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Leia a transcrição da entrevista de Aloysio Nunes à Folha e ao UOL

Do UOL, em Brasília

14/05/2013 06h00

Aloysio Nunes, senador (PSDB-SP), participou do "Poder e Política", programa do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 13 de maio de 2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

 

 

Narração de abertura: Aloysio Nunes Ferreira Filho tem 68 anos.Filiado ao PSDB, é senador pelo Estado de São Paulo.

Aloysio Nunes formou-se em Direito na USP em 1968. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro, foi opositor da ditadura militar. Atuou na luta armada. Participou de assaltos promovidos pela Aliança Libertadora Nacional, grupo liderado pelo guerrilheiro Carlos Marighella.

Aloysio exilou-se na França de 1968 a 1979. De volta ao Brasil, filiado ao PMDB, exerceu 2 mandatos de deputado estadual em São Paulo e um de deputado federal. Ainda pelo PMDB, foi vice-governador de São Paulo na gestão de Luiz Antônio Fleury Filho.

Depois, no PSDB, elegeu-se novamente deputado federal. Foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e ministro da Justiça durante a administração de Fernando Henrique Cardoso como presidente.

Em 2010, Aloysio elegeu-se senador pelo Estado de São Paulo com 11 milhões de votos, a mais alta votação obtida por um candidato ao Senado na história do país.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. A gravação é realizada no estúdio do Grupo Folha, em Brasília.

O entrevistado desta edição do Poder e Política é o senador Aloysio Nunes Ferreira Filho, do PSDB de São Paulo.

Folha/UOL: Senador, muito obrigado por sua presença aqui no estúdio do Grupo Folha. Eu começo perguntando: O sr. representa São Paulo. São Paulo tem um vice-governador, que é Guilherme Afif Domingos, e, agora, é também ministro do governo federal. É correta essa situação?
Aloysio Nunes: É uma situação esquisita. Mas, do ponto de vista constitucional, eu, pessoalmente, não vejo problema em ter ocupação de um cargo que é uma mera expectativa e o fato de se ocupar um cargo no executivo. Ele já era, aliás, secretário do governador Alckmin. Do ponto de vista funcional, ele não precisa viajar se o governador Alckmin se ausentar por alguns dias. Basta ele mandar um ofício ao presidente da Assembleia dizendo que não pode assumir porque é ministro. Isso já aconteceu em outras circunstâncias sem nenhum problema.

Do ponto de vista político, realmente é incômodo. Mas os partidos se separaram. Eu quero lembrar que o governador Alckmin tomou a iniciativa de demitir o atual ministro e vice-governador Afif quando ele era secretário e se filiou ao PSD. Mas mantiveram boas relações, tanto é que o Guilherme Afif continuou coordenando um grupo de trabalho sobre as PPPs do Estado de São Paulo com muita eficiência. Eu não vejo que isso possa causar um grande problema à República, não.

Folha/UOL: Tem sido, se não comum, razoavelmente frequente a debandada de alguns líderes que antes militavam só em partidos de oposição ao governo federal do PT para partidos que são simpáticos ao governo ou até aderindo ao governo. Afif é só o último. Por que está acontecendo essa onda?
Aloysio Nunes: Porque é difícil. As pessoas tem dificuldade em sobreviver na oposição num ambiente em que a política não se faz predominantemente em torno de valores e de projetos. Um partido como esse que foi criado pelo prefeito Kassab foi um partido para abrigar dissidentes de todos os partidos que queriam ir para o governo para poder viabilizar suas eleições, se aproximar do centro de poder. Como o PT, no governo, não faz nenhum tipo de exigência programática para admitir aliados no seu barco, isso acabou ficando uma coisa normal no Brasil.

Folha/UOL: Mas isso daí não vem sendo, assim, desde sempre, com quase todos os governo que tem esse poder de imantar e trazer os políticos, sejam eles de qual matriz ideológicas sejam?
Aloysio Nunes: É verdade. Eu me lembro que havia... A crônica política registra a chamada UDN chapa branca, que se aproximou do presidente Kubistchek. Mas, agora, isso virou regra. Isso, agora, se generalizou de uma maneira absurda, não é? No governo Fernando Henrique, nós tínhamos um eixo de governo programático que se constituiu já na campanha eleitoral, no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique, que o governo se instalou com uma proposta de profundas mudanças constitucionais, de adotar medidas que complementavam o Plano Real lançado pelo presidente Itamar Franco. Em torno dessas propostas, se constituía uma maioria. Essa maioria se manteve. Até que houve um problema no relacionamento entre o PSDB e o PFL. Mas o governo Fernando Henrique manteve um bloco de apoio coerente com o seu programa.

O PT não. Para o PT vale tudo. O PT juntou malufistas, pessoal que veio de vários fragmentos da antiga Arena, as diferentes facções do PT, que estão lá reunidas, o partido do Kassab [PSD], o PDT, o PTB, os partidos que são apoiados pelas igrejas evangélicas. Tudo.

Folha/UOL: Mas, nesse caso, exceto o PT e um ou outro mais de esquerda, talvez alguma facções do PDT, todos os outros estavam no governo Fernando Henrique, não é? Malufistas... Todos estavam lá.
Aloysio Nunes: Não. O centro, o grosso, o núcleo do poder do presidente Fernando Henrique se constituiu com base numa proposta política clara. Uma proposta de reformas. E o presidente Fernando Henrique levou o seu governo consequentemente com o apoio dos partidos que dominavam esse núcleo, que constituíam esse núcleo.

Em segundo lugar, os cargos chaves do governo jamais foram negociados como foram negociados no governo do PT. As empresas estatais, os bancos oficias, os ministérios estratégicos foram, todos eles, entregues à pessoas da confiança do presidente e comprometidos com o seu projeto. Eu me pergunto hoje: Qual é o projeto do PT, além de se manter no governo? Nenhum.

Folha/UOL: Mas, enfim, eu não queria nem ficar falando do passado. Eu queria falar mais do presente e do futuro.
Aloysio Nunes: Eu prefiro.

Folha/UOL: Mas, só para lembrar, no caso do ex-presidente Fernando Henrique, só lembrando um caso assim, de memória. O sr. fala que os cargos estratégicos, cargos de estado, não foram colocados na negociação da fisiologia natural que existe na política brasileira. Mas, eu me lembro, em 97, na época da aprovação da emenda da reeleição, houve uma crise sobre dúvidas como havia sido aprovada a emenda, a gente sabe. E, logo em seguida, a crise foi debelada. O Ministério da Justiça, do qual até o sr. foi titular, foi entregue à Iris Rezende, que não tem uma fama de ser um grande jurista, do PMDB. O PMDB, daí, no Congresso, ajudou a não ter CPI. Outro cargo importante que não teria sido dado nunca para essa pessoa foi para Eliseu Padilha, do PMDB, o Ministério dos Transportes. Então, também havia uma certa negociação, não é?
Aloysio Nunes: O PMDB fez parte do governo Fernando Henrique desde o começo. Desde o começo.

Folha/UOL: Mas esses cargos aí...
Aloysio Nunes: Eu, inclusive, participei da polêmica envolvendo a participação do PMDB no governo Fernando Henrique, pois eu era do PMDB no início do governo Fernando Henrique. O PMDB, desde o início, esteve no governo. O PMDB, que era presidido pelo senador Luiz Henrique, se comprometeu em apoiar o programa de reformas do presidente Fernando Henrique. Graças, inclusive, a este apoio, nós conseguimos aprovar mais de duas dezenas de emendas constitucionais que mudaram o país.

Folha/UOL: Mas vamos falar para frente. Arthur Virgílio é um membro importante do seu partido e tem dito que vai, talvez, até se afastar um pouco do PSDB porque está insatisfeito de como o partido vem conduzindo determinados temas. Sobretudo a reforma do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] dentro do Congresso. Reclama muito do PSDB de São Paulo, o seu. O que está acontecendo?
Aloysio Nunes: Olha, a reforma do ICMS está se encaminhando para ser uma contrarreforma. Porque a ideia original era de unificar as alíquotas do ICMS nas transações interestaduais. O objetivo era esse, com um prazo que convergisse para alíquotas de 4%. Depois o governo desistiu. Veio com duas alíquotas: 4% e 7%. E se criou, estranhamente, uma alíquota de 12% para beneficiar a Zona Franca de Manaus, que já é, hoje, altamente beneficiada com incentivos de tributos federais, cujo montante, segundo o site do Ministério da Fazenda, orça em torno de R$ 22 bilhões.

Folha/UOL: Anuais?
Aloysio Nunes: Anuais. Mais do que o Bolsa Família. Então, o que a Zona Franca queria era não apenas manter esses benefícios, mas ampliá-los na alíquota de ICMS e ampliá-los em detrimento de outros estados. O que é inaceitável. Não apenas do ponto de vista do Estado de São Paulo, mas do ponto de vista do funcionamento da economia nacional. Eu acho que o Arthur Virgílio não tem razão.

Em segundo lugar, nós estamos nos aproximando, já, da convenção. É hora de entrar na batalha. Não é hora de externarmos estados d’alma. Não é hora de fazermos esse tipo de striptease político. É hora de nos engajarmos na batalha para derrotar o PT.

Folha/UOL: Já vou entrar agora na convenção. Mas, antes, deixe eu perguntar. Está havendo uma onda de criação de novos partidos no Brasil. Isso começou... Quem puxou a fila foi Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, com o seu PSD. Agora, a gente vai ter a fusão que cria, entre dois partidos, o MD, o Mobilização Democrática, com o PPS e o PMN. É possível que venha o partido Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva. Há também um partido sendo articulado pelo deputado Paulinho da Força, que deve se chamar Solidariedade. O que o sr. acha dessa onda da formação de novos partidos? É boa ou ruim?
Aloysio Nunes: Depende do novo partido. Eu acho que a senadora Marina Silva exprime uma corrente de... Eu não sei se de ideias, mas pelo menos uma sensibilidade política que se manifestou num eleitorado, numa votação muita expressiva que ela teve na eleição de 2010. Se eu não engano, coisa de 20% dos votos. Então, é natural que isso se organize e participe da política brasileira na forma de um partido. Eu acho desejável até.

O MD, partido que foi criado a partir da fusão entre o PPS e o PMN, também é um partido que tem lugar na política nacional. É um partido de oposição. Coerentemente de oposição. Mais à esquerda entre os partidos de oposição, como o PPS. Eu acho que só vai contribuir.

Folha/UOL: Agora, o fato de um partido ser criado imediatamente após o registro dado, sem ter nenhum voto, conseguir tempo de televisão a cada seis meses para fazer propaganda, fundo partidário, apenas com essas assinaturas e não tendo voto. E, depois, se perpetuando, mesmo não recebendo votos. É correto esse sistema?
Aloysio Nunes: Eu acho que se um partido obteve registro, ele tem que ter meios para se exprimir. Não tem como você permitir um partido...

Folha/UOL: Mesmo que nunca tenha votos? Tenha menos de 1% dos votos, ele tem que ter um tempo do jeito que é hoje?
Aloysio Nunes: Do jeito que é hoje, um partido que existe tem que se exprimir. Não tem como não se exprimir. Agora, eu sou a favor de que se crie uma cláusula mais draconiana do que a atual cláusula de barreira, que é o quociente eleitoral. E, sobretudo, que as regras restritivas não sejam, como é essa que o governo quer impor agora, feitas apenas para beneficiar o partido que esteja no poder. É o que está acontecendo agora, com a tentativa do governo de aprovar um projeto para inibir a candidatura da ex-senadora Marina Silva.

Folha/UOL: Esse projeto de lei que está em tramitação agora no Senado, já foi aprovado na Câmara, e que limita as facilidades para a criação de novos partidos foi suspenso, teve a tramitação suspensa pelo ministro Gilmar Mendes. O sr. acha que foi uma boa decisão o Supremo interromper a tramitação de um projeto que ainda nem foi aprovado?
Aloysio Nunes: Não é a primeira vez que isso acontece. O Supremo Tribunal Federal tem amplo poder para examinar a constitucionalidade e as ameaças à Constituição, inclusive interrompendo.

Folha/UOL: Dessa forma foi a primeira vez. Porque, nas outras formas, havia objeções específicas sobre a tramitação do projeto. Nesse caso, não havia objeção sobre a tramitação.
Aloysio Nunes: Havia, nas outras formas a que você se refere, nas outras ocasiões a que você se refere, a hipótese de inconstitucionalidades formais. Agora, existe a hipótese da inconstitucionalidade material, ou seja, da matéria do projeto afrontar uma decisão do Supremo Tribunal Federal que foi, digamos, publicada, tomada em relação ao PSD.

Folha/UOL: Daí, nesse caso, o sr. acha que foi correta a decisão do ministro Gilmar?
Aloysio Nunes: Eu acho que sim. Eu acho que sim. Havia uma ameaça. Havendo uma ameaça, cabe uma medida cautelar. Agora, o Plenário é que vai julgar.

Folha/UOL: Não quero nem me estender nisso, mas a ameaça era sobre o conteúdo do projeto?
Aloysio Nunes: Exatamente. O conteúdo do projeto. Havendo uma ameaça – uma ameaça configurada por requerimento de urgência prestes a ser votado –, cabe o que se chama uma medida cautelar. Vamos examinar com mais calmar. É isso que é uma medida cautelar. Ele não decidiu o mérito.

Folha/UOL: O Congresso tem 513 deputados e 81 senadores. Nesse caso, foi um senador, de maneira unipessoal, que foi ao Supremo, o senador Rollemberg (PSB-DF), e, sozinho, interrompeu o trabalho do Senado inteiro.
Aloysio Nunes: Claro. Ele é titular.

Folha/UOL: O sr. não vê nenhum óbice nisso?
Aloysio Nunes: Não.

Folha/UOL: Muito bem.
Aloysio Nunes: Ele defendeu um direito parlamentar. De votar, de não votar algo que contrariasse a Constituição.

Folha/UOL: Vamos falar agora, então, tocando para a frente aqui, sobre o PSDB, eleições do ano que vem...
Aloysio Nunes: Eu queria voltar ao caso do Gilmar Mendes.

Folha/UOL: Do Gilmar? Diga.
Aloysio Nunes: O que estava em causa era uma decisão, uma medida do Congresso, a votação do requerimento de urgência e consequente votação do projeto, que, se se efetivasse, por si só já criaria um enorme obstáculo à criação de um novo partido. Porque, para reverter essa decisão, seria preciso uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, que tem um tempo de tramitação longo. Enquanto isso, você inviabilizaria a criação do novo partido.

Para evitar esse prejuízo, que seria irreparável, cabe, sim, uma medida cautelar. Foi nesse sentido a decisão do Gilmar Mendes.

Folha/UOL: 2014. Tudo indica que o PSDB vai buscar o apoio do DEM, que é o seu parceiro preferencial nessa disputa do ano que vem para a presidência da República. Porém, o DEM vai entrar, se entrar nessa aliança, já desidratado – tem menos deputados para efeito de tempo de televisão, é um partido menor, assim como o próprio PSDB. Juntos, eles terão o equivalente ao que seria cerca de metade do que tiveram em 2010 de tempo de TV, porque tiveram suas bancadas canibalizadas pela criação dos novos partidos. O MD, que é o partido que nasce do PPS com o PMN, está dando indicações que pode nem apoiar o candidato do PSDB no ano que vem. Quem o sr. imagina que vai estar junto no projeto tucano para reconquistar a presidência da República no ano que vem? O PSDB...
Aloysio Nunes: Claro.

Folha/UOL: Quem mais?
Aloysio Nunes: O nosso aliado natural é quem está na oposição conosco, que é o Democratas. Outro partido que soma conosco na oposição é o MD. Nós gostaríamos que viesse conosco, embora não sei ainda qual será decisão que eles vão tomar. Há outros partidos. O PDT, por exemplo, é um partido que eventualmente pudesse vir. E outros que hoje estão na base do governo e que poderão vir a se afastar daqui até a eleição. Além do mais, nós não teremos a regra da verticalização, que impões que nos estados se obedeça sempre a mesma aliança firmada para a eleição da presidência da República. E a política no Brasil se faz, em grande medida, nos estados. A ausência de verticalização poderá ensejar alianças em torno de candidaturas a governador de outros estados que venham a contribuir para a eleição do nosso candidato à presidência.

Agora, isso joga ao nosso favor, [mas] pode jogar contra também, ás vezes.

Folha/UOL: Claro. A impressão que eu tenho é... Por que eu estou perguntando isso para o sr.? Porque a impressão que se tem, olhando hoje e com a ressalva que é hoje – a eleição é só ano que vem – é que, do ponto de vista da robustez da aliança em torno do PSDB, há uma fragilidade maior em relação a 2010 porque os partidos estão menores, têm menos tempo de TV...
Aloysio Nunes: Fernando, se a simples contabilidade do tempo de televisão fosse decisivo, não precisava ter eleição. Você somaria o tempo de televisão, o Tribunal Superior Eleitoral daria uma tabela e pronto. O candidato estava eleito. Não é isso?

Folha/UOL: Mas ajuda, não é?
Aloysio Nunes: Veja, quanto tempo de televisão tinha Marina Silva? Tinha quase nada. Em São Paulo, nós vimos o [Celso] Russomanno. Tinha um tempo raquítico de televisão e quase foi para o segundo turno, não é? Então, essa coisa não é, assim, matemática.

Segundo, o PSDB tem um grande eleitorado. Ao qual pode se somar, se nós tivermos suficiente “virtù” [risos] e fortuna, como diria Maquiavel, também sensibilidades contrárias com o governo atual. Que, aliás, é um péssimo governo. É um péssimo governo. Em todos os pontos de vista, na minha opinião.

Então, nós vamos ter... Quer dizer, além do eleitorado nosso, que permitiu que nós elegêssemos um número muito importante de governadores nos principais estados, que permitiu que nós tivéssemos um bom resultado nas eleições municipais desse ano que passou, ganhamos lugares onde a nossa posição era fragílima. Manaus é um deles. A posição que tivemos. Tivemos uma excelente candidatura, um excelente resultado em Teresina. Tivemos um bom resultado no Recife. O partido é um partido forte. E um eleitorado forte. Talvez um eleitorado ainda mais forte do que o partido.

Em grande medida, nós somos um eleitorado em busca de um partido, nesse sentido. Falta-nos um pouco mais de organicidade e capacidade de comando e formulação. Mas, o eleitorado nosso é grande, é importante e é expressivo. Independentemente do tempo de televisão que se tenha.

Folha/UOL: Alguns aliados tradicionais do PSDB, como o PPS, agora MD, podem, eventualmente, apoiar um candidato que diz que vai estar no campo da oposição, que é Eduardo Campos, do PSB. Estrategicamente falando, seria desejável, até, que houvesse algum reforço para Eduardo Campos vir de fato a ser candidato ou não faz diferença?
Aloysio Nunes: Eu acho desejável que Eduardo Campos seja candidato. Quanto mais amplo for o cardápio oferecido ao eleitor na hora de decidir, melhor para a democracia.

Folha/UOL: Aliás, quais candidatos o sr. acha que estarão disputando, com alguma relevância, a presidência da República no ano que vem?
Aloysio Nunes: O candidato do PSB, Eduardo Campos. A candidata Marina Silva. O candidato do PSDB, que tudo indica que será o senador Aécio Neves. E, evidentemente, a presidente Dilma. Quantos virão... Fala-se do Fernando Gabeira pelo PV. Não sei. Seria também um candidato importante, interessante.

Folha/UOL: O sr. falou na candidatura, pré-candidatura, do senador Aécio Neves, de Minas Gerais, do PSDB, à presidência da República. Em que grau o sr. colocaria a candidatura hoje? Ela já é irreversível? É ele mesmo o nome do PSDB?
Aloysio Nunes: Eu acho que tudo converge para a candidatura do Aécio Neves. Agora, evidentemente, não é candidato ainda. Ele precisa formular o seu projeto, constituir a sua equipe, mobilizar o partido, organizar o partido, que tem algumas seções que hoje estão muito debilitadas, para então se tornar um candidato. Ele mesmo não quer adiantar esse relógio.

Folha/UOL: Que tipo de engenharia na montagem da chapa deve ser feita? Deve ser repetido o que em algumas vezes se tentou com êxito? Com o Fernando Henrique e, na época, PFL, agora Democratas? Ou não necessariamente. Pode ser uma chapa apenas do PSDB?
Aloysio Nunes: Eu acho sempre melhor ter uma chapa de composição. Atrair um outro partido para compartilhar a campanha, os encargos e somar.

Folha/UOL: Nesse caso, o preferencial é o Democratas?
Aloysio Nunes: Claro. Não vou dar de barato que o Democratas vai apoiar o PSDB porque o Democratas poderá ter, também um candidato a presidente da República. Mas eu desejaria muito, e seria natural, que esses dois partidos que hoje convivem na oposição possam caminhar juntos nas eleições.

Folha/UOL: O que foi possível ouvir aqui dos seus colegas de partido aqui em Brasília, enfim, dentro do PSDB é que, talvez, também fosse desejável fazer uma chapa só do PSDB, visto que Aécio Neves é de Minas Gerais e a seção paulista do PSDB é sempre muito forte. [Que o vice] fosse um nome do PSDB de São Paulo. E o seu nome sempre é citado para essa vaga de candidato à vice-presidente da República. Qual a sua opinião a respeito?
Aloysio Nunes: Eu acho desejável que se tenha uma composição com outro partido.

Folha/UOL: Então o sr. não gostaria de ser candidato à vice-presidente?
Aloysio Nunes: Sinceramente, não.

Folha/UOL: Por quê?
Aloysio Nunes: Porque eu sou senador. Fui eleito com uma grande votação no meu estado. Tenho vocação para o trabalho parlamentar. Gosto do trabalho parlamentar. Gosto de ser senador.

Por outro lado, o cargo de vice-presidente é um cargo que não sei se teria muito sentido continuar existindo. Sinceramente.

Folha/UOL: Por quê? Para que serve um vice-presidente?
Aloysio Nunes: A função de o vice-presidente vir a substituir ocasionalmente o presidente num caso de impedimento temporário.

Folha/UOL: O sr. acha obsoleta essa função?
Aloysio Nunes: Eu acho. Assume o presidente da Câmara. Se for caso de um afastamento, de uma renúncia ou morte, se faz outra eleição, se não tiver ultrapassado a metade do mandato. Se não, faz a sucessão pela própria presidência da Câmara. Não vejo necessidade. Mas isto é uma teoria que não terá menor vigência no mundo prático. Apenas um sentimento meu, pessoal. Não estou fazendo essa proposta e nem tenho proposta de emenda constitucional para isso.

Mas o fato é que eu gosto do meu trabalho. Trabalho parlamentar. Me dou bem no Senado.

Folha/UOL: A gente ouve muito, e vê também, que dentro do PSDB há muito dissenso, às vezes, talvez exagerado para um partido que deseja voltar ao poder. Há uma anedota que a gente ouve aqui em Brasília dizendo que o maior inimigo do PSDB tem sido o próprio PSDB. O sr. Concorda?
Aloysio Nunes: Não. Não creio que haja tanto dissenso, talvez haja falta de consenso, mas tanto dissenso não [risos]

Folha/UOL: Por exemplo, vou citar o caso de um líder do seu partido que é ex-governador, ex-prefeito, ex-senador José Serra. Ele tem sido realmente ambivalente nos últimos tempos em relação ao rumo que o partido deve tomar e em relação à candidatura posta de Aécio Neves. Que rumo deve tomar José Serra?
Aloysio Nunes: Pergunte a ele, Fernando.

Folha/UOL: O que o sr. acha?
Aloysio Nunes: É só você perguntar a ele. É fácil, pergunte, converse com ele.

Folha/UOL: O sr. acha que José Serra vai estar presente na convenção nacional do PSDB, no sábado, dando apoio a Aécio?
Aloysio Nunes: Não sei, é o caso de se perguntar a ele.

Folha/UOL: Deveria estar?
Aloysio Nunes: Pergunte a ele.

Folha/UOL: Mas o sr. acha desejável que ele esteja?
Aloysio Nunes: Eu acho que o Serra é um nome muito importante no nosso partido. É um nome que tem uma historia de vida, uma vida politica riquíssima, é um dos poucos políticos que vêm ainda da época anterior ao golpe de 64, atravessou a resistência e contribuiu para a edificação do Brasil democrático, nos vários cargos em que ele ocupou. É um nome importantíssimo e que eu gostaria muito q estivesse engajado no PSDB. Onde, como, somente a sensibilidade dele e o desejo dele poderá dizer. O meu desejo é que ele esteja plenamente engajado no nosso partido em todas as batalhas.

Folha/UOL: Uma ausência dele, no sábado, na convenção nacional, quando será eleito Aécio Neves presidente nacional do PSDB, agora, 18 de maio, vai ser interpretada de várias formas, certamente muitas delas negativas em relação à unidade do partido.
Aloysio Nunes: Veja, o Serra não ocupa hoje nenhum cargo de direção partidária.

Folha/UOL: Deveria ocupar?
Aloysio Nunes: Não sei nem se ele tem vontade de ocupar cargo de direção partidária. Nem sei se é o desejo dele ocupar cargo de direção partidária. O fato é que ele não ocupa, o fato é que não influiu em nada para a composição da chapa que irá disputar as eleições é nem sei se deseja influir. Ele não tem nenhum poder de vetar ou de impulsionar nenhuma candidatura. Ele está, como dizem os franceses, na reserva da República. E tem o tempo dele, o tempo dele de avaliar, de pensar, de sentir novamente aonde ele vai se inserir no processo político, o fato é que ele é um politico, um militante politico. Agora, onde ele vai se sentir mais útil, mais feliz ele tem que, é uma decisão que cabe a ele tomar no tempo que é dele. Eu não faço nenhum tipo de pressão sobre o Serra, acho que não é licito a nenhum de nós, seus amigos e seus companheiros, fazer.

Folha/UOL: O que Aécio Neves poderia fazer para conquistar o apoio de José Serra?
Aloysio Nunes: Não sei. Eu não sou candidato à Presidência da República, se eu fosse eu faria, eu saberia o que fazer, mas o Aécio também é um homem que tem as suas, a sua estratégia, a sua sensibilidade, a sua forma de fazer política. É só perguntando a ele, Fernando, eu não sou porta voz de ninguém a não ser de mim mesmo, e da minha bancada quando sou autorizado por ela.

Folha/UOL: Mas veja só, então deixa eu perguntar o seguinte. Se Aécio não consegue o apoio explícito de José Serra, é ruim para o PSDB, não é? Ou não?
Aloysio Nunes: Bom, não é. Mas o que nós queremos é unirmos todos, nos unirmos todos para derrotar o PT, e o Serra estará presente nessa luta. Não sei em que posição, mas estará.

Folha/UOL: Até fora do PSDB?
Aloysio Nunes: Não sei. Só perguntando a ele.

Folha/UOL: O sr. acha que Aécio Neves é o melhor nome disponível hoje dentro do seu partido para ser candidato a presidente?
Aloysio Nunes: O Aécio tem grandes qualidades politicas. Ele tem uma experiência...

Folha/UOL: Mas é o melhor na atual circunstância?
Aloysio Nunes: Na atual circunstancia, entre aqueles que têm viabilidade politica dentro do PSDB, eu acho que sim.

Folha/UOL: Os que têm viabilidade política dentro do PSDB?
Aloysio Nunes: É.

Folha/UOL: Isso significa que pode ter alguém dentro do PSDB que não tenha viabilidade interna no partido e poderia ser melhor que ele?
Aloysio Nunes: O PSDB é um partido que tem muitos quadros, e quadros de grande valor. Hoje o partido converge para  a candidatura de Aécio Neves, que é um político  de grande experiência parlamentar, que foi um excelente governador de Minas Gerais, com uma liderança incontestável no seu Estado, a tal ponto que derrotou o PT com uma aliança politica em Belo Horizonte, é excelente de campanha e tem disposição para isso. E pode ser um grande presidente da República se for eleito.

Folha/UOL: Ele está com vontade de ser candidato?
Aloysio Nunes: Eu não tenho duvida nenhuma

Folha/UOL: Na eventualidade dele dizer que não quer ser mais candidato, o PSDB tem outros nomes à disposição?
Aloysio Nunes: Tem, eu, por exemplo [risos].

Folha/UOL: Quem que o senhor acha se ele não tivesse disposto, quem poderia ser?
Aloysio Nunes: Eu não sei, eu não sei, mas há outros nomes bons no partido, amas eu não quero aqui fazer esse tipo de especulação no momento. Mas há muitos nomes.

Folha/UOL: Dentro do PSDB de São Paulo já ouvi varias especulações entre outras seria bom que o próprio governador de SP, Geraldo Alckmin, fosse candidato a presidente e José Serra candidato ao governo de SP. O que o senhor acha dessa hipótese?
Aloysio Nunes: Eu acho uma hipótese cerebrina.

Folha/UOL: O que o sr. poderia elaborar a respeito dessa hipótese cerebrina?
Aloysio Nunes: Eu acho que uma hipótese de ficção política, sinceramente. Eu não sei com base em que esse tipo de especulação é construída. O governador Geraldo Alckmin tem dito e tem dado mostrar que é candidato à reeleição. E sendo candidato à reeleição nós todos ficaremos com ele. Eu estarei, o Serra estará, todos nós estaremos com ele.

Folha/UOL: As notícias sobre a insatisfação, portanto, da seção paulista do PSDB o sr. acha que serão superadas? A respeito de Aécio Neves.
Aloysio Nunes: A insatisfação paulista do PSDB em relação a Aécio Neves é, em grande parte, uma criação do espírito. Ele foi muito bem recebido em São Paulo, quando esteve lá na convenção. Agora, ele precisa evidentemente conquistar o eleitorado de São Paulo, precisa ter na sua campanha eleitoral, se for candidato a presidente, uma mensagem que cative o eleitorado de São Paulo, o eleitorado do PSDB. Quem é que está fazendo obstáculo na seção paulista à candidatura do Aécio Neves? Ninguém, rigorosamente ninguém. Algum obstáculo, alguém que diga ‘não quero Aécio Neves, vou me opor a ele, vou à convenção me opor a ele? Ninguém. Então por isso é que essa oposição paulista...

Folha/UOL: Mas muita gente está se abstendo em ajudar..
Aloysio Nunes: .. é uma criação do espírito.

Folha/UOL: Mas veja só, muita gente tem adotado uma posição de se abster de ajudar. Conversamos aqui agora sobre José Serra.
Aloysio Nunes: José Serra acaba de disputar uma eleição a prefeito de São Paulo, foi derrotado na eleição, embora tivesse tido uma excelente votação. Perdeu por várias razões que não vale aqui, não cabe aqui enumerar, e tem o seu tempo pra decidir. E eu quero insistir o seguinte. Eu não sou porta-voz de José Serra. Eu sou Aloysio Nunes Ferreira Filho, um homem de 68 anos, de vários mandatos parlamentares na minha vida, exerci cargo executivo, e eu não quero ficar o tempo todo especulando o que outros políticos que eu respeito, de quem sou amigo, de quem sou companheiro, poderão fazer ou deixar de fazer. Eu quero falar sobre mim, fora isso não me interessa.

Folha/UOL: O sr. vai estar na convenção em 18 de maio, em Brasília que vai eleger o novo presidente do PSDB?
Aloysio Nunes: Vou estar na convenção.

Folha/UOL: O sr. faz parte da executiva? Quem de São Paulo vai fazer parte da executiva?
Aloysio Nunes: Não sei, não sei.

Folha/UOL: Não tá definindo ainda?
Aloysio Nunes: Não, ainda não. O senador Aécio Neves deve conversar com o Governador Alckmin por esses dias a esse respeito.

Folha/UOL: Certamente o que se fala é que haveria um nome, um deputado de São Paulo, possivelmente que poderia ocupar um cargo na executiva  Essa que é a ideia?
Aloysio Nunes: Eu acho que a executiva deve ser uma executiva operacional, de gente com capacidade de trabalho, com inteligência politica, com energia para ajudar no processo de mobilização e de organização do partido. Se é de são Paulo, não é de São Paulo, pra mim não é uma coisa relevante.

Folha/UOL: O sr. acabou de dizer que o senador Aécio precisa encontrar um discurso pra cativar o eleitorado de São Paulo.
Aloysio Nunes: O eleitorado do Brasil, no geral...

Folha/UOL: Mas no caso aí a gente estava falando de São Paulo. Que embocadura deveria ter esse discurso?
Aloysio Nunes: Olha, eu acho que a embocadura do discurso do PSDB deve remontar aos valores que cativam, que mobilizam o eleitorado do PSDB. O PSDB é um partido que cultiva os valores democráticos. É um partido, do ponto de vista politico, de uma sensibilidade mais liberal, do ponto de vista da visão que tem da relação entre Estado e economia, Estado e sociedade...

Folha/UOL: Capital e trabalho.
Aloysio Nunes: Capital e trabalho. É um ponto de vista mais liberal. É um partido com forte sensibilidade para a questão social, para a questão da igualdade. E é um partido também que já demonstrou que tem, que cultiva muito os valores da eficiência, da governabilidade, do ponto de vista da eficiência, da capacidade de realização. São basicamente estes valores que nós devemos, na nossa campanha, traduzir ou explicitar durante o nosso, nos termos do nosso discurso eleitora. E sobre cada uma desses eixos nós temos críticas contundentes a fazer em relação à gestão atual do PT. Então, ao mesmo tempo, a crítica e o projeto positivo em torno dessas três grandes questões: eficiência, instituições, democracia, liberdade individual e igualdade.

Folha/UOL: Nessa área do discurso o PSDB...
Aloysio Nunes: Nós temos palavra de crítica ao governo atual e de proposição em torno desses três eixos, essa é a minha opinião.

Folha/UOL: O PSDB usou de maneira tímida, pra dizer o mínimo, o legado deixado pelos 8 anos do governo Fernando Henrique, em algumas eleições passadas e até recentes. Foi correto ou foi errado?
Aloysio Nunes: Eu acho que não foi bom deixar de lado o legado. Embora eu tenha a dizer que na última eleição presidencial, em nenhum momento o nosso candidato, José Serra, se intimidou ou adotou posição defensiva em relação às questões que foram levantadas pelo PT como criticas ao governo Fernando Henrique. Especialmente nos debates.

Folha/UOL: Fernando Henrique deve estar presente na eleição de 2014? Eu digo, o legado dele?
Aloysio Nunes: O legado seguramente sim, seguramente sim. Isso nos identifica

Folha/UOL: Entrevistei o presidente Fernando Henrique aqui, neste espaço, no final do ano passado, 2012, e ele falou objetivamente que achava que Aécio Neves deveria ir adiante e fazer um discurso já mais objetivo como pré-candidato. Aí houve uma dúvida dentro do partido, o próprio Aécio tem resistido a isso. É obvio que ele é o pré-candidato, mas não fala de maneira tão arrojada, talvez, como propôs o ex-presidente Fernando Henrique. O que que o sr. acha que deveria ser o ajuste entre essas duas propostas?
Aloysio Nunes: Eu acho, primeiro lugar, que nós não devemos entrar na linha de que o PT procura nos atrair, que é a comparação entre Lula e Fernando Henrique. Não é isto que o eleitor quer saber, não é isso que interessa ao eleitor brasileiro. O Fernando Henrique não é candidato, ele já fez, deixou uma herança positiva e benéfica pro Brasil, e o Lula deixou uma herança difícil, complicada para sua própria sucessora, que foi a Dilma. Mas o presidente Fernando Henrique não é candidato e o Lula também não é candidato, de modo que não vamos cair nessa provocação. Segundo, o tom do discurso do Aécio depende muito do temperamento. Eu sou mais agressivo, ele é mais cauteloso. Mas, necessariamente, na presidência do partido, ele terá que desenvolver um discurso de crítica mais dura, que aliás já começou a pronunciar nos últimos meses, no Senado e fora do Senado.

Folha/UOL: Deixe, sobre o ex-presidente Fernando Henrique, perguntar para o sr. Ele tem sido muito presente nos debates sobre drogas. Tem feito a proposta objetiva de descriminalizar certos usos de certas drogas. Qual é a sua posição a respeito e o sr. acha que o PSDB deveria tomar alguma posição sobre isso?
Aloysio Nunes: Eu fiz um discurso a esse respeito em 2002, quando a atual lei foi votada na Câmara. Um discurso em que eu expliquei a minha posição, que eu tenho a impressão que só foi acompanhado pelo Fernando Gabeira e mais ninguém [risos]. Neste discurso, em 2002, eu digo com toda clareza que a criminalização do usuário, ainda que a pena seja branda – não haja pena de prisão mas, de qualquer maneira, há uma sanção penal –, é uma aberração porque eu estaria penalizando alguém que é a própria vítima.

Então, essa é a minha posição. Eu sou contra a criminalização.

Folha/UOL: O PSDB deveria ter uma posição partidária sobre isso, talvez?
Aloysio Nunes: Eu acho que partidária não. É deixar essa questão amadurecer mais dentro do partido. E na sociedade.

Folha/UOL: Outros itens que, em geral, aparecem em campanhas e são muito polêmicos, além das drogas: Flexibilização da lei que regula os casos que se pode fazer aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo, que o Supremo já tem uma decisão, mas ativistas acham que é necessário fazer mais uma lei. Qual é a sua posição e como isso deve ser abordado numa campanha?
Aloysio Nunes: Primeiro é não deixar uma campanha girar em torno desse tema porque não é algo que esteja, hoje, na agenda política brasileira, algo que precisa ser resolvido agora e, sobretudo, por um presidente da República. Há questão que são decididas pelo Congresso e, aliás, nós temos no Senado, hoje, como um fruto de um trabalho de uma comissão de juristas criadas pelo presidente Sarney, teremos a oportunidade decidir a respeito desse tema do aborto. Manter ou não o tipo penal do aborto no nosso Código Penal.

Eu, quando fui candidato ao Senado, Fernando, fui entrevistado nesse mesmo espaço só que lá em São Paulo. E eu deixei clara também a minha posição. Eu acho que a mulher que faz o aborto, faz o aborto muito a contragosto. Faz o aborto porque é premida a fazê-lo em função de circunstâncias que não cabe ao juiz criminal julgar. Eu me lembro de um episódio da minha vida como defensor público de um dia que defendi uma mulher que era acusada de ter feito aborto, um processo criminal. A prova era evidente. Era uma mulher, empregada doméstica, que tinha levado o aborto até um período que, enfim, antes de ele se tornar irreversível com medo de perder o emprego se tivesse o filho. A prova era evidente. Concluída a audiência, eu conversei com o juiz e com o promotor. “É verdade. Ela fez o aborto, é culpada. Mas nós vamos condená-la? Vocês vão condená-la?” Não. Não a condenaram. Porque não é humano, não é correto, não é justo você aplicar uma pena prevista no Código Penal por uma mulher que fez o aborto. Eu acho que isso leva a aumentar o caso de abortos clandestinos que são praticados por mulheres pobres, mulheres que não podem pagar clínicas particulares, que são vítimas de uma série de sequelas. Enfim, eu acho que se deve tirar do Código Penal essa questão.

Quanto ao casamento de pessoas do mesmo sexo, por que não? Se duas pessoas se amam e querem constituir uma vida em comum, por que não? Até usei a expressão, nessa entrevista a que me referi, que é de uma música popular. Ela diz: “Toda forma de um amor vale a pena”.

Folha/UOL: Como líder do PSDB no Senado, o sr. acompanhou a eleição do atual presidente do Senado, Renan Calheiros, do PDMB de Alagoas. Havia uma expectativa de uma votação a favor do candidato então de oposição, Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso. Essa expectativa não se confirmou, a votação é secreta. E há uma percepção dentro do Senado que muitos votos que seriam do PSDB acabaram não sendo conferidos a favor de Pedro Taques? O que aconteceu?
Aloysio Nunes: Aconteceu o que acontece muitas vezes. Pessoas falam uma coisa e fazem outra. Eu fiquei muito contrariado. Mas muito. Porque essas evidências, evidentemente, têm fundamento. Se não, a votação de Pedro Taques teria sido muito maior do que teve. Muita gente que se comprometeu – não apenas do PSDB, mas de outros partidos – a votar no Pedro Taques, não votaram. Não cumpriram a palavra. Isso, infelizmente, acontece. Acho deplorável. Detesto isso, mas aconteceu.

Folha/UOL: No caso do seu partido, o sr. estima que quanto foi, mais ou menos, a quebra?
Aloysio Nunes: Não sei. Não consigo estimar, não.

Folha/UOL: Mas houve uma quebra?
Aloysio Nunes: Houve uma quebra. Sem dúvida, houve.

Folha/UOL: Isso não é um sinal da fragilidade do maior partido de oposição? Que não consegue manter a palavra em um caso tão claro como esse, que era a disputa entre o governo e a oposição?
Aloysio Nunes: Não havia essa disputa entre governo e oposição de maneira tão claramente uma vez que o Democratas, por exemplo, que é um partido de oposição, votou com o Renan Calheiros.

Folha/UOL: Não. Mas o líder do Democratas também falou contra. O senador José Agripino.
Aloysio Nunes: Votou em Renan Calheiros.

Folha/UOL: Sim. Mas ele falou contrariamente a candidatura antes.
Aloysio Nunes: Não sei. Vamos conferir. Mas o Democratas votou em Renan Calheiros. Havia uma dissidência no PMDB que acabou se reduzindo a uma fração mínima. Em outros partidos também, vários disseram que não votariam e acabaram votando.

Agora, eu acho que um episódio como esse, Fernando, é um episódio muito próprio daquele tipo de convivência de colégio interno, que acontece no Congresso. Especialmente, um Congresso que não tem janelas abertas. São duas cúpulas de concreto armado e você não vê a luz do dia. E que tende a estimular uma doença que Karl Marx já denunciava no livro que ele escreveu a respeito de Luís Bonaparte [“O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”], que é o cretinismo parlamentar. Ele dizia: “A partir de 1848, uma nova doença assola a Europa: o cretinismo parlamentar”. Isso pode ocorrer também entre nós.

Folha/UOL: O sr. está satisfeito com o grau de oposição que o PSDB tem oferecido ao governo?
Aloysio Nunes: O PSDB não titubeia na oposição ao governo nas questões que envolvem temas políticos. Eventualmente, nós podemos fazer entendimento para aprovar uma ou outra matéria, como agora, na semana passada, o prazo para votar uma medida provisória que aumentava o valor da Bolsa Família estava preste a se expirar e nós concordamos em votá-la mesmo rompendo um interstício que deve mediar entre a comunicação do projeto que veio da Câmara e a votação no Senado. Isso acontece. Acordos em torno de medidas pontuais... Isso acontece. É normal em qualquer parlamento do mundo. Até na briga entre republicanos e democratas nos Estados Unidos isso acontece.

Agora, o PSDB é um partido que tem um número de parlamentares reduzido. E, dentro das limitações, de uma oposição parlamentar que é quase que uma gota no oceano de uma maioria, em grande parte, fisiológica, nós fazemos tudo que está ao nosso alcance. E, em nenhum momento, nós transigimos com o governo nas questões políticas fundamentais.

Folha/UOL: Mas, veja só, nesse caso que nós falamos aqui agora, sobre o projeto de lei que limita a criação de novas legendas no país. Na Câmara dos Deputados, o relator do projeto, até onde eu entendi, foi do seu partido, não é isso?
Aloysio Nunes
: Não sei.

Folha/UOL: É... se não me engano. E teve também o outro caso, que foi aquela emenda constitucional, esse sim foi do seu partido, aquela Proposta de Emenda Constitucional que limitaria os poderes do Supremo Tribunal Federal. Era uma pessoa do PSDB.
Aloysio Nunes
: Sim, mas essa não é a posição do PSDB. Nós não somos um partido bolchevique do tempo do Stálin, em que você pensou diferente cortamos a cabeça.

Folha/UOL: Mas aí pensou muito diferente
Aloysio Nunes
: Muito diferente. Tanto é que essa proposta foi unanimemente rejeitada pelo partido. Aliás, essa proposta que limita os poderes do Supremo é uma expressão do baixo clero da Câmara dos Deputados, não é uma proposta que conte com o apoio orgânico de nenhum partido, muito menos do nosso. Muito menos do nosso. Agora, eu não posso proibir um relator de determinada matéria de expor o pensamento dele. Não posso proibir, o partido não pode proibir. Mas o partido jamais aprovará uma medida como essa. Jamais.

Folha/UOL: Mas esse tipo de divergência de um deputado do seu partido não é um pouco além do que poderia se esperar?
Aloysio Nunes
: Eu não acho desejável. Mas é um projeto que não tinha a menor viabilidade. Essa emenda constitucional não tem a menor viabilidade, ela vai morrer ali. Ela sequer passará pela comissão especial da Câmara, muito menos irá ao plenário. Então é algo que não tem nenhuma importância do ponto de vista do embate entre governo e oposição. Mesmo porque a maioria dos partidos, inclusive da base governista, é contra.

Folha/UOL: A impressão que se tem é que, dentro da base do governo atual, quem faz maior oposição à base do governo é a base do governo. Porque hoje, inclusive, segunda-feira, 13 de maio, está para ser votada ou não uma medida provisória que se refere aos portos. E o governo, dentro de sua base, não está conseguindo votar. Por que o sr. acha que isso acontece?
Aloysio Nunes
: Primeiro, porque o governo não governa. Não faz aquilo que tem que fazer no trabalho da sua relação com o Congresso. Quer dizer, o decisionismo autoritário da presidente República acha que tudo pode ser resolvido por medida provisória, o que é uma burrice. Medida provisória, quando trata de uma questão complexa, ela tem a ameaça da perda de validade em razão do decurso do prazo, o que não aconteceria, por exemplo, se essa mesma medida tivesse sido encaminhada ao Congresso por um projeto de lei, ainda que com urgência constitucional, o que obrigaria sua votação em 45 dias na Câmara e, depois, no Senado sob pena de trancamento de pauta.

Segundo: o governo, ao impor uma medida provisória dessa natureza, quis... Não teve um diálogo franco e aberto com os interesses envolvidos nessa medida provisória, nas medidas que ele propôs, o conteúdo da medida provisória. [Houve] falta de diálogo.

Terceiro: se você pegar um aspecto dessa medida provisória, um aspecto importantíssimo, que é o aspecto de os terminais de uso privativo movimentarem cargas de terceiros. Essa medida foi proposta em 2009 no Senado Federal pela senadora Kátia Abreu [do PSD-TO]. O projeto de lei da senadora previa exatamente isso. Esse projeto foi votado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, teve um parecer furibundo do senador governista, contrário [ao projeto], Jorge Viana [do PT-AC]. Por que o governo não aprovou aquele projeto, não apoiou aquele projeto? Já teria resolvido metade dos problemas, ou dois terços dos problemas. E aí, o governo parece... Eu não diria que é um macaco em loja de louças. Esse governo tem uma loja de louças portátil, ele leva, põe assim e quebra. Foi assim na MP... No Código Florestal, foi assim na batalha dos royalties. O governo deixa chegar no extremo as coisas sem se envolver. Sem trabalhar enquanto governo na sua relação com o Congresso. Depois, tem que se limitar a recolher os cacos.

Folha/UOL: Apesar de tudo isso, a popularidade da presidente Dilma Rousseff, segundo todas as pesquisas, é muito alta. Ela é mais alta do que todos os seus antecessores civis pós-ditadura militar nessa época do mandato. Ela supera, inclusive, o antecessor Lula. Há uma situação de bem-estar ainda, para a população, dizem as pesquisas, por conta do nível de emprego alto. Apesar das dificuldades de infraestrutura, de crescimento econômico baixo, a chance de haver uma onda de insatisfação pelo menos é incerta, segundo todos os indicadores disponíveis, com a ressalva de que ainda falta um tempo razoável...
Aloysio Nunes
: Essa ressalva é crucial.

Folha/UOL: O sr. acha que, a se manter esse cenário no ano que vem, ele pode mudar mas pode ser mantido, isso torna inviável a vitória da oposição?
Aloysio Nunes
: Não. Torna a tarefa mais difícil, mas eu não sou adepto do materialismo vulgar [risos], que acha que apenas a economia decide todo o comportamento da política em um país do tamanho do nosso, de um eleitorado desse tamanho, heterogêneo, cheio de demandas, não satisfeitos em outros aspectos da vida, que não apenas o aspecto do emprego, como a segurança pública, a saúde, o tema da eficiência governamental que se reflete na tragédia da infraestrutura. Até o próprio estilo da presidente de repente cansa, de repente cansa. As pessoas pegam abusos de determinado jeito de se comportar.

Folha/UOL: Por que eu perguntei? Porque se o sr. pegar as três eleições vencidas pelo PT, 2002, 2006 e 2010, a de 2014, a julgar pelo cenário de hoje é a que seria menos complexa. Porque em 2002 era novidade, havia dúvidas sobre Lula. Em 2006, havia a sombra do mensalão. Em 2010, era uma pessoa que nunca tinha disputado uma eleição na vida e que concorreu e acabou ganhado, é a presidente Dilma. Em 2014, já é uma pessoa que está no cargo, que é muito bem avaliada, pelo menos tem levado isso para lá. É a situação mais tranquila para o PT e, talvez, a mais difícil para o PSDB?
Aloysio Nunes
: Nessas três eleições você teve muita água correndo para o moinho do PT, nas eleições às quais você se refere. A primeira, um certo cansaço com o governo Fernando Henrique, a própria crise que se abateu sobre o país como resultado de uma expectativa de que Lula no governo poderia aplicar o programa que ele tinha na oposição. Tudo isso... Agora, nas três eleições, o PT teve que ir para o segundo turno e teve que brigar, teve que suar a camisa.

Folha/UOL: Então, foram difíceis para o PT.
Aloysio Nunes
: E essa também é uma eleição muito difícil, muito difícil.

Folha/UOL: Há uma crença no PT de que essa pode ser, a depender das alianças que fizerem, da amplitude dessas alianças e de transposição do cenário econômico para 2014, a mais fácil. Eles ganham no primeiro turno pela primeira vez...
Aloysio Nunes
: Tomara que eles acreditem muito nisso mesmo! [risos]

Folha/UOL: Porque o sr. acha que esse cenário não existe?
Aloysio Nunes
: Eu acho que a eleição vai ser difícil e disputada. Pelas razões que eu disse. Pode haver uma erosão dessa situação econômica que é frágil, é frágil o crescimento baixo, a situação discal é difícil, a inflação está voltando, a inflação que atinge sobretudo as classes de poder aquisitivo mais baixo é mais cruel, e existem uma infinidade de demandas não satisfeitas. Uma infinidade de demandas para o governo que irá completar três mandatos consecutivos.

Folha/UOL: Essa lógica existe também em São Paulo para o PSDB, em certa medida?
Aloysio Nunes
: Existe também. É uma dificuldade que a gente tem que enfrentar.

Folha/UOL: O sr. acha que vai ser difícil a reeleição do governador Geraldo Alckmin [do PSDB de São Paulo]?
Aloysio Nunes
: Não é um passeio. Longe de ser um passeio, uma eleição dura, uma eleição que vai ser muito disputada. Não é? Agora, no caso do governador Geraldo Alckmin, é um governo exitoso e o governador Geraldo Alckmin tem altos índices de popularidade também. Então, passeio não é. Agora, na eleição do Alckmin para governador [em 2010], por pouco o Mercadante, que não é exatamente o rei da popularidade, ele por pouco não foi para o segundo turno. Então é uma eleição difícil. Calçar salto alto não é bom para ninguém.

Folha/UOL: Muito bem. Senador Aloysio Nunes Ferreira, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Aloysio Nunes
: Obrigado também.