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Em novo depoimento, Odebrecht diz que "quanto mais" falar, mais irá complicar Lula

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

11/04/2018 21h05Atualizada em 12/04/2018 18h50

Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro nesta quarta-feira (11), o empresário Marcelo Odebrecht afirmou que “quanto mais” falar, mais irá “complicar a vida” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A afirmação foi feita em resposta à defesa de Lula, que questionou Odebrecht sobre os e-mails acrescentados pelo empresário, em fevereiro, a um processo em que ele e o ex-presidente são réus. A investigação apura a suposta compra de um terreno, pela empreiteira, para uma sede do Instituto Lula. A entidade nunca chegou a ocupar o imóvel, que fica na zona sul de São Paulo.

No interrogatório, o advogado Cristiano Zanin Martins, que integra a defesa do ex-presidente, se queixou de não ter tido acesso ao computador de Odebrecht.

“A defesa de Luiz Inácio Lula da Silva não teve acesso ao computador do senhor, lamentavelmente. Então eu tenho, aqui, restrições ao meu trabalho, porque eu efetivamente só vou questionar o senhor em relação aos e-mails que o senhor selecionou. Quantos e-mails o senhor analisou, senhor Marcelo?”, questionou o advogado.

“Eu já devo ter encaminhado mais de 3 mil e-mails. Eu digo para o senhor o seguinte: é melhor que a defesa de Lula fique com os e-mails, porque quanto mais eu vou, mais complica a vida dele”, respondeu o empresário.

Odebrecht já foi interrogado anteriormente, mas Moro ordenou que ele fosse ouvido mais uma vez levando em conta uma série de perguntas feitas pelas defesas de Lula e do engenheiro Glaucos da Costamarques, também réu na investigação, após o empresário anexar os e-mails ao processo. Paulo Melo, ex-executivo da Odebrecht Realizações Imobiliárias e réu no caso, também foi ouvido novamente nesta quarta.

Datadas de julho de 2010 até março de 2012, as mensagens mostram como executivos da Odebrecht supostamente buscaram esconder as transações e se preocuparam em não expor a empresa como real compradora do terreno. Os e-mails também mencionam pessoas e empresas que teriam sido usadas como intermediárias da Odebrecht e de Lula na transação. Não há nenhuma citação nominal ao ex-presidente.

O empresário teve seu acordo de delação premiada validado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em janeiro de 2017. De acordo com sua defesa, os e-mails só foram entregues em fevereiro porque, com o empresário em prisão domiciliar desde dezembro, ele enfim teve acesso ao conteúdo de um notebook apreendido pela PF (Polícia Federal) ainda em 2015.

Um laudo feito pela PF comprovou a autenticidade dos e-mails apresentados por Odebrecht no processo. Em nota enviada à reportagem nesta quinta-feira (12), a defesa contestou que o "laudo tenha afirmado a autenticidade de todas as mensagens enviadas".

Segundo a acusação feita pelo Ministério Público Federal, a compra do terreno teria funcionado como pagamento de propina da Odebrecht a Lula. Em troca, ele teria atuado para beneficiar a empresa em contratos com a Petrobras.

Em seu interrogatório no processo, Lula confirmou ter visitado o terreno, mas disse que não se interessou pela compra.

Os advogados do petista dizem ainda que ele "jamais solicitou ou recebeu a propriedade ou a posse de qualquer imóvel para o Instituto Lula" e negam que "qualquer recurso ilícito tenha sido direcionado a Lula".

Mensagens fornecidas por Odebrecht também foram incluídas em outros processos da Lava Jato, como o que investiga reformas em um sítio de Atibaia (SP) usado por Lula e o que levou à condenação do ex-presidente da Petrobras Aldemir  Bendine.