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Bolsonaro tem ministro que não entende de Amazônia, diz prefeito de Manaus

Arthur Virgilio Neto, prefeito da capital do Amazonas - Divulgação
Arthur Virgilio Neto, prefeito da capital do Amazonas Imagem: Divulgação

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

26/08/2019 15h36

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), acredita que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) está sendo mal assessorado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a respeito da Amazônia e precisa ter outros interlocutores para tratar das questões da região.

Entendo que o presidente é mal informado por esse ministro que ele tem. O ministro Ricardo Salles não entende nada de Amazônia. Para ser ministro [do Meio Ambiente], tem que conhecer a Amazônia.

Salles é paulista e foi condenado por improbidade administrativa depois de exercer o cargo de secretário de Meio Ambiente no estado de São Paulo. A condenação também determinou a suspensão de seus direitos políticos.

O tucano, que foi ministro-chefe da secretaria-geral da Presidência no governo Fernando Henrique Cardoso, diz que Bolsonaro precisa escutar os cientistas, os militares e a sociedade local. "Ele precisa ouvir os conselheiros militares que ele tem. São pessoas com profundo conhecimento da região, dos índios, dos caboclos, da nossa sociedade e nossas necessidades".

Virgílio Neto é contra os garimpos na Amazônia, defende a proteção às terras indígenas e a exploração cuidadosa da biodiversidade. Para ele, os cortes orçamentários do governo não podem ser lineares e devem preservar os institutos de pesquisa, como o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), e as universidades da região. "Não podem faltar recursos básicos para os institutos de pesquisas. É deles de que depende o desenvolvimento sustentável futuro da região".

O prefeito compara a Amazônia à figura da galinha dos ovos de ouro. "Se explorá-la de maneira sustentável, ela nunca vai faltar".

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Diplomata de formação, o tucano diz que a decisão do G7 (grupos das sete maiores economias do mundo) de desbloquear a ajuda emergencial de US$ 20 milhões para a região dá ao Brasil uma oportunidade de retomar o prestígio internacional. O Brasil, em sua opinião, deveria se destacar como um campeão do combate ao aquecimento global.

É hora de botar a bola no chão e recuperar o prestígio diplomático do Brasil através de ações muito claras. Temos que trabalhar apoiados na comunidade internacional, e não criar adversários à toa para o país. A diplomacia brasileira não pode continuar sofrendo desgastes. O Brasil tem uma grande chance de se reconciliar com a comunidade internacional.

Esta chance, na visão de Virgílio Neto, se desdobra em setembro, quando o Brasil, por tradição, será responsável pelo discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. "O presidente tem agora uma oportunidade de ouro de fazer um discurso de união, de entendimento, de respeito à diversidade, um discurso democrático e sobre a Amazônia".

Capacidade de "reciclar" o discurso

Na avaliação do prefeito da capital do Amazonas, que já foi senador e deputado federal, o pronunciamento de sexta passada em rede nacional deu sinais de que o presidente mudou sua opinião sobre a questão amazônica. "Ele mudou a posição. Era uma e virou outra. O discurso que ele fez à nação foi muito diferente das palavras anteriores. Ele mostrou capacidade de se reciclar, de se reinventar".

Para o Virgílio Neto, o Brasil não tem outra saída a não ser tratar a Amazônia como estratégica, reconhecendo que, embora boa parte da floresta esteja em território nacional, ela é de interesse mundial.

"O Brasil, que não é potência militar, fica sujeito a pressões que podem ser insuportáveis caso não exerça uma governança impecável na Amazônia. O mundo não está preocupado com outros lugares do país. O mundo está preocupado com a Amazônia. Quem não entender isso está na contramão. Quem entender isso vai poder fazer uma boa prática e crescer na diplomacia e na articulação política".

Apesar da avaliação positiva a respeito da decisão do G7, o tucano considera baixo o valor liberado. "Foi decepcionante a decisão do G7 de enviar US$ 20 milhões para ajudar a Amazônia. Isso é uma esmola. Melhor procedeu a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que sugeriu ao Supremo Tribunal Federal que endereçasse R$ 1,2 bilhão da Lava Jato para a Amazônia. Aí dá para pensar na Amazônia de uma forma mais global. Dá para pensar no emergencial, que são as queimadas, em algum programa de combate ao desmatamento ilegal e em um projeto de sustentabilidade. Cabe ao governo ser sábio na distribuição dos recursos e idealizar projetos econômicos que sejam sustentáveis".

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.