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Enquanto aguarda mandado, Jefferson ignora prisão e cutuca 'viúvas de Lula'

O ex-deputado e delator do esquema do Mensalão, Roberto Jefferson, em sua casa em Levy Gasparian, no Rio - Pablo Jacob / Agência O Globo
O ex-deputado e delator do esquema do Mensalão, Roberto Jefferson, em sua casa em Levy Gasparian, no Rio Imagem: Pablo Jacob / Agência O Globo

Do UOL, em São Paulo

22/02/2014 14h14

Embora esteja na iminência de ser preso, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), o delator do mensalão, ignorou o tema nas redes sociais e preferiu fazer comentários sobre o panorama político para as eleições de 2014.

Enquanto aguarda, em sua casa no município fluminense de Comendador Levy Gasparian (160 km do Rio de Janeiro), a chegada do mandado de prisão, Jefferson usou o seu blog e o Twitter para cutucar petistas e peemedebistas. A expectativa é que o mandado só seja expedido na segunda-feira (24). Policiais federais, no entanto, permanecem de campana na porta da casa de Jefferson.

O ex-deputado usou de gancho a queda na aprovação do governo Dilma Rousseff, como mostra pesquisa Ibope/Estadão divulgada ontem, para dizer que cresce dentro do PT e do PMDB o desejo de que Luiz Inácio Lula da Silva encabece a chapa para a sucessão presidencial.

“É mais lenha na fogueira que arde literalmente em praça pública para ‘queimar’ a reeleição da presidente. De grão em grão, as viúvas do Lula vão enchendo o papo. Será que o mau humor do PMDB com Dilma se restringe a cargos ou o partido foi cooptado pela ‘entourage’ lulista?”, escreveu.

Em seguida, Jefferson especulou o cenário da disputa presidencial caso Lula seja o escolhido da coalização governista. “Se Lula for cabeça de chapa em 2014, certamente virá mais à esquerda do campo político, que não é a praia peemedebista. Ou seria esse um mero detalhe?”, provocou.

Cronologia do mensalão

  • Nelson Jr/STF

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A postagem foi publicada hoje, às 11h09. Pouco antes, às 10h48, o petebista comentou sobre as conversas entre Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), ambos pré-candidatos à sucessão presidencial. 

“Ao se encontrarem mais uma vez em tão curto espaço de tempo, Aécio Neves e Eduardo Campos discutem os palanques eleitorais nos Estados e aparam arestas sobre prováveis escaramuças futuras, mas, sobretudo, mostram aos interessados que as oposições marcharão unidas em 2014, seja contra Dilma, seja contra Lula”, afirmou.

Também hoje no Twitter, Jefferson disse que, por meio de sua assessoria, não vai parar de alimentar as redes sociais e seu blog. 

Maioria já cumpre pena

Assim que for cumprida a ordem de prisão do ex-deputado , determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta sexta-feira (21), chegará a 23 o número de condenados no julgamento do mensalão cumprindo pena. No total, dos 25 réus condenados no processo, três cumprem pena alternativa e dois ainda nem começaram a cumprir a sua pena.

Os últimos a serem presos foram o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, na Itália, e o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP).

Jefferson aguardava em casa a decisão do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, sobre pedido para cumprir a sua pena de sete anos e 14 dias de prisão em regime domiciliar por conta de seus problemas de saúde. Ele alega que precisa de cuidados médicos especiais porque ainda está em tratamento contra um câncer no pâncreas, mas o pedido foi negado na sexta-feira.

O ex-deputado deverá cumprir a pena no regime semiaberto. Pela lei, penas de quatro a oito anos são cumpridas no semiaberto, em que o preso pode, mediante autorização judicial, sair durante o dia para trabalhar.

O advogado que faz a defesa de Jefferson, Marcos Pedreira Pinheiro de Lemos, afirmou ao UOL na última sexta-feira que Jefferson se entregará assim que for notificado oficialmente. "Ainda não fui informado. Quando eu for informado oficialmente, ele vai ser apresentar."

Hoje pela manhã, o político apareceu na sacada de sua casa e disse que, quando tiver um mandado, ele irá com a PF para a cadeia. É provável que ele cumpra pena em alguma penitenciária fluminense. 

Jefferson não tem direito a mais nenhum recurso no processo, e Barbosa já poderia ter mandado prendê-lo. O ministro, porém, decidiu aguardar para verificar o seu estado de saúde antes de decidir sobre o regime em que ele cumprirá a pena.

Sobre o pedido de domiciliar, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já havia se manifestado contra por entender que Jefferson pode cumprir pena numa prisão comum.

O delator

No dia 6 de junho de 2005, o jornal ''Folha de S.Paulo'' publicou uma entrevista com Jefferson na qual ele revelava a existência do pagamento de propina para parlamentares.

Segundo o então presidente do PTB, congressistas aliados recebiam o que chamou de um "mensalão" de R$ 30 mil do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Jefferson afirmou ainda que falou do esquema para o presidente Lula, mas o ex-presidente sempre negou ter conhecimento do esquema.

OUÇA TRECHO DA ENTREVISTA À FOLHA DE S.PAULO EM QUE ROBERTO JEFFERSON MENCIONOU A EXISTÊNCIA DO MENSALÃO PELA PRIMEIRA VEZ