"Se tem uma pessoa que não vai cair nesse governo sou eu", disse Serraglio
"Se tem uma pessoa que não vai cair nesse governo sou eu". A frase teria sido dita a interlocutores pelo agora ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR), antes de viajar de Brasília para o Paraná, na sexta-feira (26).
Serraglio sabia que estava sendo "fritado" por membros do governo que trabalham no Palácio do Planalto, segundo apurou o UOL. A frase, porém, sugere que estava confiante de que tinha o respaldo do presidente Michel Temer (PMDB).
Na tarde deste domingo (28), ficou claro que não era bem assim. Temer retirou o comando da pasta de Serraglio, que troca de cargo com o jurista Torquato Jardim, do Ministério da Transparência e Controle.
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O gaúcho considerava ter estreitado a relação com Temer desde que vieram à tona as primeiras informações sobre a delação da JBS. A pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), o STF (Supremo Tribunal Federal) abriu inquérito para investigar se Temer cometeu os crimes de corrupção passiva, formação de organização criminosa e obstrução de justiça.
Por ser advogado, Serraglio teria participado de conversas a respeito da estratégia de defesa de Temer. Na quinta-feira (25), reuniu-se com o ministro do STF Edson Fachin, relator do inquérito que tem Temer como alvo.
Equipe pega de surpresa
A confiança de que permaneceria no cargo era tanta que, até a noite de sábado (27), ele conversava com sua equipe sobre tarefas ligadas ao Ministério da Justiça, apurou a reportagem.
Estava previsto que Serraglio gravasse, na tarde de segunda (29), um pronunciamento sobre as ações do ministério para uma propaganda do governo. Na véspera de ser trocado de cargo, ele acertava os detalhes para finalizar essa campanha publicitária.
"É totalmente surpreendente [a saída de Serraglio], a não ser que tenha havido algum fato novo nesse sábado", disse um membro da equipe do ministro, sob a condição de manter sua identidade em sigilo.
Reuniões com Temer, mas fora da agenda
Apesar desta informação não constar na agenda oficial do presidente, Serraglio teria se reunido com Temer pelo menos seis vezes na última semana, afirmam membros de sua equipe.
Na sexta, ele deu uma entrevista coletiva no Planalto e foi questionado por jornalistas sobre sua ausência nas últimas reuniões do governo.
Demonstrando irritação, Serraglio respondeu: "Não saí um dia de Brasília, acompanhei todos os fatos, todos os eventos. Todos me conhecem, não sou muito midiático", afirmou. O incidente gerou mal-estar entre o ministro a assessoria de imprensa do Planalto.
Aécio pediu para trocar Serraglio por alguém "forte"
Temer era alvo de pressões para trocar o titular da pasta da Justiça. O senador afastado Aécio Neves, por exemplo, teve uma conversa com o senador José Serra (PSDB-SP) grampeada pela Polícia Federal. Nela, Aécio falava sobre a necessidade de tirar Serraglio do cargo e substituí-lo por alguém "forte".
Em outra ligação interceptada, desta vez com o empresário e delator Joesley Batista, Aécio se referiu a Serraglio como "uma bosta do caralho".
Sem protagonismo
Apesar da boa interlocução com Temer, Serraglio não teve tanto protagonismo no governo quanto o antecessor, Alexandre de Moraes. O agora ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), indicado por Temer, costumava participar de mais eventos no Planalto junto ao núcleo-duro do governo, e promover mais iniciativas na Justiça, como o próprio Plano Nacional de Segurança.
De acordo com o jornal "Estado de S. Paulo", partiu da bancada do PMDB na Câmara o pedido para que Serraglio fosse transferido para a Transparência. É esse ministério que faz os acordos de leniência com empresas investigadas pela Lava Jato. Se Serraglio não aceitasse o ministério, a opção seria voltar para a Câmara. Neste caso, tiraria da cadeira o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) --ex-assessor especial de Temer, flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil oriundos de propina.
Nota de demissão 'deselegante'
A nota divulgada pelo Palácio do Planalto para anunciar o novo ministro da Justiça foi considerada "deselegante" por pessoas próximas a Serraglio. O texto não deixava claro que ele assumiria outra pasta no governo. "Ficou parecendo uma demissão", afirmou um integrante de sua equipe, também em sigilo.
O Palácio do Planalto anunciou a ida de Torquato Jardim para a Justiça, sem esclarecer quem assumiria o Ministério da Transparência, nem qual seria o destino de Serraglio. Às 15h18, a assessoria de imprensa do Planalto negou ao UOL que haveria uma troca de lugares nos ministérios; cerca de 15 minutos depois, voltou atrás e confirmou a ida de Serraglio para a pasta da Transparência.
"O Presidente da República decidiu, na tarde de hoje, nomear para o Ministério da Justiça e Segurança Pública o Professor Torquato Jardim. Ao anunciar o nome do novo Ministro, o Presidente Michel Temer agradece o empenho e o trabalho realizado pelo Deputado Osmar Serraglio à frente do Ministério, com cuja colaboração tenciona contar a partir de agora em outras atividades em favor do Brasil", diz a nota enviada pela assessoria de imprensa do Planalto.
Apareceu na operação Carne Fraca
Tido como próximo ao ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba, Serraglio foi citado na Operação Carne Fraca, deflagrada em março pela Polícia Federal, que investiga pagamento de propina pelos frigoríficos a fiscais agropecuários.
Foi interceptada uma ligação telefônica entre o ministro e Daniel Gonçalves Filho, fiscal agropecuário e superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016. Segundo a PF, Gonçalves Filho era "o líder da organização criminosa" que atuava no órgão.
Serraglio teria tentando interferir em favor de uma empresa. Subordinada ao Ministério da Justiça, a PF, no entanto, afirmou que não viu indícios de ilegalidade na conduta do ministro.
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