Protestos contra a corrupção e em apoio à Lava Jato levam milhares às ruas
Milhares de manifestantes protestaram nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal, neste domingo (4), contra a corrupção e a favor da Operação Lava Jato. Sem uma pauta única, os manifestantes pediam, entre outras medidas, a rejeição às mudanças no pacote de medidas anticorrupção, aprovadas pela Câmara dos Deputados, e o fim do foro privilegiado.
Os protestos tiveram como principais alvos os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), bem como "políticos corruptos" de forma generalizada. O presidente Michel Temer foi poupado e recebeu apenas críticas pontuais nas manifestações.
Os atos foram convocados pelas redes sociais por grupos como Vem Pra Rua e MBL (Movimento Brasil Livre), os mesmos que encabeçaram as manifestações a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT). O Vem Pra Rua diz que os protestos aconteceram em 245 cidades, mas não informa a estimativa de público total.
Em São Paulo, as manifestações concentraram-se na avenida Paulista a partir das 14h; organizadores falam em 200 mil pessoas e a Polícia Militar, em 15 mil. Em Brasília, a chuva dispersou os manifestantes; a organização calcula 30 mil e a PM fala em 5.000. Em Curitiba, o ato foi em frente à sede da Justiça Federal; a organização estimou o público em 50 mil e a PM, em 8.000.
Em nota, Renan e Maia afirmaram que as manifestações são "legítimas". A Presidência da República também divulgou nota sobre os atos, afirmando que os Poderes devem estar "sempre atentos às reivindicações da população brasileira".
Chequer: impeachment foi só 1º passo
Rogério Chequer, líder do Vem Pra Rua, afirmou ao UOL na noite deste domingo que os protestos "foram um grande sucesso da democracia" e destacou o caráter pacífico das manifestações pelo Brasil. "O Brasil deu hoje uma demonstração de que o impeachment [de Dilma Rousseff] foi só um primeiro passo [de reivindicações]."
Ele disse que o grupo "está de olho" em Temer e que o governo tem "coisas boas e coisas ruins", mas que não defende a saída do presidente. "Não temos nenhuma evidência que seja suficiente para nós iniciarmos um processo mais grave que vai destruir o pouco de estabilidade que a gente conseguiu reconquistar."
Sobre as críticas a Renan, Chequer disse que ele acabou "personificando" o que os manifestantes repudiam e querem mudar na política de hoje, mas negou que o senador tenha sido o alvo preferencial.
Pacote contra a corrupção
Inicialmente, os protestos seriam contra a proposta de conceder anistia ao crime de caixa 2, articulada na Câmara. A medida, porém, foi deixada de lado pela cúpula do Congresso e pelo governo, em meio a manifestações contrárias e à crise envolvendo o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que levou à saída de Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo.
As manifestações passaram a focar, então, no pacote de medidas anticorrupção, aprovado pela Câmara na madrugada de quarta-feira (30). O texto aprovado pela Câmara, porém, sofreu diversas mudanças. Dos dez tópicos originais, apenas quatro foram mantidos --outros três pontos foram adicionados pelos deputados.
Uma das alterações prevê que juízes e promotores respondam por crime de abuso de autoridade. Os membros do judiciário e do Ministério Público criticaram a decisão. Em debate no Senado, o juiz Sergio Moro classificou a votação como "emendas da meia-noite".
Segundo críticos, a votação teria sido feita num momento de comoção nacional por causa do acidente aéreo com a equipe da Chapecoense --a Câmara nega tal motivação.
"Fora, Renan"
Além das polêmicas mudanças no pacote anticorrupção, os protestos pelo país também pediram o fim do foro privilegiado e a saída de Renan Calheiros.
Após a aprovação do pacote anticorrupção na Câmara, Renan colocou em votação no plenário do Senado um requerimento de urgência para a votação do projeto ainda na quarta-feira (30). O requerimento, porém, foi rejeitado por 44 votos a 14.
Na quinta-feira (1º), o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu abrir ação penal e transformar em réu o presidente do Senado pelo crime de peculato (desvio de dinheiro público). É a primeira vez que Renan se torna réu em uma ação penal.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República acusa o senador de ter desviado parte de sua verba parlamentar, à que todo senador tem direito para pagar por atividades do mandato, para pagar a pensão alimentícia de uma filha.
(*Com informações de Ricardo Marchesan, Guilherme Azevedo e Estadão Conteúdo)
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