Topo

Cabral discute com Bretas, cita família de juiz e é repreendido; veja o vídeo do interrogatório

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

23/10/2017 15h13

O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), fez críticas aos processos do qual é réu e ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela 1ª instância da Lava Jato, durante depoimento à 7ª Vara da Justiça Federal nesta segunda-feira (23). No primeiro encontro entre Cabral e Bretas após duas condenações --uma a 45 anos de prisão e outra a 13--, o ex-governador disse que o juiz "está encontrando em mim uma possibilidade de gerar uma projeção pessoal e me fazendo um calvário", além de tecer críticas ao magistrado ao longo do depoimento.

“Vossa Excelência já me condenou em duas ocasiões, uma em 45 anos e outra em 13 anos. Percebe-se, a partir dessas condenações, que vossa excelência não acredita em mim”, declarou Cabral. “Comprei joias para minha mulher em datas comemorativas”, continuou. A ação penal se refere a suposta lavagem de dinheiro por meio de compra de joias sem nota fiscal ou certificação nominal, revelada após a celebração de acordo de colaboração premiada por parte da joalheria.

Em interrogatório sobre ação penal referente a acusação de lavagem de dinheiro por meio de compra de joias, Cabral afirmou que a família do juiz Bretas teria entrosamento com o assunto porque "vendia bijuterias". O magistrado repreendeu a defesa de Cabral, dizendo que se sentia ameaçado pela afirmação.

Após a discussão, Bretas autorizou a transferência de Cabral para um presídio federal, atendendo a pedido do MPF (Ministério Público Federal). O pedido foi feito porque Cabral mencionou informações pessoais a respeito de Bretas, sobre as quais ele supostamente não deveria ter tido acesso.

Não foi definida a unidade prisional para a qual o ex-governador será enviado. A defesa de Cabral afirma que a decisão é arbitrária e que irá recorrer. São quatro presídios federais existentes no país: Mossoró (RN), Campo Grande (MS), Catanduvas (PR) e Porto Velho (RO).

Bretas perguntou se Adriana Ancelmo teria usado joias mais baratas como parte do pagamento de joias mais caras. Cabral respondeu que tal prática é de “praxe” ao se comprar joias, e classificou a denúncia como um “teatro” do Ministério Público.

“Eu leio meus processos. Você olha e percebe que há um ‘recorta e cola’ de um processo ao outro”, disse o ex-governador.

Cabral: joias com dinheiro de caixa 2

Cabral disse ter comprado joias para sua mulher, Adriana Ancelmo, com dinheiro proveniente de caixa dois de campanha eleitoral. Ele negou que o dinheiro fosse fruto de propina ou de superfaturamento em contratos do governo estadual.

O ex-governador fluminense também admitiu que não houve emissão de nota fiscal porque as joias foram compradas sob parcelamento e com desconto, e que a condição dada pela H.Stern seria uma compra sem nota fiscal.

Procurada pelo UOL, a joalheria não se manifestou até a publicação desta reportagem.

De acordo com o MPF, por cinco vezes, os acusados adquiriam joias e pedras preciosas --avaliadas no valor total de R$ 4,5 milhões-- com propósito de ocultarem ou dissimular a origem de dinheiro derivado de crimes praticados pela organização criminosa.

A denúncia diz ainda que o dinheiro era oriundo de propinas pagas por empreiteiras entre os anos de 2007 e 2014, em contratos para obras do metrô, reforma do Maracanã, PAC das Favelas e do Arco Metropolitano.

Cabral negou ainda o superfaturamento de obras em seu governo, alegando que executivos da Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez teriam negado esta afirmação em depoimento na semana passada.