PMDB briga por mais espaço no governo Dilma e pode atrasar votações prioritárias
O movimento que começou pequeno prevê a inclusão de até 80% da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados nas assinaturas de um manifesto que reivindica mais “atenção” do governo da presidente Dilma Rousseff aos integrantes do maior entre os partidos aliados.
O documento também é uma reação à possibilidade de perder para o PT a maioria das prefeituras em todo país nas eleições de outubro e um recado à cúpula do partido que tem permitido que a legenda continue com um papel de coadjuvante nas ações políticas federais.
O grupo de contrariados do PMDB prepara-se para uma reunião com o vice-presidente Michel Temer, os líderes do partido no Congresso Nacional e o presidente da legenda, o senador Valdir Raupp (RO) nesta terça-feira (6) para expor o problema. “[Para] as políticas mais importantes, as políticas econômicas, ninguém é ouvido e nas políticas sociais, ninguém é ouvido. Só o PT. Estamos alertando por isso. Se continuar a situação, vai haver um gradual afastamento”, explicou o deputado Osmar Terra (PMDB-RS).
Além de ter a maior bancada no Senado --com 18 senadores-- e a segunda maior bancada aliada na Câmara --com 76 deputados--, o PMDB tem dado respaldo ao governo petista nas principais votações do Congresso com unidade maior que a própria bancada petista em votações significativas como a do salário mínimo e da versão do então deputado federal e atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo, do texto sobre a reforma do Código Florestal.
Questionados se a demanda dos peemedebistas incluía mais cargos no governo, os parlamentares ouvidos pelo UOL negam e frisam que a intenção é ter mais espaço nas decisões políticas e um apoio igual ao dado ao PT --partido da presidente-- nas campanhas eleitorais em outubro.
“A gente não está pleiteando mais espaço no governo, mas a participação efetiva no governo, ter participação nas decisões de governo, na política, de tudo de maneira geral”, afirmou o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“Na verdade, nós estamos representando o sentimento de todos, que está latente há muito tempo e vai se agravando com a chegada do processo eleitoral. A gente vai vendo que a estrutura toda do governo está montada para eleger os candidatos do PT e não está dando bola aos prefeitos aliados, às candidaturas aliadas”, destacou o deputado Osmar Terra.
O movimento, que nasceu na Câmara, ainda não conta com o apoio dos senadores da legenda, mas já preocupa o líder, Romero Jucá (PMDB-RR), que disse que irá nesta semana conversar com seus colegas de partido para “acalmar os ânimos”.
“Nós vamos conversar com os membros da bancada da Câmara que assinaram o manifesto exatamente para verificar como pode se resolver esta questão. É importante o PMDB estar unido. O PR, na base do governo e o PDT na base do governo. Portanto nós temos que fazer política, conversar e acalmar os ânimos”, defendeu Jucá.
Repercussões
Os deputados peemedebistas insatisfeitos são aqueles --mesmo sem a orientação do líder Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)-- que já avisaram que poderão criar problemas para a votação do Código Florestal, prevista para esta terça-feira (6).
Parte deles diz ser contrária à modificação feita no Senado e a favor da versão original da Câmara na qual se consolida a situação de ocupações ilegais em APPs (áreas de preservação permanente) como encostas, topos de morros e beira de rios, que passariam a ser consideradas legais. Os próprios peemedebistas sabem que poderão contar com o apoio da bancada ruralista e de parlamentares do PP.
Na prática, a falta de unidade na base aliada no Congresso poderá retardar também a votação de outras matérias prioritárias ao governo como a Lei Geral da Copa e a proposta de distribuição dos royalties do petróleo da camada do pré-sal.
Nas visão dos peemedebistas, a falta de destaque do governo federal para os aliados prejudica as campanhas eleitorais, uma vez que os pré-candidatos de outros partidos --exceto do PT-- têm ficado longe das manchetes e das fotos de ações e inaugurações de programas federais.
“Do jeito que vai, termina o PT elegendo todo mundo, diminui os prefeitos todos e ninguém fica satisfeito”, argumenta o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que assumiu no ano passado a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal.
“O que nós queremos é uma relação com o PT mais respeitosa nas partes, onde nós podemos também ter discurso de governo, onde não tenha um projeto hegemônico deles [petistas] querendo sair atraindo tudo porque eles são governo”, completou.
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