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Enquanto discutem se Lula deve se entregar, lideranças convocam resistência da militância

Aiuri Rebello, Bernardo Barbosa e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Bernardo do Campo (SP)*

06/04/2018 00h19Atualizada em 06/04/2018 02h35

Lideranças petistas e de esquerda estão reunidas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início da noite de quinta-feira (5) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Elas ainda discutem se o petista deve ou não se entregar para cumprir prisão no Paraná. Em discursos à militância ao lado da entidade, porém, eles convocaram a militância a ficar em vigília no ABC para impedir que o ex-presidente seja levado por agentes da polícia federal. Lula não discursou.

Na tarde de quinta, o juiz federal Sergio Moro decretou a prisão do ex-presidente e determinou que ele se apresente até as 17h de sexta na sede da Polícia Federal em Curitiba. No despacho, o magistrado determinou que a defesa de Lula acerte os detalhes da apresentação com o superintendente da PF no Paraná, delegado Maurício Valeixo.

O PT convocou a militância para fazer nesta noite uma vigília em frente ao Sindicato, onde Lula chegou antes das 20h, e para lá ficar durante toda a sexta-feira. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) chegou a cogitar um "cordão humano" para evitar que a PF alcance o ex-presidente dentro da sete da entidade.

"Vamos formar um cordão humano. Se eles quiserem, eles vão ter que vir aqui, como vieram na ditadura militar, para prender o ex-presidente", disse o senador.

O senador Humberto Costa reiterou as palavras do colega: "Se o povo que aqui está quiser, nós vamos resistir, não vamos deixar prender o ex-presidente", discursou.

Ao UOL, porém, Costa admitiu que a resistência de Lula ainda está sendo discutida internamente e não há consenso em torno do assunto.

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O pré-candidato do PSOL à Presidência, Guilherme Boulos, convocou a militância a passar a noite no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC “para não deixarem prender” Lula. No discurso, Boulos disse que o sindicato será “mais uma vez palco da trincheira pela democracia neste país”. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é o berço do Partido dos Trabalhadores e foi foco de resistência contra a ditadura militar. 

“Nossa orientação é não arredar o pé dos arredores do sindicato para garantir com a mobilização que uma decisão injusta não seja efetivada”, declarou

Presidente do PT e senadora pelo Paraná, Gleisi Hoffmann também afirmou que a militância estará a postos amanhã, caso a Polícia tente levar Lula. "Quero parabenizar pela resistência, e amanhã estaremos aqui prontos", declarou do alto do carro de som.

A petista também voltou a criticar Sergio Moro, dizendo que ele não é juiz, mas sim um “militante político”. “Ele não é juiz, é militante político. Se fosse imparcial, não deixaria entregar nossas riquezas. É doentio o que ele está fazendo”, disse.

Tanto Gleisi quanto as demais lideranças do PT presentes no ato disseram que o ato de amanhã, para o qual partidos de esquerda e movimentos sociais estão fazendo convocações, será maior.

Outras manifestações, entre intervenções em ruas e estradas e vigílias, também estão sendo convocadas em diversas capitais brasileiras. O MST promete fechar 85 estradas pelo país.

Dilma rebate comandante do Exército sobre "impunidade"

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi uma das primeiras a falar do alto do carro de som colocado ao lado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Em sua fala, ela rebateu as frases do comandante do Exército, general Villas Bôas, postadas no Twitter.

"Quem fala em impunidade esquece que tem uma quadrilha no poder, esquece das pessoas que passeavam com malas cheia de dinheiro", afirmou Dilma

Na terça-feira, Villas Bôas escreveu: "Asseguro à nação que o Exército brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais. Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?".

Dilma acena para manifestantes pró-Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, após o pedido de prisão contra o ex-presidente - Marcelo Chello/AFP - Marcelo Chello/AFP
Dilma acena para manifestantes pró-Lula no Sindicato dos Metalúrgicos
Imagem: Marcelo Chello/AFP

Dilma afirmou ainda que Lula vai saber enfrentar o momento. "Ele é uma pessoa íntegra, forte e corajosa", disse a petista. "Ele vai enfrentar com a tranquilidade que têm os inocentes".

A ex-presidente reiterou que considera Lula inocente e disse que não se pode prender ninguém antes que todos os recursos sejam esgotados. "Lula ainda tinha o direito de recorrer, eles se apressaram", declarou.

Para ela, a prisão de Lula representa mais uma fase do golpe iniciado com o processo de impeachment, em 2016. "Colocaram no Planalto uma quadrilha", disse. "Estão impunes aqueles que passeiam para lá e para cá com malas de dinheiro", afirmou.

* Com Estadão Conteúdo