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Piloto de avião com Teori apresentava preocupação e ansiedade antes da queda, diz Cenipa

Osmar Rodrigues era o piloto da aeronave que caiu em Paraty - Reprodução/Facebook
Osmar Rodrigues era o piloto da aeronave que caiu em Paraty Imagem: Reprodução/Facebook

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

22/01/2018 17h21Atualizada em 22/01/2018 18h10

O piloto Osmar Rodrigues, de 56 anos, comandante do avião que transportava o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki, apresentou traços de preocupação e ansiedade instantes antes da queda, afirmou o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

A constatação foi feita por meio da extração de dados da voz de Rodrigues em um equipamento de gravação na aeronave.

“O estado emocional influencia o falante, causando variações decorrentes de respostas fisiológicas. Essas alterações, por sua vez, ocasionam variações na respiração, fonação e articulação, processos diretamente relacionados à fala. O piloto apresentava traços de apreensão/preocupação e ansiedade, sobretudo, no instante imediatamente anterior ao impacto. Não foram encontrados indícios de fadiga nem sonolência na voz do piloto”, informou a apresentação do Cenipa apresentada nesta segunda-feira (22).

O Cenipa, subordinado à FAB (Força Aérea Brasileira) e responsável pela apuração de acidentes de avião no Brasil, apresentou o relatório final da investigação do caso. Segundo o próprio centro, não se trabalha com uma única causa de acidente, mas com fatores que contribuíram para o mesmo.

A investigação do Cenipa também apontou que Rodrigues não se comunicou com os quatro passageiros nos últimos 30 minutos de voo. Ainda segundo relatos colhidos, não havia problemas na relação profissional entre o piloto e o proprietário do avião.

O Cenipa ressaltou que, à época do acidente, havia uma cultura profissional dos proprietários de aviões e dos pilotos que voam na região de valorizar e reconhecer aqueles que conseguiam voar sob condições adversas em detrimento dos requisitos mínimos de segurança. Para o Cenipa, essas características podem ter pressionado Rodrigues a fazer as tentativas de pouso.

Em 19 de janeiro de 2017, o relator da Operação Lava Jato no STF morreu aos 68 anos após a queda do avião em que estava junto a outras quatro pessoas no litoral de Paraty. Os demais ocupantes eram o empresário do grupo Emiliano  e dono do avião, Carlos Alberto Filgueiras, de 69 anos; a massoterapeuta Maira Lidiane Panas Helatczuk, de 23 anos,;a mãe dela, Maria Ilda Panas, 55; e o próprio piloto.

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Como foi o acidente

O avião modelo Hawker Beechcraft King Air C90 era de porte pequeno e tinha capacidade para acomodar até oito pessoas. O bimotor turbohélice decolou às 13h01 de 19 de janeiro do ano passado do aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, e caiu às 13h44, quando estava a 2 km de distância da cabeceira da pista do aeroporto de Paraty, próximo à Ilha Rasa.

Com o impacto da queda no mar, os dois motores da aeronave se desprenderam das asas, afirma o Cenipa. A seção dianteira da fuselagem, porém, ficou relativamente preservada. Dados dos destroços indicam que o piloto teve a intenção de recolher o trem de pouso, que já estava quase completamente fechado.

A alavanca dos flaps na cabine do piloto foi encontrada na posição chamada “approach”. Esta é utilizada para que a aeronave se mantenha em velocidade mais baixa e possa pousar em segurança. O velocímetro não continha marcas visíveis que pudessem indicar a velocidade no momento do impacto na água.

Testemunhas afirmam que chovia forte no momento do acidente e que o piloto teria feito uma curva, abandonando a aproximação final para a pista de Paraty, que só pode acontecer em condição visual. Nesse momento, o avião perdeu altitude e se chocou com a água. Pelo menos uma pessoa afirma ter visto uma fumaça saindo da aeronave antes da queda.

No momento da decolagem do avião no Campo de Marte, as condições para o pouso em Paraty ainda estavam dentro do adequado, afirma a investigação. No entanto, a visibilidade piorou ao longo do voo e chegou a ser de apenas 1,5 km a partir da pista de pouso – o mínimo ideal é de 5 km.
 
Antes da queda, o piloto fez duas tentativas de aproximação do aeroporto de Paraty. Na primeira tentativa, o trem de pouso foi baixado quando a aeronave estava a 1.570 pés. Ao realizar uma descida mais vertical, um alerta foi acionado pelo sistema do avião. Segundo o Cenipa, o som foi silenciado pelo piloto. Este, em seguida, recolheu o trem de pouso e se afastou da trajetória rumo ao aeroporto.
 
Na segunda tentativa, o alerta continuou silenciado. No entanto, segundo o Cenipa, neste caso, ao se aproximar do solo, o aviso não seria mais emitido pelo sistema da aeronave, pois esta entendia que o piloto estava tentando pousar e, por isso, estava tão perto do solo. O trem de pouso chegou a ser baixado novamente, mas foi recolhido 15 segundos antes do impacto com a água. Nesse instante, a aeronave realizava uma curva à direita a 270 pés, equivalente a 90 metros de altura.
 

De acordo com o Cenipa, o campo visual do piloto estava restrito devido às condições meteorológicas e não havia a presença de relevo que pudesse fornecer sinais visuais que permitissem ao piloto estimar a sua altura. Na busca de melhor visibilidade, o piloto fez a curva de arremetida, mas, como estava muito próximo ao mar, acabou se chocando com a água.

O Cenipa informou que a grande inclinação pode ter sido aplicada pelo piloto por desorientação espacial causada pela força gravitacional e por uma ilusão visual de terreno homogêneo.

Após a primeira tentativa de pouso, o piloto informou que iria esperar a melhora das condições visuais da região. O Cenipa afirmou que, em geral, o tempo de espera nestes casos é de quatro minutos. No entanto, o piloto aguardou somente cerca de dois minutos antes da fazer a segunda aproximação. Para o centro, o dado indica que ele desistiu de aguardar a melhora meteorológica.

 
Nos últimos 10 anos, houve 13 acidentes na região de Paraty e de Angra dos Reis. Em seis deles, segundo o Cenipa, as condições meteorológicas tiveram importância considerável para os casos.

Documentação estava regular

De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a documentação da aeronave estava regular, com validade até abril de 2022, e a inspeção da manutenção anual era válida até abril de 2017.

O Cenipa informou que o piloto tinha aproximadamente 7,5 mil horas de voo, sendo 3 mil somente neste modelo de avião. Nos últimos 12 meses anteriores ao acidente, realizou 33 voos com destino a Paraty. Todas as licenças estavam em dia e não foram verificadas deficiências em sua qualificação para operar o avião.

Ainda de acordo com o centro, não foram encontrados problemas de saúde dele que pudessem comprometer seu trabalho. Os exames toxicológicos realizados no IML (Instituto Médico Legal) não apontaram indícios de ingestão de álcool ou outras substâncias antes do acidente.

De acordo com o Cenipa, as informações e os relatos colhidos são voluntários e informais. O processo que poderá apontar eventuais responsabilidades é o que corre na Justiça, conduzido pela Polícia Federal, e que está sob segredo.

A investigação do Cenipa contou com a participação de 18 especialistas, entre pilotos, meteorologia, mecânico de aeronaves, médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e engenheiros aeronáutico e mecânico.

Após a morte de Teori Zavascki, a relatoria da Operação Lava Jato no STF foi redistribuída, via sorteio, ao ministro Edson Fachin. Já a vaga deixada na Corte ficou com Alexandre de Moraes, indicado pelo presidente Michel Temer (PMDB) e aprovado pelo Senado.

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