Após prisão de irmã, operador de Cunha acena com delação premiada
O economista Lúcio Funaro fez chegar a procuradores da República a informação de que ele estaria disposto a firmar um acordo de delação premiada. A intenção foi confirmada pela reportagem do UOL com uma pessoa próxima a Funaro, que está preso desde julho de 2016 após a deflagração da Operação Sépsis. “Ele não aguenta mais isso. Quer acabar com isso logo”, disse um interlocutor do economista.
A delação de Funaro é avaliada como importante por investigadores da força-tarefa da Operação Lava Jato. Ele é apontado como um dos principais operadores do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Uma pessoa próxima a Funaro disse que os quase dez meses na cadeia somados à prisão da sua irmã, Roberta Funaro, fizeram com que ele mudasse de ideia sobre colaborar com a Justiça.
"Esse sentimento dele já chegou aos procuradores. Está tudo muito difícil para ele. Ele não aguenta mais isso. Ele quer acabar com isso logo. O mais rápido possível", disse um interlocutor do economista.
Investigado em três operações da PF
Funaro é suspeito de ter cobrado e recebido propina referente a um esquema de corrupção envolvendo recursos do FI-FGTS, um fundo de investimento com recursos do FGTS operado pela Caixa Econômica Federal.
Segundo as investigações, Funaro e Cunha atuavam juntos cobrando e recebendo dinheiro de propina de empresas em troca de facilitação na liberação de recursos do FI-FGTS.
Esse mesmo esquema, segundo os procuradores, teria funcionado em relação a outros fundos de investimento ligados a bancos públicos. Além de ser investigado na Sépsis, Funaro é investigado nas operações Greenfield e Cui Bonno?.
A ligação de Funaro com integrantes da cúpula do PMDB também é vista como importante em um eventual acordo de delação premiada.
Internamente, procuradores avaliam que uma delação do economista só seria interessante se ele tiver condições de detalhar os esquemas nos quais estaria envolvido e se for capaz de revelar informações ainda não descobertas pelos investigadores.
Ainda não haveria consenso sobre se a delação de Funaro seria tocada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) ou pela PR-DF (Procuradoria da República do Distrito Federal). A tendência é que, se houver acordo, ele seja conduzido pela PGR, pois há a expectativa de que Funaro possa revelar informações sobre pessoas com foro privilegiado.
Ele foi citado pelo ex-assessor e amigo pessoal do presidente Michel Temer (PMDB) José Yunes como sendo a pessoa que o entregou um pacote durante as eleições de 2014 a pedido do agora ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Segundo o delator da Odebrecht Cláudio Melo Filho, esse pacote conteria R$ 1 milhão referente a recursos acertados entre o ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht e o então vice-presidente da República Michel Temer durante um jantar no Palácio do Jaburu.
Yunes disse não saber que o pacote recebido por Funaro se tratava de dinheiro. Padilha, por sua vez, nega ter solicitado qualquer envio de recursos por meio de Yunes.
Até o momento, Funaro vem negando sua participação nesses esquemas.
Detenção da irmã é fator decisivo
Desde a sua prisão, Lúcio Funaro vinha rejeitando a hipótese de aderir a um acordo de delação premiada, mas a prisão de sua irmã durante a Operação Patmos parece ter mudado sua disposição, dizem pessoas ligadas ao economista.
Roberta Funaro foi flagrada recebendo R$ 400 mil de emissários da empresa JBS. Segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), os pagamentos feitos à família de Funaro eram uma forma de mantê-lo em silêncio.
A defesa de Roberta já ingressou com um pedido de liberdade provisória em seu favor, mas o pedido ainda não foi avaliado pelo relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin.
Procurado pela reportagem, o advogado de Lúcio Funaro, Bruno Espiñera, diz não ter informações sobre uma eventual delação de seu cliente. “Não tenho essa informação. Nesse momento, nossa defesa está voltada para tentar tirar a irmã dele da cadeia”, afirmou.
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