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Eduardo Cunha diz que Funaro quer transformá-lo em "posto Ipiranga"

Veja a íntegra do depoimento de Eduardo Cunha (Parte 3)

UOL Notícias

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

06/11/2017 09h39Atualizada em 06/11/2017 18h23

O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou, em depoimento nesta segunda-feira (6), que as denúncias contra ele sobre sua suposta participação em um esquema de corrupção na Caixa não são verdadeiras e que ele pretende rebater cada ponto das acusações.

Boa parte do depoimento Cunha, que durou cerca de 6h e meia, concentrou em rebater as acusações lançadas pelo delator Lúcio Funaro, que ele classificou como "mentiras".

Ele [Funaro] está me transformando num posto Ipiranga. Tudo é Eduardo Cunha."

Eduardo Cunha, ex-deputado

O ex-deputado prestou depoimento nesta segunda-feira (6) como réu no processo em que foi acusado de integrar um esquema de corrupção na Caixa Econômica para liberação de recursos do FI-FGTS, fundo de investimentos gerido pelo banco estatal.

A denúncia aponta que entre os anos de 2011 e 2015 o esquema funcionava por meio da cobrança de propina de empresas para liberar investimentos feitos com recursos do FI-FGTS.

Cunha disse que Funaro se aproveitou de perguntas feitas por ele ao presidente Michel Temer no processo do FI-FGTS para construir parte de sua delação.

"Ele se aproveitou de minhas perguntas para construir uma história que não aconteceu", disse.

A defesa de Cunha encaminhou uma lista com 22 perguntas a Temer, indicado como testemunha de defesa no processo. O presidente, por causa do cargo, tem a prerrogativa de responder por escrito.

O ex-ministro e ex-deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) também foi denunciado neste processo por suspeita de ter se beneficiado do esquema.

Uma peça-chave no esquema, segundo a acusação, era o então vice-presidente de Fundos de Governo e Loteria da Caixa Fábio Cleto, que representava o banco no comitê de investimentos do FI-FGTS e fechou acordo de colaboração premiada.

Os delatores dizem que Cunha foi o principal responsável pela indicação e manutenção de Cleto no cargo.

Em seu depoimento à 10ª Vara Federal, o ex-vice-presidente da Caixa afirmou que a aprovação dos projetos pela Caixa sofria influência de Cunha e de Funaro.

"Desde o início comecei sob orientação de Lúcio Funaro ou de Eduardo Cunha", disse.

Segundo Cleto, ele informava a Cunha e Funaro quais empresas tinham pedidos de financiamento e aguardava a resposta de Cunha ou Funaro sobre se deveria reter ou dar seguimento à aprovação do pedido. Segundo o delator, posteriormente ele era informado do valor de propina cobrado das empresas.

Apesar de os financiamentos serem decididos por 12 votos do conselho que deliberava sobre os investimentos, Cleto afirmou considerar que seu voto exercia influência sobre os demais, pelos argumentos técnicos que trazia.

"Não acredito que meu voto era o decisivo, mas acredito sim que tive influência dentro desse comitê", afirmou Cleto.

Eduardo Cunha negou ter indicado Fábio Cleto para a vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa. "Eu só vim conhecer [Fábio Cleto] depois da nomeação dele", disse. O ex-deputado também afirmou que a responsabilidade pela nomeação de Cleto para representar o banco no comitê gestor do FI-FGTS foi do então presidente da Caixa, Jorge Hereda. Segundo Cunha, o PMDB não fez nenhum pedido para que Cleto ocupasse o cargo.

A denúncia cita nove casos em que teria sido cobrado propina pelo grupo ligado a Cunha para a aprovação de projetos do FI-FGTS.

O delator Lúcio Funaro, que atuava como corretor de valores e indicou Cleto a Cunha, afirma ter como provar todos os pagamentos que ele fez para o ex-deputado.

"Eu tenho como provar como gerei o dinheiro, como paguei, que eu paguei o advogado dele na Suíça, tenho todas essas provas. Aí eu quero ver como ele vai negar", disse Funaro em depoimento à 10ª Vara Federal. 

O delator Alexandre Margotto, que trabalhou na empresa do corretor, em São Paulo, disse em seu depoimento ter visto um funcionário de Cunha buscar dinheiro no escritório de Funaro.

O próprio Funaro afirmou, também em audiência desse processo, que Cunha teria alugado um flat próximo ao escritório dele para buscar dinheiro de propina e distribuir a aliados.

"O deputado Eduardo Cunha alugou um flat na mesma rua que a minha para pegar dinheiro no meu escritório, levar pro flat e lá distribuir dinheiro de propina", disse o delator.

Cunha negou que Funaro fosse um operador do PMDB em esquemas ilícitos, ao responder qual a relação que o corretor de valores mantinha com o partido.

"Zero [relação]. Todo mundo que ele conheceu foi através de mim. Ninguém sabe quem é Lúcio Funaro. Operador coisa nenhuma. Isso é uma história que ele está criando para fazer delação", disse Cunha.

O ex-deputado também desafiou Funaro a provar que pagou a ele dinheiro de propina. Segundo Cunha, todos os valores que ele recebeu são fruto de lucros em operações no mercado financeiro.

Cunha também negou a acusação de Funaro de que ele teria pedido dinheiro para comprar votos contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no processo de impeachment. Segundo Cunha, o delator não apresentou provas, como ligações ou mensagens de celular, de que o pedido foi feito.

"Nessa data do impeachment tinha seis meses que eu não encontrava Lúcio Funaro", disse.

Além de Cunha, são réus nessa ação o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e os delatores Lúcio Funaro, Fábio Cleto e Alexandre Margotto.

Cleto, Funaro e Margotto firmaram acordos de colaboração premiada com a Justiça.

Eduardo Cunha tem negado o envolvimento em qualquer prática ilegal e afirma que Funaro mente.

A defesa de Henrique Alves afirma que não há provas contra ele.

Veja a íntegra do depoimento de Eduardo Cunha (Parte 1)

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Veja a íntegra do depoimento de Eduardo Cunha (Parte 2)

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