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Um olho no TSE, outro no Planalto: aliados preparam terreno para sucessor de Temer

O presidente Michel Temer (PMDB) durante pronunciamento no Palácio do Planalto - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O presidente Michel Temer (PMDB) durante pronunciamento no Palácio do Planalto Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

29/05/2017 04h00

Anunciada no dia anterior à revelação das primeiras informações sobre a delação do empresário Joesley Batista, a data de retomada do julgamento da ação que pode levar à cassação do mandato do presidente Michel Temer (PMDB), no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), passou a ser lembrada com expectativa nas conversas a portas fechadas sobre a eventual sucessão do peemedebista, que é alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal).

Entre os aliados de hoje, os menos de 10 dias até o dia 6 de junho são tidos como um prazo razoável e oportuno para preparar o terreno para a eleição indireta que seria realizada pelo Congresso caso Temer tenha que deixar a Presidência da República.

Em reservado, parlamentares de partidos da base do governo admitiram à reportagem que já discutem possíveis candidatos para o pleito. Decidiram, no entanto, adiar qualquer definição pública até o resultado do julgamento eleitoral.

A incerteza sobre a postura de Temer diante da eventual impugnação da chapa em que foi vice da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) por abuso de poder econômico é outro argumento apontado pelos congressistas para justificar a cautela. No Palácio do Planalto, assessores ouvidos pelo UOL ecoam o discurso do presidente, que já veio a público três vezes desde que foi denunciado dizer que não renunciará.

"O presidente vai lutar até o fim. Em outras palavras, ele vai recorrer ao STF", garantiu um deles. Afastam, portanto, a ideia de que ser cassado seria uma "saída honrosa" para o peemedebista, suspeito de cometer os crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça.

Principal aliado do PMDB no governo e dono da terceira maior bancada do Congresso, com 10 senadores e 47 deputados federais, o PSDB tem cada novo movimento observado com atenção pelo Planalto. O presidente nacional interino da sigla, senador Tasso Jereissati (CE), tem declarado que o partido manterá apoio a Temer até o julgamento do TSE.

Apesar dos posicionamentos públicos, ele já começou a debater a aliança com lideranças tucanas. Na última quinta (25), ele se reuniu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, João Doria.

Na sexta, no entanto, Alckmin reforçou o discurso padrão da legenda, dizendo que agora cabe ao PSDB “apoiar o governo, apoiar o Brasil”, mas deixou escapar vestígios da articulação preventiva ao negar ser candidato à eventual eleição indireta.

“Os dois grandes nomes são o presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Tasso Jereissati”, declarou o governador, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista). A reportagem apurou que a sinalização não passou despercebida pelo radar do Planalto.

A possibilidade de "conspiração" dos tucanos, como classificou Temer, é rebatida com um argumento numérico. "O PMDB tem a maior bancada do Senado e da Câmara [são 22 senadores e 63 deputados, quase 1/6 do Congresso]. Será que o PSDB realmente vai querer enfrentar essa disputa?", questionou um assessor do Planalto, sob anonimato.

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Entre partidos da base como o DEM e o próprio PSDB --que "hoje têm ideias muito parecidas sobre o país", segundo um senador--, há uma preocupação de não expor antes da hora nomes que poderiam ser escolhidos pelos parlamentares. "Se o Tasso quisesse ser presidente, a última coisa que ele iria querer era aparecer desde agora. O escolhido tem que aparecer como uma solução, não como um problema", declarou um senador tucano.

Há ainda a preocupação com os prazos legais previstos para a substituição. Com o posto de Temer vago, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria até 30 dias para convocar a eleição indireta. "É bastante tempo", comentou um deputado. Também leva-se em conta o fato de que os votos dos 513 deputados e 81 senadores, que escolheriam o sucessor de Temer em sessão conjunta, teriam o mesmo peso.

Entre os nomes citados em conversas no Congresso durante a semana, o que mais foi ouvido pela reportagem foi o de Nelson Jobim (PMDB), que foi ministro e presidente do STF e ocupou ministérios da Justiça e Defesa nos governos de FHC, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma.

"Para liderar o país nesse momento, é preciso ter estatura. Nelson Jobim tem. Ricardo... Rodrigo Maia, não", afirmou um tucano, confundindo o nome do presidente da Câmara. "Mas é preciso esperar. Não duvido que muita gente se frustre e tenha que ver o Temer completar o mandato em 31 de dezembro do ano que vem", completou.

Impeachment "improvável"

Desde a noite do dia 17, quando vieram a público as primeiras acusações de Joesley Batista a Temer, já foram protocolados 13 pedidos de impeachment contra o presidente na Câmara dos Deputados --o último na quinta (25), pela OAB (Ordem dos Advogados no Brasil).

É consenso na base aliada --e também na oposição, reservadamente-- que a aceitação de qualquer um deles por Rodrigo Maia é "improvável". Considerado "fiel" a Temer, o presidente da Câmara já declarou que não será "instrumento para desestabilização do governo".

A duração do rito de um processo como o do impeachment torna ainda menos possível a sua viabilidade política.

"Se o de Dilma, que tinha a base esfacelando e um presidente da Câmara [Eduardo Cunha] contrário a ela, durou mais de oito meses, imagina o de Temer", avaliou um parlamentar.