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"Estamos de bem", diz Bretas após Cabral pedir desculpas em interrogatório

Cabral discute com juiz da Lava Jato em audiência

UOL Notícias

Hanrrikson de Andrade e Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

08/11/2017 19h47Atualizada em 09/11/2017 07h45

Após um último encontro tenso, que terminou com o juiz Marcelo Bretas decidindo transferir o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para um presídio federal, ambos trocaram gentilezas no interrogatório desta quarta-feira (8) em ação que apura irregularidades na área da saúde. “Estamos de bem”, disse Bretas depois de Cabral pedir desculpas ao magistrado e dizer que estava muito exaltado na última vez que compareceu em juízo.

Diferentemente do último interrogatório de Cabral, no dia 23 de outubro, quando ele trocou farpas com o juiz, o clima foi amistoso nesta quarta, com momentos de descontração entre as partes. Um dos mais engraçados se deu quando o ex-governador foi perguntado sobre o apelido utilizado em um aplicativo de mensagens para supostamente se comunicar com os outros réus: "Cabra Macho".

"É se achar muito forte, né? Cabra macho?", respondeu o peemedebista, provocando risadas.

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Na sequência, o procurador do MPF (Ministério Público Federal) Eduardo El Hage questionou o motivo pelo qual Cabral utilizava aplicativos específicos para comunicação anônima, que destroem as mensagens tão logo elas sejam enviadas. "Pelo mesmo motivo que milhões de pessoas usam no mundo", retrucou o ex-governador.

"Sim, por que? O senhor é uma delas", rebateu El Hage. "Pergunte a elas", finalizou Cabral.

O ex-governador citou ainda supostos dossiês contra o juiz e integrantes da Lava Jato que ele estaria financiando, segundo investigações da Polícia Federal. “Não há nada meu pessoal contra o senhor. Estão falando em um dossiê… O senhor tem que acreditar em mim, que não fiz isso”, afirmou.

Bretas retrucou que não teria o que dizer a respeito uma vez que, se de fato há uma investigação, está fora de sua alçada. “Vai ser investigado e vão ver que não tem cabimento. É um factoide, um terrorismo”, respondeu Cabral.

Cabral aproveitou os questionamentos sobre irregularidades na área da saúde para falar do que via como realizações do seu governo, como as UPAs e o crescimento no número de leitos de UTIs nos hospitais. Na sala com cerca de 50 pessoas, dois policiais civis armados com pistolas e fuzis acompanhavam o interrogatório em frente a cinco buquês de rosas amarelas deixados sobre um móvel.

Cabral cita R$ 2,5 milhões de caixa 2 a Pezão

O ex-governador disse ter recebido do empresário Miguel Iskin R$ 2,5 milhões em caixa dois na campanha eleitoral de 2014, quando o seu ex-vice e hoje chefe do Executivo fluminense, Luiz Fernando Pezão (PMDB), saiu vitorioso da disputa. Iskin é réu na mesma ação penal, decorrente da Operação Fatura Exposta.

O dinheiro foi repassado a pedido de Cabral, entre 2013 e 2014, quando o ex-governador assumiu a tarefa de "coordenador de campanha" de políticos do PMDB. Na versão dele, Iskin destinou R$ 2,5 milhões em caixa dois e mais R$ 500 mil em doação declarada para um partido aliado.

Cabral declarou ainda nunca ter solicitado pagamento de propina, e sim de caixa dois, mesma posição que ele já havia defendido em audiências anteriores na 7ª Vara Federal Criminal (RJ).

A defesa de Cabral solicitou a Bretas que invalidasse o termo de colaboração de César Romero. Segundo ele, as informações apresentadas nos depoimentos, incluindo o de Carlos Miranda, apontado como operador de Cabral, seriam suficientes para invalidar a delação apresentada por Romero. O magistrado indeferiu o pedido.

Confira na íntegra como foi o depoimento de Cabral nesta quarta

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Gilmar Mendes mantém Cabral preso no Rio

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes concedeu no dia 31 de outubro liminar que manteve Cabral em prisão do Rio de Janeiro. A decisão suspendeu transferência para o presídio federal de segurança máxima em Campo Grande (MS). O habeas corpus foi apresentado ao STF pela defesa de Cabral.

No dia 23 do mês passado, a transferência foi determinada pelo juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro após pedido do MPF.

A solicitação foi feita depois que Cabral mencionou informações pessoais sobre Bretas durante interrogatório na 7ª Vara, em processo referente a suposto crime de lavagem de dinheiro a partir da aquisição de joias e pedras preciosas. Na ocasião, o peemedebista afirmou que a família de Bretas era proprietária de negócio no ramo de bijuterias. Repreendido pelo juiz, o político respondeu: "São as informações que me chegaram".

Fatura Exposta

Além do ex-secretário estadual de Saúde Sérgio Côrtes, a Polícia Federal prendeu em abril passado os empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita. A operação Fatura Exposta investigou a prática de corrupção no sistema de saúde do Estado. Iskin e Estellita são sócios na empresa Oscar Iskin, que, de acordo com a Polícia Federal, era favorecida pelo ex-secretário de Saúde em contratos e licitações.

As investigações começaram no final de 2016 após denúncias de fraudes em licitações em próteses para o Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia) na gestão de Cabral. Segundo delação de César Romero, ex-funcionário do Into e da Secretaria de Saúde, a Oscar Iskin teria sido favorecida mediante cobrança de propina.

O pagamento ilícito chegaria a 10% dos valores dos contratos. "Os servidores públicos envolvidos direcionavam licitações para beneficiar empresários investigados em troca do pagamento de propina no valor de 10% dos contratos", informou a PF.

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o pagamento das vantagens indevidas nas compras por pregões internacionais, por exemplo, se dava na proporção de 5% para Cabral e 2% para o ex-secretário. Os procuradores informam que, como havia fraude no pagamento dos tributos na importação dos equipamentos, além desses percentuais, cerca de 40% do total dos contratos era rateado entre Côrtes e o empresário Miguel Iskin, em conta aberta nos Estados Unidos (Bank of America).