PF prende Joesley Batista e vice-governador de MG
A Polícia Federal prendeu, nesta sexta-feira (9), o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, e o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade (MDB), por suspeita de envolvimento em um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça em ação que é desdobramento da Operação Lava Jato.
De acordo com a PF, a operação busca desarticular uma organização criminosa que atuava na Câmara dos Deputados e no Ministério da Agricultura. O ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) também é alvo de um mandado de prisão. O político, porém, está preso em Curitiba desde 2016.
Joesley se tornou pivô da maior crise política do governo Michel Temer (MDB) após gravar uma conversa em março de 2017 com o presidente no Palácio do Jaburu. O áudio fez parte de um acordo de delação premiada envolvendo o grupo JBS.
A PGR (Procuradoria-Geral da República), porém, pediu para que o acordo de colaboração seja rescindido sob a alegação de Joesley ter omitido informações. Ele chegou a ser preso por isso, mas depois foi solto. A rescisão da delação ainda precisa ser homologada pelo plenário do STF (Supremo Tribunal Federal), de acordo com decisão ministro Edson Fachin.
A defesa de Joesley disse que "causa estranheza" a prisão dele nesta sexta-feira e que só existe uma investigação porque ele colabora com a Justiça (leia mais abaixo).
O vice-governador Andrade também foi ministro da Agricultura no governo Dilma Rousseff (PT), entre 2013 e 2014. O sucessor de Andrade no ministério, o deputado federal eleito Neri Geller (PP-MT), também foi preso pela PF nesta sexta, em Rondonópolis (MT). Geller ocupou a pasta em 2014.
Segundo a PF, a JBS teria, por exemplo, pago R$ 7 milhões por ações em troca de atos do ministério que beneficiassem a empresa.
Por meio de nota, a assessoria de Andrade afirmou que o vice-governador "respondeu tudo o que lhe foi perguntado e colaborou com o trabalho da polícia" em seu depoimento à PF nesta manhã. "Haverá manifestação [dos advogados] tão logo a defesa tome conhecimento do conteúdo do inquérito", ainda afirmou a nota.
Também em nota, os advogados de Geller informaram que não comentariam a prisão até tomarem conhecimento das acusações contra ele.
A ação, batizada de Capitu, é realizada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso, além do Distrito Federal. Joesley foi preso em sua casa, em São Paulo. Ele chegou à carceragem da PF, no bairro da Lapa, localizado na zona oeste, por volta das 8h45.
Já Andrade foi preso no interior mineiro, na cidade de Vazante, berço político do atual vice-governador de Fernando Pimentel (PT).
Também foram presos Ricardo Saud, ex-diretor do grupo J&F, controlador da JBS, e Demilton Castro, que atuou por quase 40 anos na JBS. Castro chegou a delatar à PGR pagamentos da empresa a agentes públicos entre 2007 e 2015.
Deputado federal por cinco mandatos e agora reeleito, João Magalhães Bifano (MDB) também foi preso pela PF, em Belo Horizonte. Bifano foi flagrado durante as investigações da JBS, após a descoberta de um áudio que veio à tona em setembro de 2017. Nele, o deputado cobrava propina de Saud no valor de R$ 4 milhões. Bifano é pecuarista e agricultor.
O UOL não conseguiu contato com os demais alvos da operação, mas continua tentando.
No total, são cumpridos 19 mandados de prisão temporária (com duração de até cinco dias), sendo que 16 pessoas já tinham sido presas por volta das 11h.
Todo os mandados foram expedidos pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) por envolver pessoas com foro privilegiado. A Justiça também ordenou o cumprimento de outros 63 mandados de busca e apreensão nos cinco estados e no Distrito Federal.
Operação tem base na delação de Funaro
A investigação da PF tem base nas declarações do doleiro Lúcio Bolonha Funaro. Ele relatou pagamentos de propina a servidores públicos e agentes políticos que atuavam direta ou indiretamente no ministério em 2014 e 2015.
Durante as apurações, os investigadores apontam que identificaram “clara comprovação de que empresários e funcionários do grupo investigado [JBS] --inicialmente atuando em colaboração premiada com a PF-- teriam praticado atos de obstrução de justiça”.
De acordo com a instituição, isso “prejudicou a instrução criminal, com o objetivo de desviar a PF da linha de apuração adequada ao correto esclarecimento dos fatos”. “Daí o nome da operação, 'Capitu', a personagem dissimulada da obra prima de Machado de Assis, Dom Casmurro”, diz a nota da PF.
Segundo a PF, os alvos da operação desta sexta serão indiciados pelos crimes de constituição e participação em organização criminosa, obstrução de Justiça, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, entre outros. As penas, segundo a instituição, podem variar entre três e 120 anos de reclusão.
JBS financiou campanha para presidência da Câmara, diz PF
A PF também afirma que a JBS teria participado do “financiamento ilegal de campanha de um deputado federal para a presidência da Câmara dos Deputados [Eduardo Cunha], em troca de atendimento dos interesses corporativos do grupo no ministério”. O valor envolvido é de R$ 30 milhões.
“Desse total, o parlamentar teria destinado R$ 15 milhões a um deputado federal mineiro de seu partido, tendo a bancada mineira de seu partido recebido parte do montante, após a lavagem do dinheiro”, diz a PF.
Os valores foram depositados em contas bancárias de seis escritórios de advocacia. Na sequência, haveria o repasse “aos beneficiários finais, conforme determinação do deputado federal mineiro e de seu operador, também deputado federal”.
O advogado de Eduardo Cunha, Rafael Guedes de Castro, afirmou que o ex-deputado “está e sempre esteve à disposição da autoridade policial para prestar esclarecimentos”.
“Os fatos relatados são falsos e não existe qualquer prova da sua participação. Importante destacar que o ex- deputado não conhece os advogados e escritórios de advocacia citados na investigação bem como o fato de que, para sua eleição como presidente da Câmara dos Deputados, tinha o apoio unânime da bancada que liderava e não precisaria de doações eleitorais para cooptar quem quer que fosse”, diz nota assinada por Castro. “A defesa confia no restabelecimento da verdade e ratifica a sua mais absoluta inocência”, concluiu.
Supermercados são investigados
Os supermercados BH e Epa também são investigados na operação. Agentes da PF foram ao centro de distribuição do supermercado Epa, em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte), e à sede do supermercado BH, na capital mineira.
De acordo com a PF, as redes de supermercados receberam dinheiro ilícito da JBS e repassaram a políticos na forma de “doação legal de campanha”.
A PF suspeita que, devido ao grande movimento de dinheiro em espécie em suas lojas, o BH e Epa utilizaram deste fluxo para dar ar de licitude a valores doados a partidos e políticos, no período de agosto de 2014 a fevereiro de 2015.
A direção do supermercado BH informou que não iria se manifestar sobre a operação. Procurado pelo UOL, o supermercado Epa não se manifestou.
Outro lado
Pierpaolo Bottini, um dos advogados da JBS, declarou que "a investigação só existe porque os executivos da J&F colaboraram com a Justiça" e que o acordo de delação continua vigente.
"Joesley, Saud e Demilton já depuseram, cada um deles, três vezes na Justiça, e nunca se recusaram a colaborar. Esperamos que a prisão seja revogada assim que esclarecidos os fatos, afirmou.
Também membro da defesa de Joesley, o advogado André Callegari disse, em nota, que Joesley tem "cumprido à risca" seu papel de colaborador com a Justiça e que "causa estranheza o pedido de sua prisão". "A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários", declarou o defensor.
*Colaboraram Carlos Eduardo Cherem, em Belo Horizonte, e Janaina Garcia, em São Paulo
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