Topo

Após protestos, Dilma fez menção aos atos em 12 dos seus 18 discursos

Presidente Dilma Rousseff fala durante o encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Itamaraty - Ueslei Marcelino/ Reuters
Presidente Dilma Rousseff fala durante o encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Itamaraty Imagem: Ueslei Marcelino/ Reuters

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

06/08/2013 06h00

Após a eclosão da onda de protestos no país, as manifestações viraram tema recorrente nos discursos da presidente Dilma Rousseff. Dos 18 que ela fez no período, em 12 ela fez menção aos atos, mesmo quando não tinham relação direta com o tema principal do evento do qual participava.

O levantamento foi feito pelo UOL com informações do site do Palácio do Planalto e tomou como ponto de partida a ocasião em que a petista se referiu pela primeira vez aos protestos, num discurso em 18 de junho no Planalto, até esta segunda-feira (5). Foram contabilizados três discursos de junho, os 12 realizados no mês de julho e os três feitos até o momento em agosto.

Os discursos presidenciais também ficaram mais longos no período, quando a presidente viu a sua popularidade derrapar. Do alto dos 79% de aprovação recorde que detinha em março, segundo pesquisa CNI/Ibope, Dilma viu o percentual de quem aprovava a sua maneira de governar despencar para 45% em julho.

Na comparação mês a mês, em junho, quando as manifestações começaram a tomar corpo, Dilma fez 17 discursos, num total de 374 minutos (equivalente a mais de seis horas). Em julho, foram 12 discursos, totalizando 307 minutos (mais de cinco horas). Ao olhar maio, porém, mês anterior aos protestos, haviam sido 13 discursos ou declarações, mas que somaram apenas 263 minutos (pouco mais de quatro horas).

Se comparados com os mesmos meses de 2012, a diferença é ainda maior. Em maio daquele ano, a petista fez dez discursos, num total de 174 minutos (quase 3 horas). Em junho, mês em que o Brasil sediou a conferência Rio +20, o número de discursos foi 16, mas a presidente falou bem menos: 267 minutos (cerca de 4 horas e meia). Em julho daquele ano, foram 9 discursos, somando 112 minutos (menos de 2 horas).

“Os discursos são uma oportunidade para a presidente expressar a sua posição sobre os assuntos do momento. E ela aproveita para comentar sobre as manifestações, mesmo não tendo relação direta, porque ela sabe que isso vai repercutir fora”, avalia Reinaldo Polito, colunista do UOL e especialista em expressão verbal.

É a própria presidente, segundo o Planalto, quem finaliza os textos dos seus discursos, "a partir de minutas e informações consolidadas por seu gabinete pessoal".

Nas suas falas pós-protestos, pulularam menções a demandas recorrentes nas manifestações, como justiça social, saúde e educação, e a críticas ao sistema, como corrupção e desigualdade. Só a palavra “ruas” foi citada 18 vezes; “vozes” ou “voz”, 14 vezes. Ela também aproveitou para citar medidas do seu governo nessas e em outras áreas.

Em resposta à convulsão social, a presidente convocou às pressas governadores e prefeitos das capitais para uma reunião no Planalto para anunciar um pacote de medidas que incluía pactos em cinco áreas. Também passou a receber diversas lideranças de movimentos sociais, numa indicação da disposição do governo federal em se aproximar mais da população.

Em nota enviada ao UOL, a Secretaria de Imprensa da Presidência disse que os discursos são uma "forma de prestação de contas". Afirmou ainda que, "como uma grande parte dos discursos e das entrevistas estão vinculados a cerimônias relativas a ações de governo, e, como pela própria dinâmica da gestão, neste semestre aumentará a entrega de obras e de outras ações que estavam em preparação, a expectativa é que também aumente o número de discursos e de entrevistas."

De acordo com a nota, de janeiro a maio deste ano, foram 53 discursos (excluídas declarações breves e brindes), mesmo número em período idêntico de 2012, mas o comunicado não faz menção aos meses de junho e julho deste ano, quando aconteceram os protestos.

Dilma promete ser mais "acessível" à imprensa

Entrevistas

Normalmente avessa a entrevistas, a presidente também prometeu ser mais acessível à imprensa, fazendo inclusive mais “quebra-queixos”, jargão jornalístico que define as entrevistas coletivas improvisadas, em que repórteres se amontoam com gravadores e microfones apontados para o entrevistado.

Em julho, ela concedeu 7 entrevistas, ante 3 em junho. Desde o início do ano, foram 28, incluindo coletivas e exclusivas. No ano passado inteiro, foram 39.

Segundo a assessoria de imprensa da Presidência, as entrevistas "são concedidas de acordo com as possibilidades" da agenda de Dilma. "O objetivo da presidenta é sempre realizar o máximo possível de entrevistas que sua agenda possa comportar sem prejuízo às demais atividades."