Não há registro de panes em avião que caiu com Teori, diz órgão da FAB
O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) informou que não há registro de panes ou mau funcionamento na aeronave que caiu com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki em 19 de janeiro de 2017 em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro. Segundo o órgão, as condições visuais se deterioraram durante o voo, o que pode ter contribuído para o acidente.
Nesta segunda-feira (22), o Cenipa, subordinado à FAB (Força Aérea Brasileira) e responsável pela apuração de acidentes de avião no Brasil, apresentou o relatório final da investigação do caso. Segundo o próprio centro, não se trabalha com uma única causa de acidente, mas com fatores que contribuíram para o mesmo.
O investigador do Cenipa encarregado pelo caso, coronel aviador Marcelo Moreno, informou que o avião estava com a manutenção atualizada e a documentação em dia. “Não havia registros de panes ou mau funcionamento relacionados aos sistemas da aeronave”, disse.
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O coronel aviador disse que é seguro decolar e pousar no aeroporto de Paraty desde que se respeitem as condições visuais e meteorológicas. No dia do acidente, entre 10h e 16h, a visibilidade estava abaixo da permitida para pousos, com nebulosidade mais intensa entre 12h e 14h, devido à formação de nuvens com chuva. O avião caiu às 13h44, quando havia chuva moderada na região, informou o Cenipa.
As fases de decolagem, subida, voo de cruzeiro e descida ocorreram sem anormalidades.
Em 19 de janeiro de 2017, o relator da Operação Lava Jato no STF morreu aos 68 anos após a queda do avião em que estava junto a outras quatro pessoas no litoral de Paraty. Os demais ocupantes eram o empresário do grupo Emiliano e dono do avião, Carlos Alberto Filgueiras, de 69 anos; a massoterapeuta Maira Lidiane Panas Helatczuk, de 23 anos,;a mãe dela, Maria Ilda Panas, 55; e o piloto, Osmar Rodrigues, 56.
Como foi o acidente
O avião modelo Hawker Beechcraft King Air C90 era de porte pequeno e tinha capacidade para acomodar até oito pessoas. O bimotor turbohélice decolou às 13h01 de 19 de janeiro do ano passado do aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, e caiu por volta às 13h44, quando estava a 2 km de distância da cabeceira da pista do aeroporto de Paraty, próximo à Ilha Rasa.
Com o impacto da queda no mar, os dois motores da aeronave se desprenderam das asas, afirma o Cenipa. A seção dianteira da fuselagem, porém, ficou relativamente preservada. Dados dos destroços indicam que o piloto teve a intenção de recolher o trem de pouso, que já estava quase completamente fechado.
A alavanca dos flaps na cabine do piloto foi encontrada na posição chamada “approach”. Esta é utilizada para que a aeronave se mantenha em velocidade mais baixa e possa pousar em segurança. O velocímetro não continha marcas visíveis que pudessem indicar a velocidade no momento do impacto na água.
Testemunhas afirmam que chovia forte no momento do acidente e que o piloto teria feito uma curva, abandonando a aproximação final para a pista de Paraty, que só pode acontecer em condição visual. Nesse momento, o avião perdeu altitude e se chocou com a água. Pelo menos uma pessoa afirma ter visto uma fumaça saindo da aeronave antes da queda.
De acordo com o Cenipa, o campo visual do piloto estava restrito devido às condições meteorológicas e não havia a presença de relevo que pudesse fornecer sinais visuais que permitissem ao piloto estimar a sua altura. Na busca de melhor visibilidade, o piloto fez a curva de arremetida, mas, como estava muito próximo ao mar, acabou se chocando com a água.
O Cenipa informou que a grande inclinação pode ter sido aplicada pelo piloto por desorientação espacial causada pela força gravitacional e por uma ilusão visual de terreno homogêneo.
Após a primeira tentativa de pouso, o piloto informou que iria esperar a melhora das condições visuais da região. O Cenipa afirmou que, em geral, o tempo de espera nestes casos é de quatro minutos. No entanto, o piloto aguardou somente cerca de dois minutos antes da fazer a segunda aproximação. Para o centro, o dado indica que ele desistiu de aguardar a melhora meteorológica.
Documentação estava regular
De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a documentação da aeronave estava regular, com validade até abril de 2022, e a inspeção da manutenção anual era válida até abril de 2017.
O Cenipa informou que o piloto tinha aproximadamente 7,5 mil horas de voo, sendo 3 mil somente neste modelo de avião. Nos últimos 12 meses anteriores ao acidente, realizou 33 voos com destino a Paraty. Todas as licenças estavam em dia e não foram verificadas deficiências em sua qualificação para operar o avião.
Ainda de acordo com o centro, não foram encontrados problemas de saúde dele que pudessem comprometer seu trabalho. Os exames toxicológicos realizados no IML (Instituto Médico Legal) não apontaram indícios de ingestão de álcool ou outras substâncias antes do acidente.
De acordo com o Cenipa, as informações e os relatos colhidos são voluntários e informais. O processo que poderá apontar eventuais responsabilidades é o que corre na Justiça, conduzido pela Polícia Federal, e que está sob segredo.
A investigação do Cenipa contou com a participação de 18 especialistas, entre pilotos, meteorologia, mecânico de aeronaves, médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e engenheiros aeronáutico e mecânico.
Pouco antes da divulgação do relatório final à imprensa, o documento foi apresentado para familiares das vítimas envolvidas na sede do Cenipa em Brasília.
Após a morte de Teori Zavascki, a relatoria da Operação Lava Jato no STF foi redistribuída, via sorteio, ao ministro Edson Fachin. Já a vaga deixada na Corte ficou com Alexandre de Moraes, indicado pelo presidente Michel Temer (PMDB) e aprovado pelo Senado.
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