"Pagamentos de supersalários por jetons são burla ao teto", diz Lewandowski
Resumo da notícia
- Supremo decidiu que servidores e ministros podem acumular gratificações com salário é permitido
- STF, porém, deixou de analisar supersalários, acima do teto de R$ 39 mil
- PT diz que vai recorrer para derrubar pagamentos que ultrapassem limite constitucional
- Lewandowski diz que supersalário é "burla"; Fachin foi contra também
Dois ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) consideram que não é possível que políticos e servidores acumulem verbas recebidas por participar de reuniões em conselhos de estatais a fim de obter supersalários. Como mostrou o UOL, três ministros e 553 funcionários do governo federal receberam R$ 17,9 milhões dos chamados "jetons" no ano passado, e alguns conseguiram contracheques de R$ 74 mil por mês.
Num julgamento do plenário virtual do Supremo finalizado na noite de ontem, Ricardo Lewandowski e Edson Fachin concordaram com os outro oito ministros que votaram sobre o assunto, afirmando que é possível acumular os jetons com os salários, mas ambos defenderam que o pagamento extra não pode permitir ultrapassar o limite de R$ 39 mil mensais, teto fixado pela Constituição Federal para as remunerações no poder público.
O restante dos ministros do tribunal não se manifestou sobre a questão do teto constitucional, por entender que esse ponto não era objeto do processo analisado. O PT, autor da ação junto com o PDT, disse que vai recorrer depois do carnaval para isso ser esclarecido, e os supersalários com jetons serem barrados.
O gabinete de Lewandowski enviou ao UOL uma nota explicando o voto do magistrado. "O ministro também aplicou o teto por considerar uma medida salutar ao princípio da moralidade e que os pagamentos de supersalários por meio de jetons seriam uma burla ao teto constitucional", afirmou.
O pagamento de valores acima do teto constitucional afronta o princípio da moralidade e representa uma forma de burlar a limitação imposta pelo teto constitucional"
Ricardo Lewandowski, ministro do STF
Edson Fachin foi na mesma linha do colega. "A referida cumulação só é possível se respeitar o teto remuneratório", escreveu ele em seu voto. "O jetom é vantagem que se enquadra nessa categoria, eis que percebido cumulativamente com a remuneração devida pelo cargo efetivo de servidor público que toma assento no conselho de administração de estatal. Assim, não há como exceder ao teto remuneratório."
A relatora, Rosa Weber, e os colegas Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Alexandre de Moraes, Roberto Barroso e Cármen Lúcia — como ela não votou, concordou com a relatora, segundo as regras do plenário virtual- - decidiram que é possível acumular salários e jetons. Barroso fez uma ressalva em seu voto: enfatizou que não estava discutindo os supersalários e o abate-teto.
Dois desses ministros conversaram com o UOL. Eles reiteraram que, a seu ver, o único tema da ação direta de inconstitucionalidade, era a acumulação de rendimentos.
Celso de Mello, do STF, que está de licença médica, não participou do julgamento.
"O governo quer extrapolar o teto", afirma deputado
Sobre a decisão do PT de recorrer da decisão, o deputado do partido Paulo Teixeira (SP) afirmou à reportagem: "Nós queremos saber: vai acumular acima do teto ou não? Pode ser um embargo de declaração para saber a impressão dos ministros sobre o teto."
O parlamentar acredita que os ministros vão seguir o entendimento de Lewandowski e Fachin. "Eu acho [vão dizer] que não pode porque é uma determinação constitucional", disse Teixeira.
"O problema é que o governo quer extrapolar o teto e aí o governo nunca quis deixar que tivesse essa limitação."
A situação começou em 1996, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), passou por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), e chegou a Jair Bolsonaro (sem partido).
Teixeira não quis responsabilizar os presidentes. "Precisa ver quem agiu. Acho dispensável esse debate. A questão é agora o embargo que tenha em mente discutir a obediência ao teto constitucional".
Sob a gestão de Bolsonaro, o Ministério da Economia recorreu duas vezes de decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) para manter os salários de funcionários e conselheiros de estatais em sigilo. "Eles não querem transparência: querem opacidade."
A decisão do tribunal ainda manda cortar os supersalários de conselheiros das estatais — como ministros e funcionários da administração direta — e também funcionários públicos próprios das empresas estatais. Paulo Teixeira defende só o corte nos primeiros.
O UOL procurou o PDT, mas não obteve esclarecimentos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.