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Crise com Bolsonaro racha PSL no Rio e deve beneficiar Witzel

O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado do governador do RJ, Wilson Witzel - Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado do governador do RJ, Wilson Witzel Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

14/10/2019 16h35

Resumo da notícia

  • Na Alerj, o PSL se divide entre "fiéis a Bolsonaro" e os que desejam ficar com Witzel
  • Sete deputados devem seguir os passos de Bolsonaro, e cinco tendem a se aliar a Witzel
  • Se Bolsonaro deixar o PSL, Witzel poderia ingressar no partido para concorrer em 2022

A possível saída o presidente Jair Bolsonaro do PSL movimenta a bancada do partido na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), que corre o risco de se dissolver caso o chefe do Executivo deixe a legenda. A maior bancada do Legislativo fluminense, com 12 deputados, se divide entre "fiéis ao clã Bolsonaro" --pretendem seguir votando orientados pelo presidente do diretório do RJ, o senador Flávio Bolsonaro, e devem embarcar em eventual nova legenda fundada pela família-- e os que já manifestaram vontade de compor a base de Wilson Witzel (PSC).

No momento, de acordo com deputados do PSL ouvidos pelo UOL, sete parlamentares devem seguir os passos instruídos pelo filho mais velho do presidente, enquanto outros cinco tendem a se aliar ao governador do Rio. Ainda não se sabe, no entanto, se os deputados que optarem por compor a base de Witzel vão permanecer no PSL, já que um possível ingresso de Witzel no partido após eventual saída de Bolsonaro não é descartado.

O governador do Rio já manifestou vontade de concorrer à Presidência da República em 2022 —se trocar de partido, passa a contar com um fundo partidário maior do que tem hoje disponível no PSC.

Pesa, para os deputados que seguirem os passos de Bolsonaro, a possibilidade de ter a exposição na TV reduzida durante a campanha eleitoral do ano que vem em relação ao tempo que teriam caso seguissem no PSL. Deputados estaduais no Rio já manifestaram a vontade de concorrer a prefeituras fluminenses em 2020.

Se deixarem o partido, deputados estaduais do PSL também temem a exoneração dos seus indicados no governo Witzel. Estima-se que, atualmente, os parlamentares do PSL mantenham ao menos 43 nomeados em pastas do governo fluminense.

Ao UOL, deputados estaduais que pretendem seguir ao lado do presidente disseram que apostam na criação de uma nova legenda por Bolsonaro, que poderia surgir a partir da fusão de dois ou mais partidos. Dessa forma, não seria necessária a abertura de uma janela partidária para a migração.

Crise no PSL

Bolsonaro tornou pública na última semana uma crise com o comando do partido pelo qual se elegeu presidente. Ele também está mal com o presidente nacional da legenda, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE).

Segundo pessoas ligadas ao presidente da República, congressistas da sigla e assessores, a irritação de Bolsonaro se deve a uma disputa pelo controle do PSL e dos R$ 103 milhões que o partido receberá do Fundo Partidário ao longo de 2019. O mandato atual de Bivar termina em novembro. Ele preside a sigla desde 1998, quando o PSL obteve o registro na Justiça Eleitoral.

Grupo próximo ao presidente diz que ele quer "refundar" a legenda, melhorando práticas de transparência e combate e políticas contra corrupção. Já congressistas ligados a Bivar agora acusam o grupo do presidente de agir de forma autoritária e de desejar o controle total do PSL.

No último sábado (11), o presidente afirmou que deseja abrir a "caixa preta" do PSL em relação ao uso dos recursos do fundo partidário. Na sexta-feira (10), ele assinou um documento junto com outros 19 parlamentares no qual pede que a sigla aja com transparência e afirma que as contas partidárias estão em situação grave.

"A gente quer transparência. Eu não quero que estoure um problema e depois a imprensa me culpe: 'Ah, você não sabia?". [É necessário] Abrir a caixa preta para que o partido honre a bandeira que a gente tinha lá atrás", disse Bolsonaro.

"Não pode chegar e pegar uma verba de R$ 8 milhões por mês, dinheiro público, e aí uma minoria decide o que fazer com esse recurso. Por mim nem teria esse fundo partidário. Eu me elegi gastando R$ 2 milhões porque fiz uma vaquinha virtual." Questionado sobre o que espera encontrar nas contas de seu partido, o presidente diz sua expectativa é a de que "não haja nada ilegal".

A crise no PSL tem como pano de fundo denúncias de candidaturas laranjas em Minas Gerais e Pernambuco. A suposta fraude pode respingar na campanha presidencial e, em tese, render processo no Tribunal Superior Eleitoral.

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), foi denunciado no começo do mês pelo Ministério Público de Minas Gerais sob acusação de envolvimento em esquema de laranjas do partido. A decisão foi tomada depois do indiciamento dele pela Polícia Federal.

Bolsonaro x Witzel já criou rusgas na Alerj

No mês passado, Flávio Bolsonaro chegou a recomendar a parlamentares que quisessem seguir votando projetos com Witzel que pedissem a desfiliação do PSL, o que acarretaria a perda de seus mandatos. A recomendação aconteceu depois de críticas de Witzel ao presidente.

Em entrevista ao jornal O Globo, ele disse "que quem quiser permanecer vai arcar com o bônus e o ônus de ajudar um governo que será concorrente com o do Bolsonaro em 2022" e chamou o governador do Rio de "ingrato" por criticar a administração do pai e se colocar como pré-candidato à Presidência. Flávio rebateu declaração de Witzel de que foi eleito sem apoio de Bolsonaro.

"Witzel diz que não contou com nosso apoio para se eleger, mas, na campanha, me procurou pedindo que assinasse uma autorização para poder divulgar fotos ao meu lado. Eu atendi. Não me arrependo, mas esperava mais consideração. Só existe uma palavra para isso: ingratidão. Ele é ingrato ao dizer que não se elegeu com o apoio de Bolsonaro. É uma narrativa que beira a traição", disse.

Witzel foi eleito governador do Rio depois de se aliar a Flávio e se declarar alinhado aos ideais do então candidato à Presidência. Em pouco mais de duas semanas, o ex-juiz federal saltou nas pesquisas de intenção de votos e foi eleito governador depois de participar de caminhadas com o senador.

O líder da bancada do PSL na Alerj, Dr. Serginho, confirmou que um dos motivos da ruptura do partido com Witzel foi a possível rivalidade com Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. "Existem motivações políticas para isso [rompimento], obviamente que também passa pelo processo eleitoral de 2022, que o governador se coloca como candidato a presidente, mas não só isso", admitiu na ocasião.

No entanto, Flávio recuou da decisão dias depois e permitiu que os parlamentares fluminenses optassem por seguir, ou não, votando favoráveis a pautas de interesse de Witzel.

Bolsonaro encara Witzel ao falar em "inimigos dentro e fora do país"

Na última sexta, durante evento da Marinha em Itaguaí, na Baixada Fluminense, Bolsonaro falou sobre a existência de "inimigos dentro e fora do país, os de dentro são os mais terríveis". A declaração foi dada olhando fixamente para o governador do Rio.

Bolsonaro citou também "quem por ventura (...) um dia por acaso venha assumir o destino da nação" e voltou a encarar Witzel, que estava sentado no palco ao lado de autoridades, à direita de onde o presidente discursava. Antes disso, Bolsonaro não se levantou para cumprimentar Witzel, apenas estendendo a mão sem entusiasmo, após o governador discursar.

"Trabalho para que no futuro quem por ventura, de forma ética, moral e sem covardia, um dia por acaso venha assumir o destino da nação encontre a nossa pátria em situação bem melhor do que encontrei quando assumi no corrente ano", disse o presidente.

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