Bolsonaro mandou demitir, mas não quis receber Roberto Alvim no Planalto
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não quis se envolver pessoalmente na demissão do secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, pivô de uma crise no governo depois de copiar o nazista Joseph Goebbels em pronunciamento oficial.
O então chefe da pasta chegou a ir hoje ao Palácio do Planalto após saber que perderia o cargo, mas não foi o recebido por Bolsonaro. Conversou com ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Luiz Ramos (Secretaria de Governo). O último foi o responsável por confirmar a demissão.
Enquanto Alvim estava no Planalto, Bolsonaro decidiu sair para um evento fora da agenda oficial. Sem qualquer aviso, o presidente foi almoçar no Clube de Naval de Brasília a convite do ministro Ramos. A nota da Presidência que oficializou a demissão do agora ex-secretário foi divulgada enquanto as autoridades confraternizavam.
Segundo a Secretaria de Governo, o almoço já havia sido planejado, e Bolsonaro convidado pessoalmente por Ramos. O banquete teve assinatura de um chef que participou do reality show "MasterChef", da Band.
Alvim decidiu ir ao Planalto por iniciativa própria, mesmo já sabendo que estava fora da Secretaria Especial de Cultura. Ele foi comunicado inicialmente pelo ministro do Turismo (a quem a pasta é subordinada), Marcelo Alvaro Antonio, que o avisou da demissão iminente.
Entenda o caso
Na tradicional live semanal feita ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, o ex-secretário de Cultura disse:
"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada".
O livro "Goebbels: a Biography", de Peter Longerich, mostra que o líder nazista teria feito uma fala muito semelhante na década de 1940: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".
Críticas
Na manhã de hoje, Alvim recebeu críticas do presidente da Câmara dos Depuitados, Rodrigo Maia, que pediu no Twitter que o governo brasileiro o afaste imediatamente do cargo.
"O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo", escreveu.
Também na manhã de hoje, Alvim foi criticado por Olavo de Carvalho, que escreveu, no Facebook, que o secretário "não está muito bem da cabeça".
O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse, no Twitter, que o partido pedirá o indiciamento de Alvim pelo crime de apologia ao nazismo.
"Coincidência retórica"
Depois das críticas, o secretário foi ao Facebook se explicar.
O que aconteceu, segundo afirmou o secretário, foi uma "coincidência retórica". Ele disse que "não há nada de errado com a frase" e que a esquerda está "tentando desacreditar" a iniciativa.
"O que a esquerda está fazendo é uma falácia de associação remota", escreveu. "Com uma coincidência retórica em uma frase sobre nacionalismo em arte estão tentando desacreditar todo o Prêmio Nacional das Artes [programa anunciado na ocasião], que vai redefinir a Cultura brasileira".
Ele reforçou: "Eu não citei ninguém. O trecho fala de uma arte heroica e profundamente vinculada às aspirações do povo brasileiro. Não há nada de errado com a frase. Todo o discurso foi baseado num ideal nacionalista para a Arte brasileira. Não o citei e jamais o faria, mas a frase em si é perfeita".
No vídeo, com o retrato de Bolsonaro ao fundo, Alvim imita a aparência e tom de voz de Goebbels. Outra referência ao nazismo é a música de fundo, da ópera "Lohengrin", de Richard Wagner, obra que Hitler contou em sua autobiografia ter sido decisiva em sua vida.
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