Substituto de Bebianno liderou socorro em terremoto e "barrou" EUA no Haiti
Resumo da notícia
- General Floriano Peixoto é novo secretário-geral da Presidência, no lugar de Bebianno
- Novo ministro já foi comandante de uma das missões de paz da ONU no Haiti
- Em 2010, ele comandou operações de resgate e atendimento após o terremoto no Haiti
- Ele negociou com os EUA para se manter à frente da missão na época do terremoto
- Ainda após o terremoto, ele teve um leve desentendimento com o então presidente Lula
O general Floriano Peixoto Vieira Neto, novo secretário-geral da Presidência da República, liderou os esforços internacionais de socorro às vítimas do terremoto de 2010 no Haiti e protagonizou negociação diplomática com os Estados Unidos para evitar que os americanos assumissem o controle da segurança no país, à época sob controle do Brasil.
Floriano Peixoto foi anunciado hoje para o cargo no governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) após o anúncio da demissão de Gustavo Bebianno (PSL), cuja saída já era esperada desde a última sexta-feira (15). O agora ex-ministro foi citado em reportagens da Folha de S. Paulo sobre candidaturas laranjas do PSL no período eleitoral, quando ele era o presidente do partido. Bebianno ainda foi atacado publicamente por um dos filhos de Bolsonaro, o vereador Carlos (PSC-RJ). A exoneração foi anunciada pelo porta-voz do Palácio do Planalto, general Otávio do Rêgo Barros.
Dos sete ministros do governo Bolsonaro ligados às Forças Armadas, Floriano Peixoto é um dos mais reservados e tem fama de pragmático e enérgico --fruto de sua experiência em combate. Por outro lado, a vivência acadêmica --que inclui a academia militar de West Point, nos Estados Unidos-- e a participação em negociações de alto nível no ambiente da ONU (Organização das Nações Unidas) fizeram com que seja visto com "grande visão de mundo" por seus colegas.
Antes da exoneração de Gustavo Bebianno, dois generais ocupavam postos-chave na Secretaria-Geral. Floriano Peixoto era secretário-executivo, e o também general da reserva Maynard Santa Rosa, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
A reportagem apurou que um dos motivos da opção por ele foi que Santa Rosa seria muito ligado a Bebianno e poderia não se sentir à vontade para substituir o ex-chefe.
Em novembro passado, Bolsonaro havia dito que cogitava Floriano Peixoto para a assumir a Secom (Secretaria de Comunicação Social) e Santa Rosa para o PPI (Programa de Parcerias e Investimentos) --ambos ficam na Secretaria de Governo, sob o comando do general Carlos Alberto dos Santos Cruz.
Queda de braço com os EUA no Haiti
Floriano Peixoto é um dos cinco ex-comandantes da missão de paz da ONU no Haiti escolhidos para ocupar postos estratégicos no Executivo e Judiciário. Os outros são os generais Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional; Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo; Edson Pujol, comandante do Exército, e Ajax Porto Pinheiro, assessor especial do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli.
O substituto de Bebianno foi um dos primeiros militares brasileiros a trabalhar na missão de paz do Haiti. Em 2004, serviu como oficial de operações sob o comando do general Heleno e participou de ações de combate contra ex-militares rebeldes e gangues de criminosos.
Em sua segunda passagem pelo Haiti, Floriano atuou como comandante das forças da ONU no país em 2009 e 2010. Seu comando coincidiu com o terremoto de magnitude sete que teve epicentro próximo à capital Porto Príncipe, a menos de 10 km da superfície, no dia 12 de janeiro de 2010. O efeito devastador provocou cerca de 300 mil mortes, segundo autoridades locais.
No momento do sismo, Floriano Peixoto estava nos Estados Unidos, prestes a voltar para o Haiti. Diversos membros da equipe dele e autoridades das Nações Unidas morreram no colapso do hotel Christopher, quartel-general da ONU em Porto Príncipe, onde o general trabalhava normalmente.
Ao chegar ao Haiti logo depois do terremoto, o general passou a coordenar os esforços de resgate de sobreviventes, distribuição de água e comida, desobstrução de vias e enterro dos mortos em covas coletivas.
Na época, os cerca de 8.000 combatentes da ONU coordenados pelo general receberam auxílio de aproximadamente 16 mil militares americanos enviados de forma emergencial por Washington dias depois da tragédia. Contudo, os americanos quiseram assumir o controle da missão --responsabilizando-se inclusive pela segurança no país, papel que cabia à ONU.
Floriano Peixoto era amigo pessoal do general americano Ken Keen, que liderava as tropas dos Estados Unidos, e negociou uma solução na qual as forças da ONU sob o comando do Brasil continuariam responsáveis pelo controle da segurança no país.
Os americanos atuaram estritamente na ajuda humanitária. Floriano e Ken Keen apareceram juntos publicamente para reforçar a imagem de parceria. Anos após o episódio, o general brasileiro afirmou diversas vezes que não houve desentendimento com os EUA e que o relacionamento das duas nações foi harmonioso durante a operação de ajuda humanitária.
Desentendimento com Lula
Militares que tiveram contato com Floriano durante seu comando no Haiti disseram à reportagem que ele teria contrariado o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante uma das visitas dele a Porto Príncipe durante seu mandato presidencial.
Lula teria pedido ao general que determinasse a utilização de maquinário cedido pelo Brasil à ONU durante a missão de paz para a realização de obras do governo brasileiro para o governo do Haiti, que necessitava de socorro após o terremoto. O então comandante da Minustah (missão de paz da ONU no Haiti) teria negado o pedido. As máquinas teriam sido então usadas em ajuda humanitária, mas de acordo com as prioridades da ONU e não do governo brasileiro, segundo militares que acompanharam a questão.
O episódio teria dado origem a suposto desentendimento entre os dois. Um integrante da cúpula do PT que acompanhou a missão de paz no Haiti durante o governo Lula não confirmou nem negou a existência do episódio. Ele pediu para não ter o nome revelado e afirmou que, embora Floriano tenha tido uma carreira correta e inquestionável, um militar não é a escolha certa para chefiar a Secretaria-Geral da Presidência.
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