao deixar o prédio da Assembleia pelos fundos, foram levados para a Polícia do Exército.

Entenda a greve

A greve na Bahia foi deflagrada na terça-feira, dia 31 de janeiro, por parte da categoria, liderada pela Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra). Doze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que lideram o movimento, considerado ilegal pela Justiça. As prisões foram decretadas pela juíza Janete Fadul. Todos são acusados de formação de quadrilha e roubo de patrimônio público (carros da corporação). Além dos crimes, os policiais devem passar por um processo administrativo.

Para encerrar a paralisação, os grevistas pedem a incorporação de gratificações ao salário, a revogação dos pedidos de prisão e a concessão da anistia irrestrita para os envolvidos. Segundo o governo estadual, a principal reivindicação dos policiais, que era a implantação de duas gratificações (a Gratificação de Atividade Policial-GAP 4 e 5), foi concedida de forma escalonada até 2015. "Com muito esforço orçamentário, ofereci entre 2012 e 2015 o atingimento no contracheque dessas duas gratificações", disse o governador Jaques Wagner (PT).

O impasse é sobre a anistia aos grevistas: enquanto os PMs não abrem mão desse ponto, o governador reiterou que os policiais envolvidos em "casos de vandalismo" serão punidos. "Os policiais que participaram legalmente, dentro das regras do processo reivindicatório, não têm com o que se preocupar. Mas todos aqueles condenados pela sociedade baiana que depredaram, quebraram e intimidaram a população devem ser investigados. Não há como falar em perdão quando se fala em atos de vandalismo."

A paralisação gerou um aumento da violência no Estado: houve registro de arrastões e aulas e shows foram cancelados. Os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiem viagens "não essenciais" ao Estado. Em uma semana, o número de homicídios mais do que dobrou na região metropolitana de Salvador, segundo estatísticas oficiais do governo.