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Moro diz que defesa de Lula está de "brincadeira"

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

11/04/2018 22h25Atualizada em 12/04/2018 18h51

O juiz federal Sergio Moro e o advogado Cristiano Zanin Martins, que integra a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), protagonizaram um bate-boca nesta quarta-feira (11), logo no início de uma audiência marcada para depoimento do empresário Marcelo Odebrecht.

Odebrecht foi ouvido em um processo em que ele e o ex-presidente são réus sobre a suposta compra de um terreno, pela empreiteira, para uma sede do Instituto Lula. A entidade nunca chegou a ocupar o imóvel, que fica na zona sul de São Paulo.

Moro afirmou que a audiência foi marcada atendendo a um pedido da defesa de Lula, que enviou uma série de perguntas após o empresário anexar, em fevereiro deste ano, um compilado de e-mails ao processo. Zanin, no entanto, negou ter solicitado a audiência, mas disse que pediu a verificação da autenticidade do material apresentado por Odebrecht.

Moro replicou afirmando que, quando são apresentadas questões escritas dirigidas a um réu, essa pessoa deve ser ouvida oralmente no processo. O advogado, então, afirmou que não teria perguntas a fazer a Odebrecht, pois não teria tido acesso à íntegra dos arquivos do computador do empresário.

“Eu acho que é um pouco brincadeira da defesa”, afirmou Moro. “Não, brincadeira não é”, respondeu Zanin.

“A defesa necessita ter acesso ao material”, disse o advogado, que afirmou ainda que a solicitação ao material estaria documentada em e-mails trocados com um agente da Polícia Federal.

“As mensagens estão nos autos [do processo]”, respondeu Moro.

Datadas de julho de 2010 até março de 2012, as mensagens mostram como executivos da Odebrecht supostamente buscaram esconder as transações e se preocuparam em não expor a empresa como real compradora do terreno. Os e-mails também mencionam pessoas e empresas que teriam sido usadas como intermediárias da Odebrecht e de Lula na transação. Não há nenhuma citação nominal ao ex-presidente.

O empresário teve seu acordo de delação premiada validado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em janeiro de 2017. De acordo com sua defesa, os e-mails só foram entregues em fevereiro porque, com o empresário em prisão domiciliar desde dezembro, ele enfim teve acesso ao conteúdo de um notebook apreendido pela PF (Polícia Federal) ainda em 2015.

Um laudo feito pela PF comprovou a autenticidade dos e-mails apresentados por Odebrecht no processo. Em nota enviada à reportagem nesta quinta-feira (12), a defesa contestou que o "laudo tenha afirmado a autenticidade de todas as mensagens enviadas".

Segundo a acusação feita pelo Ministério Público Federal, a compra do terreno teria funcionado como pagamento de propina da Odebrecht a Lula. Em troca, ele teria atuado para beneficiar a empresa em contratos com a Petrobras.

Em seu interrogatório no processo, Lula confirmou ter visitado o terreno, mas disse que não se interessou pela compra.

Os advogados do petista dizem que ele "jamais solicitou ou recebeu a propriedade ou a posse de qualquer imóvel para o Instituto Lula" e negam que "qualquer recurso ilícito tenha sido direcionado a Lula".

Mensagens fornecidas por Odebrecht também foram incluídas em outros processos da Lava Jato, como o que investiga reformas em um sítio de Atibaia (SP) usado por Lula e o que levou à condenação do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine.