De aliado a desafeto, Bebianno foi pivô da 1ª crise no governo Bolsonaro
Ex-ministro de Jair Bolsonaro, Gustavo Bebianno, que morreu na madrugada de hoje após um infarto fulminante em Teresópolis (RJ), foi um dos nomes mais influentes no início do atual governo, mas em poucos meses tornou-se desafeto e opositor do "clã Bolsonaro".
Nascido no Rio de Janeiro em 18 de janeiro de 1964, Bebianno formou-se em Direito na PUC Rio e, considerado um outsider, só entrou na política em 2017. À época, ele foi apresentado ao então deputado federal Jair Bolsonaro e ofereceu-se para defendê-lo de graça em diversas causas.
Desde então, a relação com Bolsonaro se estreitou e Bebianno ajudou o atual presidente a encontrar um novo partido. Em março de 2018, Bebianno se filiou ao PSL —partido pelo qual Bolsonaro concorreu à Presidência da República— e foi eleito vice-presidente da sigla. Pouco tempo depois, tornou-se presidente interino do PSL.
Braço direito na campanha
Não demorou para Bebianno virar o braço direito e o principal articulador da campanha do então futuro presidente. O advogado chegou a estar dentro do centro cirúrgico quando Bolsonaro levou uma facada em Juiz de Fora (MG) durante a campanha eleitoral.
"Tem um ditado que diz que o que os olhos não veem, o coração não sente. Eu não sei se eu cometi o erro ou o acerto de ficar dentro do centro cirúrgico com o Carlos [um dos filhos de Bolsonaro, que é vereador do Rio de Janeiro]. Naquele tumulto, ficamos", contou em entrevista ao UOL em 2018.
Após a eleição, Bebianno foi um dos primeiros ministros a ser anunciado —ele assumiu a Secretaria Geral da Presidência de República.
Crise e "duelo" de áudios
No entanto, já no segundo mês do governo, a relação entre Bebianno e Bolsonaro começou a ruir. A Folha de S.Paulo denunciou o repasse de R$ 400 mil do fundo partidário do PSL para suposta candidatura "laranja" nas eleições. Foi a primeira grande crise do atual governo.
A reportagem apontou que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), participou de um esquema durante a campanha eleitoral para se beneficiar de verbas públicas destinadas ao cumprimento de cotas de gênero no partido —ao menos 30% do fundo partidário deveria ser destinado às candidaturas de mulheres. O ministro escolheu cinco candidatas, que receberam montantes posteriormente destinados a empresas dos assessores dele. Juntas, as candidatas tiveram menos de 5.000 votos.
Em um primeiro momento, Bebianno foi apontado como o responsável pela liberação das verbas, o que foi negado por ele. Ele disse ter informado Bolsonaro sobre os casos já em 2018, tornando-se protagonista da primeira crise do governo.
Três dias após a reportagem ser publicada, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC) disse que a versão de Bebianno era "mentira absoluta". O filho do presidente alegou que o então secretário-geral do governo não teve contato com o presidente e divulgou áudios apenas com a voz do pai dizendo que não conversaria com ninguém. Horas depois, o próprio Bolsonaro compartilhou as postagens do filho.
A situação entre Bolsonaro e Bebianno ficou insustentável. Os dois chegaram a se encontrar pessoalmente, mas não houve uma reconciliação. Um dia após a reunião, o então ministro fez uma postagem enigmática nas redes sociais. "O desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça."
No dia 18 de fevereiro de 2019, Bebianno foi exonerado do cargo por Jair Bolsonaro.
Um dia depois, áudios e mensagens revelados pela revista "Veja" mostraram que, de fato, houve uma conversa via WhatsApp entre o presidente e Bebianno. As mensagens também mostram que, dias depois, o ex-ministro reclamou do ataque recebeu de Carlos Bolsonaro.
De aliado a desafeto
Após deixar o governo, Gustavo Bebianno tornou-se um dos principais opositores de Bolsonaro.
Na semana passada, entrevistado pelo programa Roda Viva, da TV Cultura, fez mais críticas ao presidente e admitiu preocupação com o governo federal.
"Não tenho bola de cristal, não sei o que vai acontecer. Mas temo por uma ruptura institucional", declarou na ocasião. "Ele praticamente não trabalha pelo Brasil. O risco é esse, a começar pelos filhos. AI- 5 para cá e para lá, críticas infundadas a outros poderes", completou.
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