Movimentos e centrais trocam o "Fora, Temer" pelo "Diretas Já" e já ameaçam um "Fora, Maia"
A bandeira política do “Fora, Temer” deverá dar espaço, a partir do próximo domingo (21), à da “Diretas Já” entre movimentos sociais e sindicais contrários ao governo do presidente Michel Temer (PMDB). De acordo com lideranças ouvidas pelo UOL, a ideia é que os atos de rua tenham como foco, primeiramente, as eleições diretas para a Presidência, e, em segundo lugar, o bordão que era o principal adotado nos protestos pós-impeachment de Dilma Rousseff (PT). Uma terceira bandeira será a revogação das reformas previdenciária e trabalhista defendidas por Temer –propostas que já começaram a esmorecer desde ontem.
Em capitais e outras cidades brasileiras, a maior parte dos atos com essas três diretivas é organizada pelas frentes Brasil Popular (FBP), que congrega mais de 60 entidades sociais e sindicais –entre as quais a CUT (Central Única dos Trabalhadores) --, e Povo Sem Medo, que reúne outras 30 –entre elas, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Depois dos atos dessa quinta (18), a primeira grande manifestação do tipo é chamada para domingo.
Temer enfrenta sua mais grave crise no cargo, acossado por denúncias feitas por delatores da JBS.
De acordo com o coordenador nacional da FBP e da CMP (Central de Movimentos Populares), Raimundo Bonfim, a prioridade é a defesa de eleições diretas –já quem pela escolha indireta, haveria a possibilidade de atuais aliados de Temer assumirem a Presidência.
“Temos três motes com uma ampla unidade – eleições diretas, 'Fora, Temer' e revogação das reformas. Agora, a prioridade é defender eleições diretas, porque um Congresso em que a grande maioria está desmoralizada não pode eleger um presidente capaz de tirar o país da crise e restabelecer a democracia”, afirmou.
Para Bonfim, o fato de movimentos que apoiaram o impeachment de Dilma e manifestaram apoio a Temer agora prometerem ir às ruas também no dia 21 não deverá dificultar a uniformidade da causa.
“Temos uma enorme diferença em relação aos movimentos de direita, que vêm defendendo as reformas da Previdência e trabalhista e agora estavam esperando o áudio [das conversas de Temer com o empresário Joesley Batista, da JBS] para se posicionarem. Nosso único ponto comum é o ‘Fora, Temer’, mas queremos arregimentar quem deles é também 'fora as reformas' -- não queremos nenhum tipo de conflito”, enfatizou.
"Ninguém abraça defunto ruim”, diz presidente da CUT
Para o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, a bandeira de eleições diretas substitui a do “Fora, Temer”, ainda que a ideia seja a de que os protestos consigam desgastar a imagem do peemedebista até o julgamento da chapa Dilma/Temer, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no próximo dia 6.
“A melhor coisa nesse momento é que se beba da água da soberania popular do voto direto para eleger o presidente. Não adianta virem com [o presidente da Câmara] Rodrigo Maia, [a presidente do STF] Carmen Lúcia ou o presidente do Senado para o posto –vamos ocupar as ruas até que tenha eleição direta”, afirmou. “Sabemos que os movimentos conservadores não são lideranças para a população – queremos discutir com a base, com as ‘pessoas normais’ que apoiaram o impeachment [de Dilma] e estão percebendo agora que foram enganadas. A direita está dividida”, declarou.
Na avaliação de Freitas, a recusa de Temer, hoje, em renunciar ao cargo “fortalece nosso movimento e nos dá mais tempo para fazer o desgaste da imagem dele e das propostas que ele representa”.
“Haverá o julgamento da chapa no TSE, dia 6, e sabemos que a possibilidade de cassação dela é muito grande depois das delação da JBS. Temer tem uma sobrevida moribunda até lá, mas não tem nenhuma popularidade e está perdendo apoio parlamentar –a ideia é que ele desintegre até lá. Ninguém abraça defunto ruim”, classificou.
MTST já fala em "Fora, Maia"
Integrante da Frente Povo Sem Medo, o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, reforçou a defesa de eleições diretas. E completou: "Se botarem [Rodrigo Maia], teremos um ‘Fora, Maia’, ou um ‘Fora, Carmen Lúcia’. Nenhuma dessas alternativas tem legitimidade, e é isso que vamos dizer nas ruas", avisou.
Sobre a manifestação do dia 21, Boulos estimou que "será um dia de mobilização nacional com mais de um milhão de pessoas nas ruas do Brasil, de Norte a Sul. "E na quarta (24), será dia de tomar Brasília e, em cada cidade brasileira, de mostrar a nossa indignação. Se Temer cair até lá, as manifestações seguem. O ‘Fora, Temer’ não basta mais, temos que exigir ‘Diretas já’ – enquanto não convocarem novas eleições, não sairemos das ruas.”
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