Dez obras geraram R$ 458 milhões em propinas, segundo delatores
Segundo delatores da Odebrecht, 10 obras tocadas pela empreiteira no Brasil geraram ao menos R$ 458 milhões em pagamento de caixa dois a partidos e a políticos. O levantamento tem como base os inquéritos autorizados pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Edson Fachin relativos a políticos com foro privilegiado. Pelo menos 50 obras da empresa são investigadas pela Operação Lava Jato.
Na última terça-feira (11) foi retirado o sigilo sobre os inquéritos solicitados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e sobre os acordos de delação premiada feitos por 78 pessoas ligadas à Odebrecht. A partir desses documentos e depoimentos foi possível listar as 10 obras que, de acordo com o que foi relatado, geraram mais pagamento de caixa dois ou propina a partidos e políticos.
Confira as 10 obras que mais geraram propina e caixa dois segundo os delatores da Odebrecht:
1 - Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos)
O Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos) gerou um pagamento de propina e caixa dois estimado em R$ 155,5 milhões. O programa, que previa a construção e submarinos convencionais e nucleares, é resultado de uma parceria entre os governos brasileiro e francês. Segundo os delatores, 40 milhões de euros (aproximadamente R$ 133 milhões) foram pagos a José Amaro Ramos, apontado como um operador ligado ao PSDB. Além desse valor, os delatores afirmam terem feito repasses de R$ 5,5 milhões ao ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz da Silva Pinheiro e mais R$ 17 milhões ao PT, a pedido de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro da legenda.
Outro lado: O advogado Álvaro Luís Fleury Malheiros, que representa José Amaro Ramos, informou que seu cliente recebeu aproximadamente 17,5 milhões de euros - e não 40 milhões de euros, a título de honorários. Marinha do Brasil (MB) informou que "desconhece qualquer irregularidade".
2 - Petroquímica Suape
Contratos entre a Petrobras e a Odebrecht referentes à Petroquímica Suape, em Pernambuco, geraram R$ 95 milhões em pagamentos de propina e caixa dois. Segundo os delatores da Odebrecht, os recursos beneficiaram diversos políticos e partidos por meio de repasses a ex-diretores da Petrobras. Não há indicação explícita sobre quais seriam os políticos diretamente beneficiados pelo esquema, o que que ainda deverá ser apurado pelos procuradores.
3 - Usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau
A construção das usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, gerou R$ 80 milhões em pagamentos de propina e caixa dois, segundo os delatores da Odebrecht. Esses recursos, de acordo com eles, foram direcionados a políticos da cúpula do PMDB, como os senadores Romero Jucá (RR), Renan Calheiros (AL), Valdir Raupp (RO), Edison Lobão (MA), além do senador Aécio Neves (PSDB) e os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Paulinho da Força (SD-SP). Além deles, também teriam se beneficiado por esses recursos o ex-governador de Rondônia e hoje senador Ivo Cassol (PP-RO).
Outro lado: Os investigados negam as acusações e reafirmam que as doações eleitorais foram legais.
4 - Linha 4 do Metrô do Rio
De acordo com os delatores da Odebrecht, ao menos R$ 36 milhões foram pagos pela Odebrecht em contrapartida pelos contratos da empreiteira para a construção da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro. Entre os políticos apontados como beneficiários desses pagamentos estão o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), que está preso, o deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ) e o conselheiro do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) Jonas Lopes.
Outro lado: A defesa de Sérgio Cabral informou que só se manifestará sobre as acusações em juízo. Procurado pela reportagem, Júlio Lopes afirmou, por meio de nota, ainda não ter sido notificado da abertura do inquérito, mas disse ter "total confiança nas instituições e no esclarecimento dos fatos". Em depoimento de delação premiada, Jonas Lopes revelou um esquema de arrecadação digno de máfias italianas, que incluía fidelidade na divisão da propina, lealdade aos "acordos" firmados por colegas e acusações de traição.
5 - Refinaria Getúlio Vargas
Ao menos R$ 35 milhões relativos a contratos entre a Odebrecht e a Petrobras foram pagos a título de propina, dizem delatores ligados à empresa comandada pela família Odebrecht. Desse total, R$ 30 milhões foram pagos para integrantes das diretorias de Abastecimento e de Engenharia da Petrobras, R$ 15 milhões para cada. As duas diretorias seriam controladas por agentes políticos do PT e do PP. Outros R$ 5 milhões foram pagos pela empreiteira para que os repasses da Petrobras para a Odebrecht não fossem interrompidos.
6 - Empreendimento Parque da Cidade
Delatores da Odebrecht disseram que a Odebrecht pagou R$ 27 milhões em vantagens indevidas ao PT pela intervenção junto à Previ (fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil) para a aquisição de uma torre comercial e um shopping center no empreendimento conhecido como “Parque da Cidade”, em São Paulo, negócio que era de interesse da Odebrecht. De acordo com os delatores, ao menos R$ 5 milhões foram direcionados ao deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) e ao então deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) em 2012.
Outro lado: "Todas as minhas doações de campanha foram legais e declaradas nos órgãos competentes e aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral", declarou Zarattini. O criminalista Marcellus Ferreira Pinto, que defende Vaccarezza, afirmou: "As obras do Parque da Cidade, vinculadas ao denominado Projeto BMX, foram executadas durante a gestão de Gilberto Kassab, à época filiado ao DEM, notório opositor da gestão do PT tanto na esfera municipal quanto na federal. Portanto, não seria concebível qualquer tipo de ingerência de Cândido Vaccarezza na gestão das obras realizadas pela Prefeitura de SP".
7 - Obras Olímpicas
De acordo com o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, foram pagos R$ 16 milhões em vantagens indevidas a pedido do ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (PMDB). O dinheiro seria uma forma de garantir a facilitação para a obtenção de contratos relativos às obras das Olimpíadas de 2016. Ainda segundo Benedicto Júnior, R$ 11 milhões foram pagos no Brasil e outros R$ 5 milhões em contas no exterior. Além de Paes, Benedicto Júnior mencionou os nomes de Leonel Brizola Neto e da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) como possíveis beneficiários desses repasses.
Outro lado: Paes afirma que é absurda e mentirosa a acusação de que teria recebido vantagens indevidas por obras relacionadas aos Jogos Olímpicos. Ele nega veementemente que tenha aceitado propina para facilitar ou beneficiar os interesses da empresa Odebrecht.
8 - Trensurb 1
As obras de construção do Trensurb 1, linha férrea que liga as cidades de São Leopoldo e Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, geraram pagamento de vantagens indevidas no valor de R$ 8,2 milhões, segundo delatores da Odebrecht. Entre os beneficiários, estariam o deputado Marco Maia (PT-RS), o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), e o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo (PT).
9 - Cidade Administrativa, em Minas Gerais
A construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais, durante a gestão do então governador e hoje senador Aécio Neves (PSDB-MG), gerou pagamento de propina de R$ 5,2 milhões, segundo delatores da Odebrecht. O valor seria o equivalente a 3% do valor das obras contratadas pelo consórcio do qual a Odebrecht faria parte. O principal relato sobre o caso foi feito pelo delator Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Industrial.
Outro lado: assessoria do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB), sustentou que não foi apresentada nas delações da Odebrecht "nenhuma prova" que o vincule a "nenhum ato ilícito".
10 - Obras do Pró-Moradia
As obras do programa habitacional Pró-Moradia em Nova Iguaçu (RJ) renderam R$ 4,5 milhões em pagamento de vantagens indevidas, segundo os delatores da Odebrecht. Os pagamentos foram destinados à campanha do então prefeito de Nova Iguaçu e hoje senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Outro lado: O Lindbergh Farias afirma confiar que as investigações irão esclarecer os fatos e que "o arquivamento será o único desfecho possível".
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