Não renunciarei, diz Temer após delação da JBS
"Não renunciarei. Repito, não renunciarei. Sei o que fiz e sei a correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Essa situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por muito tempo", disse o presidente Michel Temer (PMDB) em pronunciamento no Palácio do Planalto nesta quinta-feira (18). Temer enfrenta sua mais grave crise no cargo, acossado por denúncias feitas por delatores da JBS.
"Não comprei o silêncio de ninguém, sempre honrei meu nome e nunca autorizei usar meu nome indevidamente", disse Temer. O presidente fez a declaração em um dos salões do segundo andar do Palácio do Planalto. De terno preto e mexendo na gravata cinza, Temer entrou acompanhado de uma comitiva de políticos, que, durante o discurso, ficaram em pé em um dos lados do espaço.
Antes de começar a falar, ele pigarreou duas vezes e, olhando para os aliados ao lado direito, perguntou “Tudo bem?”. Temer começou o discurso falando mais pausadamente, mas, ao se defender das acusações e ressaltar que não renunciaria, acelerou a fala e engrossou a voz, gesticulando com fervor a mão direita.
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Temer confirmou que se encontrou com Joesley Batista, da JBS, e que o empresário contou a ele que “auxiliava um ex-parlamentar”.
“Não solicitei que isso acontecesse e somente tive conhecimento do fato nessa conversa”, afirmou.
Segundo Temer, seu governo viveu nesta semana “seu melhor e seu pior momento”, com a melhora de indicadores econômicos e de emprego, além do avanço de reformas no Congresso, em contraste com o que chamou de “revelação de conversa gravada clandestinamente”. Para Temer, a notícia “trouxe de volta o fantasma de crise política”.
“Nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito pelo país”, disse.
Temer disse ainda que não tem medo de “nenhuma delação” --as acusações contra ele partiram de um delator.
“Não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder. Sempre honrei meu nome”, declarou o presidente.
Na comitiva de políticos que acompanharam Temer no pronunciamento estavam os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo); o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), o vice-líder do PMDB na Câmara, Darcísio Perondi (RS), além do deputado federal Beto Mansur (PRB-SP).
Ao longo do pronunciamento, o salão ficou em silêncio, mas quando Temer declarou pela segunda vez que não renunciaria, Jucá puxou uma salva de palmas. A maioria dos aplausos veio do lado onde estavam os aliados políticos de Temer.
O presidente encerrou o discurso com "muito obrigado. Muito boa tarde a todos" e saiu ajeitando novamente a gravata.
Horas antes do pronunciamento, o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou abertura de inquérito contra o presidente. A decisão de abrir uma investigação contra Temer foi tomada pelo ministro do STF Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo. O pedido foi feito pela PGR (Procuradoria-Geral da República). A partir de agora, o presidente passa a ser formalmente investigado.
Temer entrou com requerimento no STF pedindo acesso à íntegra das gravações feitas pelos delatores da JBS.
Leia a íntegra do pronunciamento de Temer:
"Olha, vou cumprimentá-los [jornalistas] eu quero fazer uma declaração à imprensa brasileira e uma declaração ao país. E desde logo ressalto que só falo agora pelos fatos se deram ontem porque eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações que me citam. Solicitei, aliás, oficialmente ao STF acesso a esses documentos. Mas até o presente momento não consegui.
Quero deixar muito claro dizendo que meu governo viveu nesta semana seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação... Os números de retorno ao crescimento da economia e os dados de geração de empregos criaram esperança de dias melhores, otimismo retornava, e as reformas avançavam no Congresso Nacional.
Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada. Portanto, todo o imenso esforço de retirar o país de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do país.
Ouvi realmente o relato de um empresário, que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse e somente tive conhecimento de fato dessa conversa pedida pelo empresário.
Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém, por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação. Não preciso de cargo público nem de foro especial, nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome: na universidade, na vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos meus trabalhos, e nunca autorizei, por isso mesmo, que usassem meu nome indevidamente. E por isso quero registrar enfaticamente que a investigação pedida pelo STF será território onde surgirão todas as explicações, e, no Supremo, demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos.
Não renunciarei, repito: não renunciarei. Sei o que fiz, e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro.
Esta situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações e na solução respeitantemente a essas investigações. Tanto esforço e dificuldades superadas. Meu único compromisso, meus senhores e minhas senhoras, é com o Brasil. E é só este compromisso que me guiará. Muito obrigado, muito boa tarde a todos."
Repercussão no Congresso
O plenário da Câmara ficou praticamente vazio na tarde desta quinta. Os poucos deputados que estavam no local --às 16h35, eram dez-- fazem discursos contra o presidente Michel Temer e de defesa da realização de "eleições diretas já".
Parlamentares da oposição que esperavam uma renúncia de Temer criticaram o pronunciamento do mandatário, que por volta das 16h discursou no Palácio do Planalto e afirmou que não deixará o cargo, apesar das gravações apresentadas pelo empresário Joesley Batista à PGR (Procuradoria Geral da República) em delação premiada.
O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) afirmou que o presidente "tentou enganar o povo brasileiro com uma versão que não vai convencer ninguém". Ele também reforçou a intenção da oposição de apresentar às 17h mais um pedido de impeachment contra o peemedebista, com ênfase na denúncia de obstrução de Justiça.
Já foram protocolados dois pedidos de impedimento de Temer na Câmara dos Deputados desde que o jornal O Globo revelou na quarta-feira que o presidente teria dado aval a Joesley Batista para continuar pagando uma mesada pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), que protocolou o primeiro pedido, na noite desta quarta, disse que vai insistir na cassação pelo Congresso e disse esperar que o TSE antecipe para a semana que vem a retomada do julgamento da chapa Dilma-Temer.
Entenda as acusações
De acordo com informações divulgadas pelo jornal "O Globo" nesta quarta-feira (17), Joesley Batista, um dos donos da JBS, encontrou Temer no dia 7 de março no Palácio do Planalto. O empresário teria registrado a conversa com um gravador escondido. Batista disse ter contado a Temer que estava pagando ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao lobista Lúcio Funaro para ficarem calados. O presidente, segundo o empresário, responde: "Tem que manter isso, viu?".
Em nota publicada ontem, Temer confirmou o encontro, mas disse que "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha" e negou ter participado ou autorizado "qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar".
No caso do Aécio, ele foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Batista. O empresário entregou um áudio à Procuradoria-Geral da República em que o tucano pede a quantia, sob o pretexto de pagar as despesas com sua defesa na Operação Lava Jato.
Hoje, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin proibiu Aécio de exercer as funções de senador. A Procuradoria-Geral da República também pediu a prisão do tucano, mas Fachin, responsável pela Lava Jato na Corte, negou o pedido. A irmã de Aécio, Andrea Neves, foi presa.
José Eduardo Alckmin, um dos advogados do tucano, afirmou que o senador está "inconformado e surpreso" com as acusações de que teria pedido R$ 2 milhões a Batista. Ele confirmou o pedido, mas disse se tratar apenas um empréstimo pessoal e que houve uma "descontextualização" da fala de Aécio na gravação.
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