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Sob gritos de "presidente", Doria diz em Natal que esquerda "não é salvação do Brasil"

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), recebeu o título de cidadão natalense pelo presidente da Câmara de Natal, Ney Lopes Júnior (PSD), na manhã desta quarta-feira (16) no Teatro Riachuelo, em Natal - Nuno Guimarães/Estadão Conteúdo - Nuno Guimarães/Estadão Conteúdo
Doria (PSDB) recebe o título de cidadão natalense pelo presidente da Câmara de Natal
Imagem: Nuno Guimarães/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

16/08/2017 16h20Atualizada em 16/08/2017 17h46

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou nesta quarta-feira (16), em cerimônia em que foi homenageado em Natal, que “a esquerda não é a salvação do Brasil”. A declaração foi feita a uma plateia composta por políticos e empresários durante a entrega do título de “Cidadão Natalense” ao prefeito – a terceira honraria do tipo, fora do Estado de São Paulo, que Doria recebe em uma semana.

“Prefiro o sentimento daqueles que, ainda que silenciosamente, na sua conduta, defendem o Brasil e não fazem a defesa do seu próprio interesse, não roubam o Brasil, não assaltam os cofres públicos, não mentem, não fazem a apologia da esquerda. Nada tenho contra, mas não façam apologia dizendo que essa [a esquerda] é a salvação do Brasil: não é”, afirmou Doria. “O dia em que me convencerem que o que acontece na Venezuela é bom para os venezuelanos, ou o dia em que disserem que em Cuba, Nicarágua ou Bolívia se pratica a democracia... não é esse sentimento bolivariano que move as pessoas de bem, não é esse o sentimento que move o Brasil", completou.

Recebido com gritos tímidos de “é o nosso presidente”, Doria repetiu o bordão “Acelera”, da campanha para a prefeitura paulistana, em 2016, e fez um discurso exaltando a “esperança” de que “é possível transformar, sim, o Brasil”.

Antes do prefeito, o outro homenageado pela Câmara de Vereadores de Natal, o executivo da Riachuelo, Flávio Rocha, adotara tom semelhante ao observar o “movimento transformador que está acontecendo no Brasil”. “A vinda de João Doria nos dá muita alegria e inclui Natal nesse clamor que está surgindo nos quatro cantos do Brasil”, afirmou. Antes, o empresário reclamou não existir “maior inimigo da prosperidade que essa sanha regulatória” aos empresários.

Apesar de ser cotado como futuro candidato à disputa presidencial do ano que vem, Doria não fez menção a sua condição de pré-candidato – a agenda de hoje integra os compromissos oficiais da prefeitura --e nem a seu padrinho político, o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) – já autodeclarado pré-candidato à sucessão presidencial.

Apesar de não citar nomes, mais cedo, o tucano foi alvo de um protesto promovido por coletivos e movimentos sociais contrários à cessão do título de “Cidadão Natalense” a ele. Por outro lado, o prefeito citou números de desemprego oriundos da gestão petista, à qual se referiu como “populismo que quis tomar conta da alma de todos os brasileiros”, e enfatizou que “aqui no país não tem campo e oportunidade para bandeira vermelha.”

Lula

O tom antiesquerda foi adotado por Doria um dia depois de o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) ter defendido o governo do presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, e na véspera de o petista sair em caravana por 28 cidades nordestinas. Ao UOL, o petista afirmou que está "preparado" para encarar o roteiro que será feito em ônibus. "Estou vivendo um momento de muita intensidade e de muito preparo físico para aguentar os 20 dias."

A viagem terminará em 5 de setembro, a oito dias do novo depoimento que prestará ao juiz federal Sérgio Moro, na ação penal relativa ao terreno supostamente doado pela empreiteira OAS para sediar o Instituto Lula.

Vereador afastado propôs honraria

O título recebido por Doria nesta quarta foi proposto pelo presidente afastado da Câmara Municipal, vereador Raniere Barbosa (PDT). O parlamentar é acusado de desviar cerca de R$ 22 milhões da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos por meio de superfaturamento de contratos.

O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), foi convidado a participar da cerimônia, mas, em decorrência da Operação Anteros, desmarcou presença. A operação foi deflagrada nessa terça-feira (15) pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República. O governador, cujo apartamento foi alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal, é apontado como principal beneficiário de esquema de desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa, enquanto presidiu a Casa de 2003 a 2010, na ordem de R$ 5,5 milhões.

A segurança no local foi reforçada e o acesso ao Teatro Riachuelo foi liberada somente aos convidados do evento e jornalistas credenciados.