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Com discursos de líderes de esquerda, SP tem ato contra Temer; organização estima 20 mil pessoas

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

21/05/2017 15h21Atualizada em 21/05/2017 20h19

Manifestantes contra o governo de Michel Temer (PMDB) e a favor de eleições diretas se reuniram, na tarde deste domingo (21), em São Paulo. O ato marcado para 15h, no Masp (Museu de Arte de São Paulo), começou com baixa adesão e teve pico por volta de 16h10 --quando ocupou uma quadra da avenida Paulista. O encontro foi pacífico, deu destaque ao discurso de representantes da esquerda e chegou ao fim às 18h. 

Choveu muito durante a manifestação, e o mau tempo fez com que os organizadores agilizassem os discursos pedindo que tivessem duração de até três minutos.

Segundo os organizadores, por volta de 16h50 havia 20 mil pessoas --a polícia não fez estimativas. Presente no local, a reportagem do UOL registrou uma quadra da avenida preenchida pelos manifestantes, no momento mais cheio do encontro. Um carro de som foi colocado próximo ao Masp e outro, duas quadras adiante, mas esse espaço não foi ocupado. 

Os discursos começaram pouco depois das 15h30, com palavras de “Fora, Temer” e “Diretas Já”. Rui Falcão, presidente do PT, afirmou: “Aqui e no país inteiro a manifestação pede 'Diretas Já', 'Fora, Temer' e é contra as reformas. Queremos mostrar à população e ao Congresso que a solução é o povo dar a palavra final. Solução com conciliação ou eleição indireta faz a crise continuar". 

Citando a afirmação do próprio Temer, sobre o afastamento de ministros investigados na Lava Jato, o vereador Eduardo Suplicy (PT) fez uma comparação. "O Fachin [ministro do STF] decidiu abrir inquérito contra o presidente Michael Temer. O presidente falou que a regra para ministro era ser afastado se houvesse inquérito. O que ele disse serve para os ministros, mas não vale para ele. [...] Se o presidente quiser contribuir para pacificar o país, deve tomar a iniciativa de pedir eleições diretas”, afirmou o vereador mais votado do país em 2016, com 300 mil votos. 

Douglas Izzo, presidente da CUT-SP, defendeu Lula (PT) como o seu candidato e também o dos militantes. Já Guilherme Boulos, integrante da Frente Povo Sem Medo e coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), disse que não serão aceitos na presidência Rodrigo Maia (DEM), próximo na linha sucessória, nem a ministra Carmen Lúcia (presidente do STF).

A técnica de ensino Denise Frade, 47, disse que estava no local para reforçar o movimento que pede a renúncia de Temer, além das eleições diretas. “Só podemos ter presidente com legitimidade das urnas. O Congresso é corrupto”, afirmou. Da mesma opinião é o autônomo Márcio Robert, 37: “Ele [o presidente] tem que sair. Precisamos de eleição geral, o Congresso está corrompido”. Nem todos aderiram à defesa do PT. A administradora Jaqueline Braga, 50, disse que não votaria em Lula porque ele não está à altura daquilo que o Brasil precisa.  

Também havia no local uma escola de samba paulistana, a Unidos de Santa Barbara. Blocos de Carnaval participaram do encontro, pouco antes da dispersão. 

Manifestações organizadas por movimentos de esquerda em outras capitais brasileiras, na manhã de domingo, contaram com poucas pessoas. Na sexta (19), Boulos estimou que o domingo seria "um dia de mobilização nacional, com mais de 1 milhão de pessoas nas ruas do Brasil, de Norte a Sul".

O Vem Pra Rua, grupo de direita que apoiou o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, havia feito uma convocação também no Masp, mas retirou-a na sexta (19), alegando "motivos de segurança". O movimento nega recuo, prometendo uma nova data, ainda não marcada.

Outras capitais

No Rio de Janeiro, o ato do Muspe (movimento dos servidores do Rio, que reúne policiais, bombeiros e outras categorias que estão sem salário) reuniu cerca de cem pessoas e um carro de som na avenida Atlântica, na altura do Copacabana Palace, em frente à praia. O protesto foi pacífico, apesar de um grande efetivo de policiais militares.

Dirigente do movimento, Alzimar Andrade afirmou que o público reduzido pode estar relacionado com as cenas de violência que ocorreram no fim do protesto da última sexta-feira (19). "A Tropa de Choque sempre faz isso, talvez as pessoas tenham ficado com medo. E ainda tem o grupo de infiltrados que sempre age para 'zonear' os nossos atos. Mas isso não pode ser um impeditivo. Sem dúvida, as imagens da última sexta assustam. Mas a luta tem que ser na rua", afirmou ele.

Em Brasília, cerca de 250 pessoas se reuniram no Museu Nacional, também em clima pacífico --a Secretaria de Segurança Pública aguardava mil pessoas. Havia um carro de som no local, onde os participantes permaneceram sem fazer caminhadas (anteriormente, havia sido anunciado um deslocamento até o Congresso). 

Já em Minas Gerais, o encontro foi na praça da Liberdade (BH). Os participantes caminharam então até a praça Sete de Setembro. Segundo os organizadores, 50 mil pessoas estiveram na manifestação. A informação não foi confirmada pela Polícia Militar.

Temer investigado

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) decidiu entrar com um pedido de impeachment contra o presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados. Para a OAB, Temer cometeu crime de responsabilidade ao não comunicar autoridades competentes sobre a conversa que teve com o empresário Joesley Batista.

Outros nove pedidos já foram protocolados na Câmara. O presidente da Casa, Rodrigo Mais (DEM-RJ), aliado de Temer, vai decidir se aceita ou não os pedidos. Não há prazo para essa decisão.

A conversa entre Temer e Joesley foi gravada pelo próprio empresário e anexada à delação premiada do dono do grupo JBS, homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na corte, autorizou a abertura de inquérito para investigar se Temer cometeu os crimes de corrupção passiva, obstrução de justiça e formação de organização criminosa. Temer pediu a suspensão do inquérito. O plenário do STF analisa a questão na quarta (24).

No encontro que aconteceu no Palácio do Jaburu, residência de Temer, Joesley falou sobre uma mesada paga ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso e condenado na Lava Jato, e sobre a tentativa de interferir em investigações contra o grupo empresarial comandado por Joesley. O empresário fala em "segurar" dois juízes. Temer responde: "ótimo".

O presidente diz que não cometeu crime e chamou o delator de "falastrão".