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E. Bolsonaro xinga Doria por falar que Uip indicou cloroquina: 'Canalha'

Governador de São Paulo, João Doria (PSDB), durante entrevista coletiva - DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Governador de São Paulo, João Doria (PSDB), durante entrevista coletiva Imagem: DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

08/04/2020 15h41

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) xingou o governador de São Paulo, João Doria, de "canalha" por falar hoje, em coletiva de imprensa, que foi o coordenador Centro de Contingência ao Coronavírus de São Paulo, David Uip, que indicou o uso de cloroquina ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

"Canalha! Mil vezes canalha! O senhor não tem o mínimo de senso de escrúpulo! Não tem vergonha na cara, governador", escreveu o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defende que a ideia para o uso do medicamento partiu do próprio governo federal.

Na coletiva de hoje, o governador afirmou que a prescrição da cloroquina cabe ao médico, elogiou Mandetta e criticou o que chamou de "milícias virtuais" que estariam atacando médicos.

"Foi o infectologista David Uip quem sugeriu, quem recomendou ao ministro da Saúde que distribuísse o medicamento (cloroquina) na rede pública do País. Quero deixar claro que quem decide como, quando, onde e com quem aplicar é o médico. Não é o governador", afirmou Doria.

"Peço respeito à medicina e aos médicos. Nossa guerra é contra o coronavírus. O ministro Mandetta vem cumprindo bem sua função como ministro da saúde. Não faz sentido atacar o médico David Uip, pelo dito gabinete do ódio. E nem o doutor Roberto Kalil. Por favor, respeitem os médicos e a medicina, os enfermeiros, aqueles que estão doando seu conhecimento e dedicação para ajudar as pessoas a manterem sua saúde", completou o governador.

As trocas de farpas entre Doria e o clã Bolsonaro começaram após o governador e o Executivo não concordarem nas formas de prevenção do coronavírus no Brasil. Doria chegou a questionar publicamente se todos os especialistas, governadores, o ministro da Saúde e os outros países estão errados e apenas Bolsonaro está certo.

Nesta semana, o clima ficou mais tenso quando infectologista David Uip não quis revelar se usou a cloroquina — medicamento defendido pelo governo, mesmo ainda sem provas científicas de sua eficácia — para se recuperar da covid-19.

Hoje pela manhã, Uip confirmou que imagem de uma receita médica prescrevendo difosfato de cloroquina atribuída a ele é real. Apesar de falar da veracidade da receita, ele não mencionou na entrevista para a rádio Gaúcha se tomou ou não o medicamento.

Nova reunião de Mandetta e Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro se reuniu hoje com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no Palácio do Planalto. O encontro durou pouco mais de duas horas, bem além da previsão de meia hora que constava da agenda oficial do presidente.

Mandetta saiu pela garagem do Planalto evitando a imprensa. Antes das rusgas com Bolsonaro, o costume do ministro era chegar e sair a pé do Planalto. No trajeto até o ministério, Mandetta costumava responder a perguntas de jornalistas que o acompanhavam. Hoje, ao chegar ao ministério, ele também não fez declarações à imprensa.

Mandetta é considerado um ministro ameaçado de demissão porque assumiu postura de defender o isolamento social, posição divergente da manifestada pelo presidente Bolsonaro (sem partido). No final de semana, Bolsonaro falou que estava "faltando humildade" ao ministro da Saúde.

Na última segunda (6), o nome de Mandetta não apareceu entre os integrantes da coletiva do Ministério da Saúde e sua demissão foi anunciada por vários nomes ligados ao Planalto. Mas ministros militares e a ala moderada do governo federal convenceram Bolsonaro de cancelar a demissão.

Com horas de atraso, a coletiva do Ministério da Saúde foi realizada e Mandetta falou que tinham até limpado suas gavetas. Ele foi aplaudido por funcionários do ministério e reafirmou o discurso de que as medidas tomadas serão pautadas da ciência.

Pesquisas de avaliação mostram que a atitude do ministro frente à pandemia da covid-19 é mais aprovada que a postura do presidente.