Paulinho da Força e Átila Lins lideram gasto com passagens aéreas na Câmara
Ninguém gastou tanto dinheiro com viagens de avião quanto os deputados federais Átila Lins (PP-AM) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP). Os dois ficaram no topo de um pódio formado pelos deputados federais que mais utilizaram o serviço nos seis primeiros meses de 2019, período em que a Câmara desembolsou R$ 19,4 milhões para esse serviço.
Átila e Paulinho não figuram no topo pela primeira vez. Os dois já levaram o ouro e a prata em 2015, primeiro ano da legislação anterior, segundo os dados coletados pelo Ranking dos Políticos e repassados ao UOL.
Entre janeiro e junho de 2019, Átila gastou R$ 169,8 mil em viagens de avião. O deputado comprou 45 bilhetes no período, quase sempre da mesma companhia aérea, a Gol. O que ficou caro para os cofres públicos foram as oito vezes em que ele fretou um avião para chegar ao interior do Amazonas, seu reduto eleitoral.
Essas oito passagens custaram R$ 109,5 mil. O voo mais barato saiu por R$ 5.000; o mais caro custou R$ 27,3 mil. Os outros foram de R$ 20 mil, R$ 12 mil, R$ 15 mil e R$ 7.600.
A viagem de R$ 27,3 mil aconteceu no dia 1º de maio, quando Átila fretou a aeronave Caravan PT-OQT, da empresa Cleiton Táxi Aéreo. A missão era cuidar do traslado de Átila em três trechos: de Manaus a Tefé (575 km de distância), de Tefé a São Paulo de Olivença (distante 453 km) e de São Paulo de Olivença a Manaus (975 km).
"Átila é do Amazonas. Quem é do Norte alega a necessidade de visitar povoados distantes. Aí ele aluga o avião, um argumento aceitável", diz Renato Dias, diretor-executivo do Ranking dos Políticos.
A média de gastos de Átila com passagens, no entanto, é bem maior do que a de seus colegas amazonenses. Os outros sete deputados do estado gastaram, em média, R$ 54,9 mil com viagens de avião no mesmo período, três vezes menos.
Procurado, Átila não respondeu à reportagem.
Paulinho da Força compra 95 passagens
Apenas quatro parlamentares gastaram mais de R$ 100 mil com passagens de avião no primeiro semestre. Além de Átila, Paulinho cravou o segundo lugar com R$ 118,7 mil, seguido pelo pastor Marco Feliciano (Pode-SP), com gasto de R$ 104 mil, e Clarissa Garotinho (Pros-RJ), reembolsada pela Câmara em R$ 100,5 mil.
"Faz mais sentido que um deputado do Amazonas gaste mais do que um parlamentar de São Paulo", afirma Dias. "Talvez seja mais escandaloso o Paulinho gastar R$ 118 mil."

Apenas quatro deputados de São Paulo compraram mais passagens aéreas do que Paulinho da Força, mas nenhum deles chegou perto dos R$ 118 mil pagos pelo deputado do Solidariedade.
Carlos Sampaio (PSDB) comprou 177 viagens e gastou R$ 97,9 mil em seis meses. Vinícius Carvalho (PRB) comprou 101 bilhetes por R$ 52,3 mil. Paulo Freire Costa (PL) comprou 98 passagens e gastou R$ 80,4 mil por eles, enquanto e Marco Feliciano (Pode) fez 128 compras em seis meses por R$ 104 mil.
Procurado, Paulinho afirma em nota que "não cometeu nenhum excesso". "A alta taxa de utilização é consequência da desenvoltura parlamentar do deputado, que é um dos parlamentares mais atuantes da Câmara, que mesmo assim está sempre presente nos seus redutos eleitorais espalhadas pelo Estado com mais de 600 municípios, e também porque foram utilizadas não apenas pelo deputado mas por toda sua assessoria na divulgação do seu mandato. Isto mostra que os dados são distorcidos e manipulados para respaldar uma crítica equivocada. Quanto os comentários do Sr. Renato Dias, a assessoria do parlamentar estuda medidas jurídicas contra a manifestação difamatória veiculada."
Fretar aeronave custa mais
Boa parte dos gastos se dá com a locação ou fretamento de aeronaves, como aconteceu com Átila em regiões com poucas opções de deslocamento. Os 38 fretamentos contratados pelos deputados nos seis primeiros meses do ano custaram R$ 422,3 mil à Câmara.
Como é parte da cota parlamentar, parte habitual de gastos dos deputados, a Casa providencia o reembolso sem exigir a justificativa para as viagens. Basta que se apresente o recibo com a descriminação de valores, datas e trechos sobrevoados.
Um dos maiores gastos com fretamento saiu do gabinete do deputado Jesus Sérgio (PDT-AC), que foi reembolsado em R$ 34,3 mil por três viagens.
"No Acre temos quatro municípios isolados onde só é possível chegar de avião ou de barco. Um exemplo é o município de Jordão, onde recebi expressiva votação", afirmou Jesus Sérgio ao UOL. "Para chegar e partir nos finais de semana, que é o tempo que temos para visitar os municípios, é necessário o fretamento. De barco, partindo de Tarauacá, essa viagem pode demorar de quatro a sete dias."
Em alguns casos, ele informa, a aeronave precisa pernoitar ou retornar no dia seguinte, "quando aproveito para visitar outro município, o que aumenta ainda mais o preço do fretamento".
O parlamentar sugere a aprovação do Projeto de Lei 13.097/2015, com regras e subsídios para empresas aéreas dedicadas ao transporte regional. "Um incentivo para que empresas de menor porte ofereçam transporte aéreo ligando cidades do mesmo estados ou voos regionais a um custo menor."
Renato Dias sugere outra mudança: que os parlamentares não acumulem para si as milhas utilizadas em viagens oficiais. "Eles ficam com as milhas e depois viajam com a família. É preciso manter as milhas para viagens apenas para fins parlamentares. Isso economizaria muito aos cofres públicos."
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