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"Essa Lava Jato só me trouxe prejuízo", diz dono de lava a jato vizinho de Moro

Mário Padovan é dono de um lava a jato vizinho ao prédio da Justiça Federal do Paraná - Janaina Garcia/UOL
Mário Padovan é dono de um lava a jato vizinho ao prédio da Justiça Federal do Paraná Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em Curitiba

06/05/2017 09h30Atualizada em 06/05/2017 21h43

A conversa sobre a principal operação de combate à corrupção no Brasil começa com um desabafo quando o entrevistado ouve que ela seria assunto tratado pela repórter: “Essa Lava Jato só me trouxe prejuízo até agora. Não tenho muito o que comemorar”.

A declaração poderia ser de um político alcançado pela operação, mas foi feita pelo comerciante Mário Padovan, 40, casado, pai de três filhos e, ao menos fisicamente, muito mais próximo da Justiça Federal do Paraná, em Curitiba, que quase a totalidade dos réus da operação. Ele é dono de um lava a jato localizado a menos de 100 metros do prédio onde o juiz Sergio Moro, que coordena a Lava Jato na primeira instância, despacha os processos da operação.

O empreendimento de Padovan é uma mescla de lava a jato com estacionamento e anterior à operação. Existe no bairro do Ahú, que mescla atividade empresarial com residencial, há mais de cinco anos; a Lava Jato é de 2014.

De acordo com o comerciante, a queixa sobre as investigações não têm relação direta com o propósito delas, mas com os efeitos disso no comércio vizinho à Justiça Federal quando ocorrem manifestações.

Na última quarta-feira (3), por exemplo, partidários a favor e contrários ao ex-ministro José Dirceu (PT) quase se engalfinharam em frente ao prédio no momento em que o petista, recém-libertado de uma prisão provisória de um ano e nove meses, era levado até lá para receber a tornozeleira eletrônica por meio da qual está sendo monitorado. O trânsito no bairro foi prejudicado.

Manifestantes pró e contra Dirceu protestam em frente à Justiça

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Na próxima quarta-feira (10), um esquema de segurança digno de torcida organizada de futebol vai tentar evitar novos confrontos entre militantes políticos naquele que já é tido como um dos principais embates da operação: o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Moro.

O encontro, marcado para as 14h, fez com que a Secretaria de Segurança Pública do Paraná e a Polícia Federal definissem bloqueios em um raio de até 150 metros do prédio –o que abrange, portanto, não só o empreendimento de Padovan, como o de clientes que trabalham nas imediações e deixam o carro lá. Até o expediente no fórum, à exceção da vara onde Lula será interrogado, foi suspenso ao público.

"Essa Lava Jato só tem me trazido prejuízo, porque, toda vez que tem algum protesto aí em frente ao fórum, e não é difícil de isso acontecer, o trânsito fecha e o acesso das pessoas aqui na região fica reduzido. No dia em que Dirceu esteve aí, mesmo, foi um sufoco; outras vezes, tive que fechar e só consegui fazer trabalho administrativo, porque não passava carro por aqui”, afirmou.

Indagado se vai abrir na próxima quarta, dia do depoimento de Lula, Padovan disse que terá de fechar. “O máximo que eu farei é vir para tentar trabalhar aqui dentro”. Se vai conferir o movimento em frente ao fórum? “Ah, vou tentar, né? No dia do Dirceu, fiz até um vídeo com o celular. Não dá para ver ele [Dirceu], mas fiz”, conta.

"Acho que precisam aprofundar mais essa operação em relação aos políticos aqui do Paraná", diz o dono de lava jato Mário Padovan - Janaina Garcia/UOL - Janaina Garcia/UOL
"Acho que precisam aprofundar mais essa operação em relação aos políticos aqui do Paraná"
Imagem: Janaina Garcia/UOL

O comerciante diz que vários dos clientes são funcionários da Justiça Federal, mas garante que nenhum deles comenta sobre a Lava Jato ali com ele, que fica no caixa.

É ali, por sinal, onde ele guarda o dinheiro das diárias de R$ 25 --a hora sai por R$ 6--, muito inferior aos milhões tratados na operação comandada pelo juiz vizinho.

“Um décimo de tudo o que dizem que foi pago em propina já resolvia bem a minha vida, então, acho válido que continuem investigando porque, na real, isso é dinheiro nosso”, avalia, com o pátio onde cabem 40 veículos com a metade da lotação, nessa sexta-feira (5).

Que acha dos rumos da Lava Jato? “Cada um fala uma coisa, né? O Lula diz que é perseguido; a Justiça fala que está chegando em todo mundo... Espero que chegue. Mas acho que precisam aprofundar mais essa operação em relação aos políticos aqui do Paraná, porque dá raiva ver que tantos ainda estão impunes”, sugere. “Espero poder voltar a confiar em algum político, um dia”.

Que acha da Justiça, de um modo geral? “Acho que a Justiça não serve para quem é pobre. José Dirceu, por exemplo, acabou de ser solto”, comenta. “Quem tem dinheiro desse jeito para pagar os advogados que esse povo paga?”

Sobre Moro: o que o dono do lava a jato diria ao juiz da Lava Jato? “Acho que ele está de parabéns, mas, não vou negar: só fui saber recentemente que ele era meu vizinho –não podia imaginar que ele ficasse tão perto”, admitiu.