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Para oposição, Cachoeira é um braço do esquema comandado pelo ex-presidente da Delta

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

22/11/2012 11h43Atualizada em 22/11/2012 14h43

Insatisfeitos com o relatório elaborado pelo deputado Odair Cunha (PT-MG), um grupo de parlamentares da oposição não irá esperar a leitura completa do documento para entregar nesta quinta-feira (22) uma representação ao Ministério Público Federal pedindo a abertura de inquéritos para investigar personalidades que ficaram de fora da lista de 46 pessoas a quem o parlamentar petista pediu a responsabilização criminal.

“Na nossa concepção, Fernando Cavendish [ex-presidente da Delta] é o cabeça da organização criminosa e Cachoeira é uma parte e isso é uma diferença do relatório do deputado Odair. No relatório do deputado Odair, Carlos Cachoeira é o mentor do esquema. Nós estamos dando um upgrade [da atuação] de Cavendish”, afirmou ao UOL senador Randolfe Rodrigues, um dos autores da representação.

Os parlamentares da oposição têm uma visão mais ampliada do esquema criminoso que envolvia o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, políticos, servidores e empresários em uma rede que supostamente desviava recursos públicos para pagamentos de propinas e financiamento de campanhas eleitorais, entre outras finalidades. 

Segundo a Polícia Federal, Cachoeira era uma espécie de “sócio oculto” da construtora Delta, a que está entre as empreiteiras que mais receberam recursos do governo federal desde 2007.

O outro enfoque do texto dos parlamentares é o pedido de aprofundamento de investigações em relação aos governadores Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Siqueira Campos (PSDB-TO), que não são nem citados no relatório de Cunha.

A representação foi assinada pelos deputados Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Rubens Bueno (PPS) e os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Taques (PDT-MT), Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF). Os dois últimos não são integrantes da CPI, apenas acompanham algumas das reuniões como ouvintes, sem direito a voto. 

Para os parlamentares, a investigação da comissão demonstrou que há indícios de que o esquema não ficou restrito ao Distrito Federal e o Estado de Goiás.

“As investigações levadas a cabo pela Comissão de Inquérito conseguiram levantar, em alguns casos, provas e, em outros, fortes indícios da ocorrência de crimes, tais como de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, tráfico de influência, fraude em licitações, peculato, prevaricação, concussão, corrupção ativa e passiva, dentre outros, envolvendo a Construtora Delta S/A e agentes públicos das mais diversas esferas dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”. diz o documento.

A representação pede ainda ao MPF aprofunde as apurações sobre o modus operandi da distribuição dos recursos públicos recebidos pela Delta para uma série de empresas “laranjas”, “sugerindo um esquema de direcionamento deste dinheiro para campanhas eleitorais”, segundo o documento.

Com o fim dos trabalhos em 22 de dezembro, a CPI não terá tempo para rastrear a movimentação financeira de mais de R$ 500 milhões para as supostas empresas de fachada. Por isso, o grupo pede ao MPF que continue esta linha de investigação. 
 


Tucanos

 

Apesar das críticas ao relatório de Cunha, o PSDB não quis ser signatário da representação do grupo da oposição.

Os tucanos se anteciparam e protocolaram no último dia 7 de novembro uma representação à parte no Ministério Público Federal, que pedia uma investigação mais aprofundada sobre as supostas empresas "laranjas” ligadas à  Delta, que nem chegaram a ter seus sigilos quebrados pela CPI.

Nos bastidores, parlamentares da oposição – da qual o PSDB faz parte – dizem que a iniciativa “independente” dos tucanos se deve ao fato do texto dos outros opositores incluir na recomendação para a responsabilização criminal o governador tucano, Marconi Perillo (GO).