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Lula diz que não perdoa Moro, critica Justiça e afirma que vai cumprir mandado de prisão

Veja a íntegra do discurso de Lula

UOL Notícias

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

07/04/2018 13h02Atualizada em 07/04/2018 20h45

No primeiro discurso público após ter a prisão decretada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, neste sábado (7), que não perdoa o juiz federal Sergio Moro, o Ministério Público e a Polícia Federal por terem "mentido" sobre ele, mas afirmou que irá acatar ao mandado de prisão expedido pela Justiça Federal. Lula falou por quase uma hora sobre um caminhão de som na frente da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), criticou a imprensa e disse que "vai provar sua inocência".

"O crime que cometi foi colocar pobre na universidade", afirmou, conclamando militantes a, durante sua prisão, espalhar "Lulas por todo o país". "A morte de um combatente não para uma revolução e vocês serão milhões e milhões de Lulas. Quanto mais dias me deixarem lá, mais Lulas andarão por este país. Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera. Em muito pouco tempo, ficará claro que os criminosos são o delegado que me investigou, o procurador que me acusou e o juiz que me condenou. Vou para lá de cabeça erguida e vou sair de peito estufado", disse o ex-presidente.

“Vou atender o mandado deles. E vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece nesse país acontece por minha causa”, disse Lula em um discurso para militantes e simpatizantes que se aglomeravam ao redor da sede do sindicato desde quinta-feira.

Lula foi para o local na noite de quinta-feira (5), logo após ter a prisão decretada por Moro. O juiz deu a Lula um prazo para ele se entregar na sede da Polícia Federal em Curitiba até as 17h da última sexta-feira (6). 

“Eles sabem que a [TV] Globo mentiu quando disse que era meu [o apartamento tríplex]. A PF mentiu quando disse que era meu. O MPF mentiu quando fez a acusação dizendo que era meu. O Moro mentiu quando disse que era meu. Por isso que sou um cidadão indignado. Já fiz muita coisa nos meus 72, mas eu não os perdoo por terem passado para sociedade a ideia de que eu sou um ladrão”, afirmou o ex-presidente.

Após fazer o discurso, Lula relatou que teve uma ligeira queda de pressão ao voltar para o sindicato. Médicos de prontidão foram acionados, mas, antes mesmo de atendê-lo, o ex-presidente relatava já ter melhorado.

Emocionado e falando com a voz rouca, Lula citou várias passagens de sua trajetória como líder sindical durante sua fala.

No final de seu discurso, disse acreditar que “sairá dessa”. “Sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente porque quero provar que eles é cometeram um crime”, disse o ex-presidente. Depois, desceu do caminhão e foi carregado no ombro por militantes até uma das portas do prédio do sindicato.

Lula multidão - Francisco Proer/Reuters - Francisco Proer/Reuters
Lula é carregado por militantes após discursar em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Imagem: Francisco Proer/Reuters

Lula acusou o MPF e a imprensa de terem antecipado a morte de sua mulher, Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2017 após um AVC (acidente vascular cerebral).

“Talvez viva o momento de maior indignação que um ser humano vive. Não é fácil o que sofreu a minha família. Não é fácil o que sofreram os meus filhos. Não é fácil o que sofreu a Marisa. E quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi [resultado] da safadeza que a imprensa e o MPF fizeram contra ela. Essa gente, eu acho, não tem filho, não tem alma e não tem noção do que sente uma mãe ou um pai quando vê um filho sendo atacado”, afirmou o ex-presidente.

"Não sou contra a Lava Jato", diz Lula

Apesar das críticas ao MPF e a Moro, Lula disse não ser contra a Operação Lava Jato. “Não pensem que eu sou contra a Lava Jato, não. A Lava Jato, se pegar bandido, tem que pegar bandido que roubou e prender. Todos nós queremos isso. Todos nós, a vida inteira, dizíamos: ‘[no Brasil] só prende pobre, não prende rico’. E eu quero que continue prendendo rico”, afirmou.

Para Lula, o problema da Lava Jato seria subordinar suas ações à imprensa.  

“Agora, qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa. Porque no fundo no fundo você destrói as pessoas na sociedade, a imagem das pessoas, e depois os juízes vão julgar dizem: ‘Eu não posso ir contra a opinião pública porque a opinião pública está pedindo pra cassar’”, disse o ex-presidente.  

O ex-presidente criticou integrantes do judiciário, que, segundo ele, atuam com base na opinião. “Quem quiser votar com base na opinião pública, largue a toga e vá ser candidato a deputado. Escolha um partido político e vá ser candidato”, afirmou.

"Não sou mais ser humano. Sou uma ideia"

Em um trecho de seu discurso, Lula disse a sua prisão não seria capaz de deter seus ideais e que ele não seria mais “um ser humano”, mas uma ideia.

“Não adianta acabar com minhas ideias. Elas já estão pairando no ar e não tem como prendê-las. Não adianta tentar parar o meu sonho porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelo sonho de vocês", declarou.

"Não adianta achar que tudo vai parar no dia em que o Lula tiver um infarte. É bobagem. Porque o meu coração baterá pelo coração de vocês e são milhões de corações. Não adianta acharem que vão fazer com que eu pare. Eu não pararei porque eu não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia. Uma ideia misturada com a ideia de vocês”, disse Lula.

Após discursar, Lula desceu do caminhão de som e foi recebido no chão por uma multidão de militantes que esperava pelo ex-presidente desde a última quinta-feira. Nas proximidades do Sindicato dos Metalúrgicos, milhares de pessoas se aglomeraram em torno do ex-presidente e Lula chegou a ser carregado nos ombros enquanto um coro entoava a frase: "Eu sou Lula". 

No caminhão de som de onde faz o discurso, Lula está acompanhado de líderes religiosos e políticos de esquerda como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a presidente nacional do PT e senadora Gleisi Hoffmann (PR), o ex-ministro da Defesa e das Relações Exteriores Celso Amorim e pré-candidatos à Presidência da República, Manuela D´Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL).

Lula foi condenado em primeira e em segunda instância pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso que apurou vantagens indevidas pagas ao ex-presidente pela construtora OAS.

Parte dessas vantagens teriam sido pagas por meio da reforma de um apartamento tríplex no Guarujá (SP). A defesa do ex-presidente nega que Lula tenha cometido qualquer irregularidade no caso. Na segunda instância, Lula foi condenado a uma pena de 12 anos e um mês de prisão.