Pato da Fiesp visava promover Paulo Skaf para eleição de 2018, diz delator
Um dos símbolos dos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o pato amarelo da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) foi criado em 2015 para uma campanha contra o aumento de impostos, mas “tinha claramente o objetivo de promover” a imagem de Paulo Skaf, presidente da entidade, para as eleições ao governo do Estado de 2018.
A declaração é do publicitário Renato Pereira, responsável pela campanha “Chega de pagar o pato”, e consta no acordo de delação premiada fechado por ele com a PGR (Procuradoria-Geral da República). Na última terça-feira (14), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski, relator do processo, negou a homologação dos termos da colaboração, determinando que as cláusulas do acordo sejam modificadas pela Procuradoria.
Pereira é sócio da agência Prole, que venceu em 2015 uma licitação para assumir a conta institucional de comunicação da Fiesp, além do Sesi e do Senai de São Paulo --entidades vinculadas à federação paulista--, no valor aproximado de R$ 50 milhões, segundo o delator. Aos procuradores, o marqueteiro contou ter sido questionado por Skaf meses antes sobre se ele tinha interesse em participar da concorrência, e sinalizou que pode ter sido beneficiado pelo dirigente patronal.
Em nota, Skaf afirmou que as declarações do publicitário não merecem credibilidade. "São mentiras produzidas por um profissional que teve interesses contrariados. Seus contratos com o Sesi e o Senai não foram renovados. Ele também perdeu a licitação que disputou no Sebrae de São Paulo", declarou. Ainda segundo o comunicado, as contratações das entidades "seguem regras rígidas" e são auditadas pelas autoridades.
No depoimento à PGR, o publicitário disse “obviamente ter todo o interesse”, porque era uma conta importante “de quase 50 milhões de reais”. Segundo Pereira, o presidente da Fiesp então falou sobre o interesse em disputar as próximas eleições para o governo paulista. "É um cenário longínquo, mas eu queria evitar os erros que eu tive em 2014”, disse Skaf, de acordo com o marqueteiro.
Presidente da Fiesp desde 2004, Skaf já foi duas vezes candidato ao governo de São Paulo. Em 2010, pelo PSB, ficou em 4º lugar. Quatro anos depois, já pelo PMDB, seu atual partido, foi o segundo colocado, mas o governador Geraldo Alckmin (PSDB) venceu a eleição no primeiro turno. Pereira apontou que as duas campanhas foram comandadas pelo marqueteiro Duda Mendonça, cuja agência era responsável pela conta da Fiesp em ambas as ocasiões.
Instado pelos procuradores a dar detalhes sobre a licitação, ele contou que aproveitou um almoço com Skaf no Rio de Janeiro para dar ao presidente da Fiesp "um papelzinho" que continha o nome da proposta da Prole. "O Paulo recebeu, sem nenhum comentário, e, enfim, pouco tempo depois, vencemos a licitação", comentou. O publicitário explicou que o conteúdo do bilhete permitiria que a sua proposta fosse identificada no processo licitatório. "Em qualquer disputa licitatória, é assim que se faz."
"Para ser bem preciso, o Paulo Skaf nunca disse para mim explicitamente 'a Prole vai ganhar a conta', mas nas entrelinhas, ele sempre manifestou isso. [Ele dizia] 'quero trabalhar com você, em particular, e ter vocês aqui comandando a parte de publicidade e marketing da Fiesp, Sesi e Senai e quero ter você como o meu marqueteiro na campanha de de 2018", ponderou Pereira.
Sobre atuação na Fiesp, Sesi e Senai, ele declarou que havia uma “orientação política e eleitoral muito clara, mas travestido de trabalho institucional”. “Fizemos algumas campanhas, entre as quais a do pato, que começou como uma campanha de impostos e acabou assumindo uma dimensão maior durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma”, afirmou o publicitário.
"[Em] Toda e qualquer peça publicitária que nós tivéssemos que fazer para a televisão, era obrigatória a presença física do Paulo Skaf. Isso acontecia porque nosso trabalho estava orientado para preparar a candidatura do Paulo Skaf ao governo de São Paulo em 2018”, destacou Pereira.
Acordo em xeque
A PGR poderá reapresentar o pedido de homologação, que será novamente analisado pelo ministro. Em sua decisão, Lewandowski afirmou não concordar com cláusulas do acordo de delação. Ele rejeitou, por exemplo, que a Procuradoria acordasse com o réu o tempo de cumprimento da pena e o perdão de parte dos crimes.
A proposta de acordo previa que Pereira cumpriria apenas um ano em reclusão domiciliar noturna. A punição seria relativa apenas pelas supostas irregularidades na campanha de 2014, em que trabalhou pela reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) no Rio de Janeiro.
O ministro também não aceitou a cláusula que permitiria a Pereira fazer viagens a trabalho ou para visitar parentes até o 3º grau, no Brasil ou para o exterior. Para Lewandowski, tanto o estabelecimento da pena quanto a autorização para viagens deve ser definida posteriormente pelo juiz do caso.
A Procuradoria se comprometeu a não denunciar Pereira pelos supostos crimes delatados em outras campanhas políticas. Lewandowski decidiu retirar o sigilo sobre o processo, com o argumento de que o conteúdo dos depoimentos de Pereira já vinham sendo publicados em diferentes reportagens na imprensa, desde antes de o processo chegar ao STF. Determinou ainda que a Polícia Federal apure o "vazamento" da delação.
Além da campanha de Pezão, Renato Pereira indicou em sua delação suspeitas de crimes em campanhas do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB).
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