Bolsonaro e Bebianno trocaram áudios sobre Globo, Carlos e laranjas; ouça
Áudios e mensagens revelados pela revista "Veja" hoje mostram que, de fato, houve uma conversa via WhatsApp entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o então secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, na terça-feira da semana passada (12).
Na quarta (13), Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um dos filhos do presidente e vereador do Rio, publicou em seu Twitter um áudio chamando Bebianno de mentiroso e dizendo que a conversa entre o pai e o ministro não havia acontecido. A publicação foi replicada por Jair Bolsonaro, o que acabou intensificando a crise no governo que culminou com a demissão de Bebianno ontem.
"Inimigo" da Globo e viagem à Amazônia
As mensagens reveladas pela "Veja" indicam que no dia 12, quando Jair Bolsonaro ainda estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, ele e Bebianno trocaram áudios via Whatsapp sobre uma visita do vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo, ao ministro no Palácio do Planalto.
Bolsonaro reclama de Bebianno estar levando um "inimigo" seu - a Globo - para "dentro de casa" - o Planalto.
Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma, porque você está trazendo o maior cara que me ferrou - antes, durante, agora e após a campanha - para dentro de casa
Bolsonaro para Bebianno
Bebianno e Bolsonaro ainda conversaram sobre uma viagem do então ministro, juntamente a Ricardo Salles e Damares Alves, titulares nas pastas de Meio Ambiente e Mulher, Família e Direitos Humanos, à Amazônia, também criticada pelo presidente.
Bolsonaro disse não saber quem tinha ordenado a viagem e avisou que cancelaria a missão dos três ministros. Foram dois áudios do presidente sobre este assunto.
Eu não quero que vocês viajem porque vocês criam a expectativa de uma obra. Daí, vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso, o orçamento é nosso, vai ser aprovado etc. Então, essa viagem não se realizará, tá ok?
Bolsonaro para Bebianno
Carlos, Whatsapp e vazamentos
Nos dias seguintes, outros áudios mostram uma discussão sobre vazamentos para imprensa e a crise das candidaturas laranjas do PSL.
Bebianno encaminhou a Bolsonaro a mensagem de um jornalista não identificado dizendo que Carlos estava tentando incitar a saída do ministro. O presidente respondeu que não era verdade e ainda reclamou da entrevista de Bebianno ao jornal O Globo, que disse ter conversado com o presidente três vezes - o que ficou confirmado agora pelos áudios. Bolsonaro afirmou que Carlos não estava incitando a demissão.
Bebbiano reclamou então do ataque de Carlos Bolsonaro no Twitter a ele. O ainda ministro quis deixar claro seu antagonismo com a personalidade do filho do presidente, se dizendo um "pacificador".
"Capitão, eu só prego a paz, o tempo inteiro. O tempo inteiro eu peço para a gente parar de bater nas pessoas. O tempo inteiro eu tento estabelecer uma boa relação com todo mundo", disse o ex-ministro.
Tira isso do lado pessoal. Ele [Carlos] não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a ninguém, capitão. Isso está errado. Por que esse ódio? Qual a relevância disso? Vir a público me chamar de mentiroso? Eu só fiz o bem, capitão
Bebianno para Bolsonaro
Em nova mensagem, Bolsonaro deu a entender que trocar áudios pelo WhatsApp não é necessariamente uma conversa, reforçando o argumento de que não havia conversado com o então ministro. No mesmo áudio, o presidente acusou Bebianno de ter plantado um texto no site "O Antagonista", onde Bebianno supostamente implica Bolsonaro no caso das candidaturas laranjas.
Bebianno, então, se defende. "Quem mencionou isso não foi o Antagonista, foi a Folha. O Antagonista simplesmente replicou. Então, capitão, eu não plantei nada em lugar nenhum, tá? Abraço." Em outro momento, o ex-ministro reafirma que não vazou nenhuma informação.
"Não fui e não liguei pro senhor nenhuma vez. Deixei o senhor em paz. É? Se eu tentei ligar uma ou duas vezes, também não me lembro pelo motivo que foi, é? Não é isso, não, capitão, tá? Eu não vazei nada pra lugar nenhum, muito menos pra Folha, com quem eu praticamente não falo. Abraço, capitão."
Ô, Gustavo, usar da... Que usou do Whatsapp para falar três vezes comigo, aí é demais da tua parte, aí é demais, e eu não vou mais responder a você
Bolsonaro para Bebianno
"Outra coisa, eu sei que você manda lá no Antagonista, a nota (sobre Bolsonaro não atender Bebianno) foi pregada lá. Dias antes, você pregou uma nota que tentou falar comigo e não conseguiu no domingo. Eu sabia qual era a intenção, era exatamente dizer que conversou comigo e que está tudo muito bem, então faz o favor, ou você restabelece a verdade ou não tem conversa a partir daqui pra frente", avisou o presidente.
Candidaturas laranjas
Os áudios ainda remetem ao caso das candidaturas laranjas, em que políticos inexpressivos do PSL arrecadaram grandes valores do fundo partidário, dinheiro público utilizado para financiar os postulantes. O escândalo acabou culminando na demissão de Bebianno, que teve sua exoneração confirmada ontem pelo porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros.
Em um dos áudios, Bolsonaro tentou se afastar do escândalo. "Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo", afirmou o presidente. Em outro momento, o presidente alertou que a Polícia Federal investigaria o caso e que "quem deve paga."
Aí é desonestidade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí? Quem deve paga, tá certo? Eu sei que você é dessa linha minha aí. Um abraço
Bolsonaro para Bebianno
Bebianno ainda dá a entender que o presidente teria sido envenenado contra ele, afirmando ser inocente.
"Se o Bivar [presidente do PSL em Pernambuco durante a eleição] escolheu candidata laranja, é um problema dele, político. E é um problema legal dela explicar o que ela fez com o dinheiro. Da minha parte, eu só repassei o dinheiro que me foi solicitado por escrito. (...) Eu tô vendo que o senhor está bem envenenado. Mas tudo bem, a minha consciência está tranquila, o meu papel foi limpo, continua sendo."
As palavras de Bebianno e Bolsonaro fazem referência à Maria de Lourdes Paixão, 68, que levou do fundo partidário R$ 400 mil para sua campanha na eleição de 2018, conforme mostrou a Folha de S. Paulo. Paixão concorrera a deputada federal por Pernambuco e foi a terceira maior beneficiada com verba do partido de Bolsonaro em todo o país, mas teve apenas 274 votos.
A Folha também publicou que o ministro do Turismo de Bolsonaro, o deputado Marcelo Álvaro Antônio (PSL), utilizou verba pública para beneficiar empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara.
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