Topo

Relator acusa governo Temer de obstruir Justiça com troca-troca na CCJ: 'perderam a vergonha'

Wilson Dias - 29.out.2014 /Agência Brasil
Imagem: Wilson Dias - 29.out.2014 /Agência Brasil

Gustavo Maia e Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

13/07/2017 14h03Atualizada em 13/07/2017 15h51

O relator do parecer sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, Sergio Zveiter (PMDB-RJ), atacou duramente estratégia adotada pelo Planalto de trocar integrantes da comissão na tentativa de que o relatório favorável à admissibilidade da denúncia seja derrotado.

O presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), anunciou que a votação do parecer sobre a denúncia acontecerá na tarde desta quinta-feira (13).

Em discurso contundente contra o governo Michel Temer (PMDB) nesta quinta-feira (13), Zveiter chamou de “obstrução à Justiça” o uso de dinheiro público que, segundo ele, financiou as recentes mudanças na composição da CCJ.

É obstrução à Justiça usar dinheiro público para que deputados venham aqui. Votar a favor de um arquivamento esdrúxulo, inadequado, inoportuno.

Deputado federal Sergio Zveiter (PMDB-RJ)

O deputado disse ainda que os deputados governistas vão votar “a favor de um arquivamento esdrúxulo, inoportuno, inadequado no momento histórico que o país vive”.

Segundo Zveiter, o voto em separado que será aprovado, caso seu relatório seja rejeitado pela maioria da CCJ, foi redigido não no Legislativo, mas no Executivo, "no Palácio do Planalto". “Perderam a vergonha, perderam a compostura”, comentou.

"A derrota que se afigura aqui foi montada artificialmente. Uma derrota aqui não vai ser do parecer, vai ser do povo brasileiro, que quer uma política limpa, honesta, que repudia que deputados eleitos livremente pelo voto se submetam a manobras por emendas parlamentares."

Zveiter afirmou que uma possível derrota na CCJ seria "artificial", pois o governo não conseguirá apoio suficiente para barrar a denúncia no plenário. O relator também afirmou que uma eventual vitória do governo na comissão seria baseada no oferecimento de cargos e liberação de emendas ao Orçamento para parlamentares da base.

"Na certeza absoluta de que essa derrota artificial que se antecipa, pela liberação de emendas, repito, pela troca de cargos aqui na comissão, pelos cargos oferecidos, não vai ter respaldo no soberano plenário da Câmara dos Deputados a que tenho a honra e o privilégio de pertencer", disse o relator.

"O PMDB está ameaçando de me expulsar"

O relator do parecer reiterou que há "seríssimos indícios" contra Temer.

"O sr. Michel Temer, contra quem pesam seríssimos indícios, acha que podendo usar o dinheiro público, bilhões de reais, podem submeter a Câmara dos Deputados ao seu bel sabor, a proteger, a botar debaixo do tapete, a proibir que a sociedade saiba exatamente o que aconteceu", declarou o relator.

Zveiter afirmou ainda que Temer "deveria ser o primeiro a querer ver esclarecidas as denúncias, porque a narrativa do senhor procurador-geral da República é fortíssima e os indícios são fortíssimos".

“O presidente recebeu fora do horário, no Palácio do Jaburu, residência oficial, com o nome trocado, um empresário que já respondia a vários processos, para tratar de assuntos não republicanos e indicou, sim, o ex-deputado [Rodrigo] Rocha Loures (PMDB-PR) como seu representante, que depois foi flagrado com R$ 500 mil de propina. Uma vergonha!”, afirmou o relator.

Atacado por correligionários desde que apresentou o relatório favorável à denúncia, Zveiter contra-atacou. "O meu partido, o PMDB, está ameaçando de me expulsar. Se eu soubesse que para entrar no PMDB, eu tivesse que votar pagando o preço de receber emenda parlamentar ou cargo no governo, eu jamais ingressaria no PMDB."

Defesa de Temer fala em "ânsia de poder" do MP

Após a fala de Zveiter, o advogado de Temer, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, voltou a afirmar que não há provas contra o presidente e criticou o que chamou de "ânsia de poder" do Ministério Público e a "cultura punitiva" da mídia.

"Há por trás disso, de princípios que estão sendo rasgados, há uma ânsia pelo poder. Eu não posso crer que o Ministério Público quer ocupar o poder dessa Casa [Câmara]", disse.

"Essa cultura punitiva está sendo capitaneada por órgãos da mídia. Porque o crime virou algo rentável para a mídia. O crime está senso espetacularizado pela mídia", afirmou Mariz.

Após a manifestação da defesa de Temer, Zveiter pediu novamente a palavra para se retratar.
 
"Eu tenho convicção de tudo o que eu falei, mas talvez eu tenha cometido uma impropriedade quando eu afirmei que o voto em separado, que eu não sei nem de quem é, teria sido feito no Palácio. A força de expressão que eu quis usar, e até peço escusas, foi 'em defesa do Palácio'. Claro que o voto foi feito por um eminente colega meu deputado ou deputada, que tem o mesmo direito que eu de fazer o voto", declarou.
 
O pedido de desculpas não impediu, no entanto, que o relator fosse criticado por outros parlamentares, que o acusaram de "agredir todos os deputados que votarão contra" o parecer dele.