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Terra dos Bezerra Coelho, Petrolina divide-se perante visita de Bolsonaro

Mercado de Petrolina (PE), cidade visitada por Bolsonaro em sua primeira ida ao Nordeste - Luciana Amaral/UOL
Mercado de Petrolina (PE), cidade visitada por Bolsonaro em sua primeira ida ao Nordeste Imagem: Luciana Amaral/UOL

Luciana Amaral

Do UOL, em Petrolina (PE)

24/05/2019 12h19Atualizada em 24/05/2019 16h30

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) visitou Petrolina hoje apoiado pelo atual clã de políticos Bezerra Coelho, originários do município do Vale do São Francisco. O prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (sem partido), é filho do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Esta é a primeira viagem ao Nordeste desde que assumiu o Palácio do Planalto.

Na cidade, Bolsonaro discursou na entrega um conjunto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida.

No entanto, se Bolsonaro tem o referendo irrestrito dos Bezerra Coelho, o mesmo não se pode dizer dos petrolinenses. Em conversas com moradores da cidade, a reportagem percebeu que a população está dividida quanto à gestão do presidente e aos resultados práticos de melhorias para o Nordeste. Ainda assim, o clima é de esperança de desenvolvimento.

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A vendedora Marília Moura diz ter votado em Fernando Haddad (PT) nas eleições passadas e ficou "irada" quando descobriu que o marido votou em Bolsonaro. Ela afirma não saber se a qualidade de vida vai melhorar, porque não enxerga a postura do presidente como voltada à região.

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Jair Bolsonaro durante encontro com Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado
Imagem: Marcos Corrêa/PR

"Ele é bem crítico. Às vezes fala sem pensar, é sem noção. Mas tomara que isso não interfira ao longo prazo para o Nordeste. Espero coisas positivas", conta.

A estudante de direito Randreile Barros é entusiasta de Bolsonaro e, quando a reportagem a entrevistou, se preparava para a recepção do presidente no aeroporto de Petrolina por meio de conversas de grupos de WhatsApp.

No início da conversa, lê o versículo de Romanos 13:1: "Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas".

"O Bolsonaro quer mudar o país, e para isso precisa do nosso apoio. O Nordeste é muito visto ainda com preconceito. Acho que foi muito massacrado pelo PT. O Lula até trouxe benefícios, mas vimos o resultado depois. Então, espero que o Bolsonaro venha investir em infraestrutura e geração de emprego, base para o aumento da renda", fala.

Randreile acredita que essa visita será a primeira de muitas e elogiou a iniciativa do presidente para mostrar que ele não pertence "só aos seus eleitores, mas do Brasil inteiro". Quanto às críticas feitas por ir ao Nordeste após cinco meses de Presidência, defende que vêm dos "esquerdistas" e o momento da viagem não poderia ser mais oportuno.

Ao lado de Randreile, seu pai Nilson Barros, autônomo, declara não confiar no PT e que Bolsonaro já virou "referência" no Brasil: "A visita diz tudo".

A caixa de uma loja de artigos de embalagem no centro da cidade, Janaína Andrade, concorda e ressalta que a cidade também precisa conhecê-lo de perto para "desmistificar" qualquer imagem negativa. "As pessoas julgam muito", reclama, ao lamentar não poder sair do trabalho a tempo de ver Bolsonaro de perto.

"O povo do Nordeste está muito acomodado por facilidades, como o Bolsa Família. Um dinheirinho mesmo", adiciona.

O fiscal de veículos de uma associação local de transportes Adriano Sousa fala à reportagem não ser contra ninguém, mas não curtir Bolsonaro. Depois, chega à conclusão de ser fiel ao PT.

"Para mim, só quem existe é o Lula. Ele apoia mais [quem está na] pobreza, os mais carentes. A conversa do Bolsonaro é desagradável, como o armamento para a população [em referência ao decreto das armas]. O que eu gostei foi de ele aumentar a validade da carteira de motorista. Cada um enxerga o que quer, né?", pondera.

"Agora que ele está lá dentro [da Presidência], espero que seja bom, trabalhe para o bem de todos", conclui.

A feirante Maria de Lurdes Dias também é eleitora do PT. Votou em Haddad e afirma que votaria de novo, se pudesse, porque o partido "sempre fez o melhor para o Nordeste". Ela reconhece que o comércio está pior nos últimos anos, porém, prefere não culpar governantes. Maria de Lurdes então se declara fã dos Bezerra Coelho.

"Gosto demais deles. A família toda. Desde quando meu pai era pequeno. Quanto ao Bolsonaro, não vi vantagem nenhuma ainda. Só espero que ele reconheça a necessidade de fazer o melhor", avalia.