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Manaus: enteados de Arthur Virgílio são indiciados por morte de engenheiro

Alejandro Valeiko, enteado do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio - Reprodução/Redes sociais
Alejandro Valeiko, enteado do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Imagem: Reprodução/Redes sociais

Rosiene Carvalho

Colaboração para o UOL, em Manaus

28/11/2019 22h25Atualizada em 28/11/2019 23h40

A Polícia Civil do Amazonas indiciou dois enteados do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), Alejandro e Paola Valeiko, e um funcionário da segurança da prefeitura tucana, Elizeu da Paz, pela morte do engenheiro Flávio Rodrigues, 41, no dia 29 de setembro. O delegado da DEHS (Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros), Paulo Martins, pediu a prisão preventiva dos indiciados.

O inquérito, que tramita em segredo de justiça e ao qual o UOL teve acesso, concluiu também que o carro da Prefeitura de Manaus foi usado para retirar Flávio do condomínio de luxo onde fica a casa de Alejandro, no bairro da Ponta Negra, zona Centro-Sul de Manaus.

O lutador de MMA Mayc Parede, amigo de Elizeu flagrado no carro da prefeitura e que confessou o assassinato, também foi indiciado no caso e teve pedido de prisão preventiva.

Flávio morreu após uma festa na casa de Alejandro regada a bebidas alcoólicas e cocaína. O corpo dele foi encontrado próximo a uma estrada de barro, no Bairro Tarumã, com marcas de seis facadas: duas nas pernas, duas no braço e duas no abdômen. O rosto de Flávio tinha muitas marcas de agressão. No local onde o corpo foi achado, não havia sinais de sangue.

Menos de 24 horas após o assassinato, Arthur Virgílio Neto apresentou em suas redes sociais uma versão para o crime de invasão da casa do enteado por pessoas ligadas ao tráfico de drogas para cobrar dívidas de Flávio Rodrigues. A versão foi desmentida pela polícia no mesmo dia. Na ocasião, o prefeito pediu o fim das suspeitas em relação ao enteado.

No inquérito, a Polícia Civil diz que Flávio foi vítima de "morte violenta", praticada de forma "dolosa, premeditada e por meio de tortura". A perícia encontrou material genético de Flávio no banco traseiro do carro da prefeitura usado por Elizeu da Paz no dia do crime.

O inquérito não aponta o local em que Flávio foi assassinado. A Polícia Civil indica no inquérito que, de acordo com a perícia realizada no ponto em que o corpo do engenheiro foi localizado, aquele não foi o local da morte.

Segundo a perícia, o corpo do engenheiro não apresentava sinais compatíveis à tentativa de defesa por parte dele e também havia "lesões de arraste" e sinais de "asfixia mecânica". A perícia também diz que os ferimentos no corpo do engenheiro foram feitos com "a vítima ainda viva".

Indiciamentos

A Polícia Civil indiciou o segurança do prefeito Arthur Neto, Elizeu da Paz, exonerado cerca de duas semanas após o crime, e o amigo dele Mayc Parede por autoria em homicídio triplamente qualificado e ocultação do cadáver. O inquérito, no entanto, não deixa clara a motivação dos dois para o homicídio de uma pessoa que eles dizem não conhecer.

Os dois também foram indiciados pela autoria na tentativa de homicídio de Elielton Magno Júnior, outro convidado que estava na casa do enteado do prefeito no dia do crime e que foi ferido nas costas. Magno também cumpre prisão temporária desde o dia do crime.

Alejandro Valeiko foi indiciado por homicídio e ocultação de cadáver de Flávio, e por tentativa de homicídio de Magno. Nos três casos, segundo a polícia, os crimes foram cometidos por omissão, isto é, não por ação direta. A irmã dele, Paola Valeiko, foi indiciada por "fraude processual". A Polícia Civil indica, no inquérito, que a limpeza de marcas de sangue que ela fez na casa do irmão prejudicou as investigações.

Um outro homem, que se apresenta como "cuidador" do enteado do prefeito e que diz que executava o serviço sem cobrar remuneração, Vitório Del Gatto, foi indiciado por omissão de socorro. Nos depoimentos, Vitório alegou que durante todo o episódio na casa de Alejandro estava no quarto e não ouviu nada.

Outro lado

Os advogados de defesa do enteado do prefeito informaram, em coletiva à imprensa nesta tarde, que a conclusão do inquérito mostra que não há provas contra Alejandro e que houve vazamento de informações seletivas com o objetivo de atingir a imagem do prefeito de Manaus.

"O Alejandro foi indiciado por homicídio, tentativa de homicídio e por ocultação de cadáver, mas não por uma ação direta e, sim, por suposta omissão porque poderia, na visão da polícia, ter evitado os crimes. Só que, neste caso, isso não existe. Vou dar um exemplo: um policial vê uma pessoa agredindo outra na frente dele e fica parado. Aí, ele pode responder por omissão. Ele tinha, como policial, o dever de agir. O dever de impedir que o crime acontecesse", disse o advogado Diego Gonçalves, acrescentando que o enteado do prefeito não tinha este dever.

"Além disso, ele foi vítima. Ele também foi agredido pelo Elizeu da Paz. Alejandro foi tão vítima quanto os demais agredidos", disse o advogado.

O inquérito não aponta quais as responsabilidades e implicações da Prefeitura de Manaus na presença de um funcionário e de carro na cena do crime.

Em depoimento à Polícia Civil, Elizeu da Paz afirmou que sua função na Prefeitura era "garantir a segurança" do enteado do prefeito. A defesa do policial militar nega a autoria dele no crime.

A Prefeitura de Manaus foi procurada para comentar o assunto por meio da Semcom (Secretaria Municipal de Comunicação), mas não se manifestou.

O delegado Paulo Martins também foi procurado, mas disse não ter autorização para falar sobre o inquérito que tramita em segredo de justiça.