Crise leva Temer a rotina de reclusão em gabinete do Planalto e no Jaburu
Em busca da própria sobrevivência após a crise política desencadeada pela delação dos executivos da JBS, em 17 de maio, o presidente da República, Michel Temer (PMDB), se fechou com aliados próximos no gabinete do Palácio do Planalto, onde trabalha, e no Palácio do Jaburu, onde mora.
Desde então, ele não participou mais de eventos fora do Planalto nem promoveu cerimônias públicas na sede da Presidência. As únicas aparições públicas de Temer depois da data foram os dois pronunciamentos que deu para se defender das acusações presentes no depoimento dos empresários Joesley e Wesley Batista, além de diretores do grupo, ao MPF (Ministério Público Federal).
Em 25 de maio, um dia após manifestações que transformaram a Esplanada dos Ministérios em cenário de guerra com direito a ministérios incendiados e depredados e a tiros disparados pela Polícia Militar do Distrito Federal, Temer divulgou vídeo nas redes sociais em que diz que o protesto aconteceu com “exageros”, mas o “Brasil não parou e não vai parar”.
Reuniões com aliados
Para tentar encontrar uma saída da crise, o presidente tem se reunido com os aliados mais próximos como os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Henrique Meirelles (Fazenda), Raul Jungmann (Defesa) e Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional).
Dentre integrantes do Parlamento, Temer tem mantido contato mais frequente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os deputados Baleia Rossi (PMDB-SP), Darcísio Perondi (PMDB-RS), Carlos Marun (PMDB-MS), e junto ao líder do governo no Senado, senador Romero Jucá (PMDB-RR).
A maioria das reuniões acontece no Planalto, mas é comum Temer conversar com aliados no Palácio do Jaburu em busca de mais privacidade. Apesar da repercussão negativa dos encontros secretos entre Temer e Joesley Batista na residência, cujo acesso teve a segurança reforçada, o presidente continua se reunindo com ministros e parlamentares no local sem divulgar as reuniões na agenda oficial.
No dia 22, Temer foi a um jantar na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, discutir o andamento de propostas de interesse do governo no Congresso com líderes da base aliada. O encontro não foi informado previamente e entrou na agenda do presidente de forma retroativa.
Nesta sexta (26), o presidente recebeu Maia, Imbassahy e o senador José Maranhão (PMDB-PB) no Jaburu antes de ir trabalhar ao Planalto. O encontro não foi comunicado publicamente. Reuniões secretas no Jaburu com Moreira Franco e o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende Temer na investigação derivada da delação da JBS, também se tornaram frequentes.
A Presidência da República informou que, nas últimas semanas, mesmo antes da delação da JBS, Temer já pretendia se focar na agenda político-econômica em Brasília diante do andamento das reformas trabalhista e da Previdência no Congresso Nacional.
Eventos desaparecem de agenda
Antes da revelação do conteúdo da delação premiada, Michel Temer costumava participar, em média, de três eventos por semana. A reportagem do UOL considerou dias úteis no período entre 17 de janeiro e 17 de maio deste ano.
O último evento ao qual Temer compareceu foi a 20ª Marcha Nacional dos Prefeitos, em 16 de maio, em Brasília. Na ocasião, ele assinou a renegociação da dívida dos municípios com o INSS na busca de apoio às reformas propostas pelo governo.
O cenário mudou nos últimos dias. Na quarta (24), por exemplo, Temer teve de cancelar a participação no 89º Encontro Nacional da Indústria da Construção da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), em Brasília, de acordo com o líder da entidade, José Carlos Martins. Segundo Martins, que foi ao Planalto no dia seguinte, Temer estaria escalado para abrir o evento, mas não pôde comparecer diante da crise e da manifestação contra o governo ocorrida na Esplanada dos Ministérios.
A primeira aparição em público de Temer fora dos palácios de Brasília após o escândalo deve ser no Fórum de Investimentos Brasil, em São Paulo, em 30 de maio. O presidente está previsto para abrir o evento, que vai contar com a presença do presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Luis Alberto Moreno, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito da capital do Estado, João Doria (PSDB), além de ministros, parlamentares, empresários e investidores.
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