Topo

Pizzolato falsificava documentos desde 2007; digitais e carro ajudaram a rastrear

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

05/02/2014 18h55Atualizada em 06/02/2014 11h20

A Polícia Federal contou em detalhes, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (5), em Brasília, como foi a fuga do o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no julgamento do mensalão, do Brasil.

Pizzolato usou documentos falsos em nome do irmão e passou por Argentina e Espanha antes de chegar à Itália, país do qual tem cidadania. No entanto, digitais deixadas na polícia argentina e um carro registrado no nome de sua mulher na Itália, um punto vermelho com placa de Málaga,  ajudaram a rastrear seu paradeiro. A PF e a polícia italiana informaram que o ex-diretor do Banco do Brasil não foi preso por uso de documento falso, mas a pedido do Brasil para a extradição.

Segundo os investigadores, ele faz documentos em nome de seu falecido irmão Celso Pizzolato desde 2007. Pizzolato foi preso na manhã desta quarta na Itália portando um passaporte em nome do irmão.

Fuga de Pizzolato do Brasil

  • Arte/UOL

    Pizzolato saiu do Brasil por Santa Catarina (1), atravessou a fronteira até Bernardo De Irigoyen, na Argentina (2); foi até Buenos Aires (3), de onde pegou um voo até Barcelona (4). A polícia ainda não sabe como ele entrou na Itália, mas ele foi preso em Maranello (5)

A Polícia Federal diz acreditar que Celso morreu há quase 36 anos. A PF exibiu fotos de seu túmulo durante a entrevista coletiva.

O primeiro documento rastreado pelo PF foi um RG em nome de Celso, com data de expedição de 2007. Também há CPF e título de eleitor no mesmo nome. Em 2008, foi feito um passaporte brasileiro e em 2010 foi expedido o passaporte usado para entrar na Espanha em 12 de setembro de 2013. Todos os documentos foram feitos no Estado de Santa Catarina.

Pizzolato deixou o país com o nome de Celso na cidade de Dionísio Cerqueira (SC). Entrou na Argentina em Bernardo de Irigoyen . E viajou até Buenos Aires, onde pegou um voo para Barcelona em setembro. Ele percorreu 1.300 quilômetros até chegar a Buenos Aires. 

A polícia argentina coletou foto e digitais de Pizzolato quando ele cruzou a fronteira com o nome de Celso. Essas digitais foram analisadas e se constatou que eram de Henrique, de acordo com a PF.  

De acordo com a PF, Pizzolato registrou na polícia italiana no dia 14 de setembro  a perda de documentos em seu próprio nome. Mas a PF não sabe com precisão a data e a forma que Pizzolato entrou na Itália porque não há controle de fronteira entre Espanha e Itália.

A polícia italiana informou que em 2010 um homem italiano com o nome Celso, que tinha residência no exterior, informou à Itália que iria residir no próprio país.

A mulher de Pizzolato, Andrea Eunice Haas, também já tinha solicitado residência fixa na Espanha desde 2010.

A data de falsificação dos documentos reforça a hipótese da PF de que a fuga de Pizzolato teria sido premeditada. Ele foi condenado pelo STF apenas em 2012.

A PF, com ajuda da polícia italiana, conseguiu rastrear a fuga de Pizzolato investigando sua família. Após descobrir os documentos em nome de Celso, checou nos aeroportos da América do Sul e da Europa e foram encontrados registros no nome do irmão do ex-diretor do BB.

Todo crime deixa vestígios, diz diretor da PF sobre Pizzolato

Como foi a prisão

O oficial de ligação da polícia italiana no Brasil e representante da Interpol, Roberto Donati, afirmou que a prisão foi “tranquila”.

A PF descobriu que o sobrinho de Pizzolato, Fernando Grando, um brasileiro com cidadania italiana, residia em Maranello, na Itália. A polícia italiana descobriu então um carro em nome da mulher de Pizzolato. Esse carro foi visto ontem à noite em frente da casa de Grando pela polícia italiana que fazia vigília no local. Foi vista uma pessoa sair sem trancar a porta da casa, o que gerou a suspeita de que estivesse mais alguém ali. A policia italiana então chamou e a mulher de Pizzolato atendeu. A princípio ele se apresentou como Celso. Mas após ser interrogado e a casa ser revistada, ele assumiu que é Henrique. “Ele não resistiu à prisão”, disse Donati. 

"Não sei se houve um erro específico. Todo crime deixa vestígios", disse Galloro. "Ao passar a utlizar um documento falso em nome de um irmão já falecido, ele passou a deixar rastros, a deixar vestígios."

Extradição

Nesta quarta-feira, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que irá pedir a extradição de Pizzolato.

O diretor-executivo da PF, Rogerio Galloro, afirma que não é possível afirmar se Pizzolato será extraditado. “Nossa prioridade era a captura dele. A decisão de extradição cabe à Justiça italiana”.

A PF não soube informar o tempo de análise da justiça italiana para um processo de extradição.