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Advogado diz que "pool de empresas" compraria terreno para Instituto Lula

Terreno em São Paulo supostamente comprado para o Instituto Lula - Adriano Vizoni - 20.dez.2016/Folhapress
Terreno em São Paulo supostamente comprado para o Instituto Lula Imagem: Adriano Vizoni - 20.dez.2016/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

19/09/2017 14h48Atualizada em 19/09/2017 15h30

O advogado Roberto Teixeira, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse ter sido procurado por executivos da Odebrecht para tratar da compra de um terreno em São Paulo que "poderia servir eventualmente" como sede do Instituto Lula. A declaração foi dada nesta segunda-feira (19) em interrogatório feito pelo juiz Sergio Moro em processo da Operação Lava Jato no qual Teixeira e Lula são réus por supostas irregularidades em transações envolvendo o imóvel, que nunca sediou a entidade.

Teixeira disse ter sido procurado em meados de 2010 por Paulo Melo e João Alberto Lovera, ex-executivos da Odebrecht Realizações Imobiliárias, que disseram ter "interesse imobiliário" no terreno. Melo também teria alertado, segundo o advogado, que o imóvel "poderia servir eventualmente para abrigar a sede do futuro Instituto Lula". Em seu interrogatório, por sua vez, Melo disse que o terreno teria sido indicado à Odebrecht por Teixeira

De acordo com o Teixeira, o terreno seria comprado por um "pool de empresas". Para ele, a DAG Construtora, que acabou adquirindo o imóvel, fazia parte deste "pool" e foi trazida à negociação por Melo.

Segundo a acusação do MPF (Ministério Público Federal), a DAG foi usada como laranja da Odebrecht na compra do terreno, que seria usado como pagamento de propina para Lula em troca de contratos da empreiteira com a Petrobras.

O empresário Demerval Gusmão, dono da construtora, confirmou em interrogatório que comprou o terreno a pedido da Odebrecht e que soube, posteriormente, que o imóvel seria destinado ao Instituto Lula.

Teixeira disse nunca ter tratado com Lula sobre o terreno. O ex-presidente também afirmou em seu interrogatório a Moro que não sabia do envolvimento do Roberto Teixeira com o imóvel e disse que a única pessoa com quem tratou do prédio foi o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto. Lula confirmou ao juiz que visitou o local, mas disse que não se interessou pela compra.

O advogado também negou ter participado de uma suposta reunião, no fim de 2011, na casa de Lula para tratar do terreno. A reunião foi relatada a Moro pelo ex-ministro Antonio Palocci (PT), também réu no processo e que disse ter comparecido ao encontro. Palocci afirmou que Teixeira foi favorável ao uso do imóvel para o instituto.

"Comigo não aconteceu", disse Teixeira. "Não era eu o responsável, e não tinha nenhuma influência sobre eventual imóvel para o Instituto Lula."

Bumlai foi primeiro interessado, diz advogado

O advogado disse que ficou sabendo do terreno à venda em janeiro de 2010, por meio de uma corretora de imóveis. Segundo Teixeira, o empresário José Carlos Bumlai, para quem já trabalhava, disse que estava interessado em um imóvel para instalar um empreendimento.

De acordo com Teixeira, Bumlai desistiu do negócio e indicou um primo, o pecuarista Glaucos da Costamarques, como possível comprador. Segundo o advogado, Costamarques queria ter o terreno como investimento, e adquiriu a opção de compra do imóvel.

Segundo Teixeira, Costamarques disse que queria um lucro de, no mínimo, R$ 1 milhão. O advogado disse ter recebido honorários de 20% sobre o valor do lucro.

De acordo com Costamarques, a DAG pagou a ele R$ 800 mil pela opção de compra, valor que foi confirmado pelo dono da construtora, Demerval Gusmão.

Teixeira negou que, no momento em que o pecuarista entrou no negócio, já houvesse um comprador para o terreno.

Costamarques também é réu no processo, acusado de ter sido laranja da Odebrecht e de Lula na compra de um apartamento para o ex-presidente em São Bernardo do Campo.

O pecuarista acusou Teixeira de ter pedido um pagamento de R$ 800 mil em espécie para o Instituto Lula, e disse ter mandado R$ 650 mil em "um carro blindado com um cofre no banco traseiro". No interrogatório de hoje, o advogado negou ter recebido dinheiro em espécie. A defesa de Lula afirmou que o instituto jamais recebeu recursos de Costamarques.

Marisa Letícia cuidava do aluguel, afirma Teixeira

Roberto Teixeira atribuiu à ex-primeira-dama, Marisa Letícia, morta em fevereiro, a responsabilidade pelo pagamento do aluguel do apartamento vizinho ao do ex-presidente em São Bernardo do Campo (SP) --que, segundo o MPF, foi comprado pela Odebrecht como propina para Lula por meio de Glaucos da Costamarques.

Teixeira diz ter elaborado o contrato de Marisa como locatária do apartamento adquirido por Costamarques. Em seu depoimento, Lula também disse que Marisa Letícia cuidava dos aluguéis do imóvel.

Moro perguntou ao advogado se ele tinha conhecimento de que os aluguéis não foram pagos entre fevereiro de 2011 e novembro de 2015 --Costamarques afirmou a Moro que só recebeu aluguéis a partir de 2015. Teixeira aumenta o tom de voz e responde que não tinha a responsabilidade de fazer a cobrança de aluguel. "Eu sou advogado, não sou imobiliário, não vou ficar cobrando qualquer outra coisa no contrato de locação. Não é do meu interesse", disse.

O réu também negou ter tratado do suposto atraso nos aluguéis com Lula. "Minha atuação é apenas e tão somente como advogado. Não sou administrador, não sou gestor. Sou amigo, tão somente amigo, mas minha amizade não se estende a essas outras informações todas", disse.

Teixeira também disse que o fato de os aluguéis estarem declarados no Imposto de Renda de Lula e de Costamarques demonstra que os valores foram efetivamente pagos. "Se constou no imposto de renda, é porque existe."

Segundo o advogado, o apartamento foi comprado por Costamarques diante do interesse de investir em imóveis e da vontade da família de Lula em manter a privacidade, sem a presença de estranhos na unidade vizinha. Lula disse não saber em que circunstância o imóvel foi comprado.