Freixo defende CPI e unificação da esquerda por impeachment de Bolsonaro
Convidado de hoje do UOL Entrevista, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) defendeu a instauração de uma CPI no Congresso para analisar as supostas tentativas de interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na condução de inquéritos da PF (Polícia Federal). O parlamentar também afirmou ao colunista Leandro Sakamoto, que comandou a sabatina, ser favorável à construção de uma frente unificada de esquerda para debater um possível impeachment do presidente.
"A CPI é um instrumento válido e não paralisa o Congresso, como em um eventual processo de impeachment aberto. Nós precisamos levar em consideração o momento que vivemos [de pandemia do coronavírus]. Não é fácil, mas é um processo que nós [bancada do PSOL] vamos cobrar, sim", afirmou.
Contudo, Freixo afirmou não ser contrário à abertura do processo de impeachment. Mas, para isso, ele diz acreditar ser necessário um debate prévio envolvendo os partidos de esquerda para a construção de um movimento unificado de votos e discursos.
"Eu respeito o pedido do presidente [da Câmara dos Deputados] Rodrigo Maia [DEM] para que as pautas relacionadas à pandemia sejam priorizadas, mas é crescente o descontentamento com os crimes de Bolsonaro. Já são mais de 20 pedidos de impeachment, feitos por pessoas físicas e entidades. Seria muito importante um movimento unificado de impeachment dos partidos de esquerda, sem interromper as pautas de saúde. É necessário que o campo progressista pense em agir em conjunto", afirmou.
"Bolsonaro faz a velha política"
Questionado por Sakamoto se, na opinião dele, há chance de Bolsonaro encontrar apoio nos deputados que compõem o chamado Centrão, Freixo respondeu positivamente.
Bolsonaro está construindo uma base a partir de acordos, distribuindo cargos para o Centrão. Na cabeça dele, os governos de esquerda da região Nordeste têm que ser derrotados, por isso Bolsonaro chamou esses deputados para fazer o velho toma-lá-dá-cá, que ele sempre negou que faria. Essa base mostra que Bolsonaro faz a velha política
Ações contra nomeações
Freixo criticou as possíveis indicações de Jorge Oliveira como novo ministro da Justiça e Alexandre Ramagem para ocupar a direção-geral da Polícia Federal. Ele disse que vai esperar as nomeações serem um ato oficial para entrar com ação na Justiça pedindo a anulação da troca de comando na PF. Em paralelo a isso, o PSOL irá contestar o nome de Jorge Oliveira.
"A ação, com a qual vou entrar, vai pedir a anulação do ato da nomeação a ser confirmada. Nenhuma questão pessoal contra o Ramagem, mas existe o princípio da impessoalidade. Nesse momento, há investigações da PF sobre milícias, fakenews e a participação de pessoas que participam de atos pedindo o fechamento do Congresso, por exemplo."
Algumas investigações [da PF] esbarram em gente muito próxima ao presidente, inclusive os seus filhos. Há um debate muito grande sobre a isenção. Quem diz isso não sou eu, é o ex-ministro [da Justiça] Sergio Moro. Bolsonaro querer colocar alguém com relação próxima com seus filhos no cargo viola essa impessoalidade
"PF não pode ser a polícia do presidente"
"Ele pode ser uma pessoa muito boa, mas para assumir o cargo de ministro da Justiça há um rito. Ele é secretário-geral da Presidência, já foi chefe de gabinete do Eduardo Bolsonaro, de quem é padrinho de casamento, aliás. Além disso, possui a carteira da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] há três anos."
Para o cargo de ministro da Justiça é necessário que tenha algo a mais do que boas relações com o presidente da República. Ele [Jorge Oliveira] não pode transformar a PF em polícia do presidente. A Polícia Federal não pode ser para interesses privados. O Ministério da Justiça não pode estar a serviço de interesses pessoais
O deputado do PSOL ainda criticou a recente participação de Bolsonaro em ato que pediu intervenção militar e um novo AI-5. "É ato criminoso, o presidente participou desse ato, tem uma investigação para saber quem financiou. A não ser na cabeça de um autoritário, as coisas se confundem, mas ninguém é dono de uma democracia", disse Freixo.
"Moro nunca demonstrou interesse no caso Marielle"
Freixo também fez críticas ao trabalho de Sergio Moro como ministro na apuração das mortes da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, assassinados a tiros no Rio de Janeiro em março de 2018.
O Moro, em relação ao caso Marielle, nunca se envolveu como ministro, ele nunca quis saber. A partir do momento que esbarrou em familiares, pessoas próximas [a Bolsonaro] por conta do depoimento do porteiro, ele tentou federalizar o crime. Nem mesmo auxiliar a Polícia Civil, que deveria ser o seu papel. Nada impede essa ajuda. Ele nunca fez isso, ele nunca recebeu a família da Marielle. Quando foi para defender o presidente, houve interesse, inclusive tentando ouvir o porteiro
Para o deputado, a solução do homicídio da vereadora deveria ter sido vista como prioridade pelas autoridades de Justiça no Brasil. "Eu acho importante reiterar: o crime contra a vida da Marielle foi cometido contra a democracia brasileira. Quem matou, matou por uma razão política. Se não soubermos o mandante, não vamos saber a razão política. Se não soubermos, outras pessoas serão mortas", frisou.
Freixo disse que a questão vai além do fato de Marielle ter sido sua companheira de partido no Rio. "O crime atinge uma mulher, uma família, uma mãe, mas atinge a representatividade, a forma de se fazer política no RJ. Não se trata de transformá-la em alguém menos ou mais importante, é não aceitar que ninguém seja morto por uma razão política, seja quem for", afirmou.
O parlamentar ainda criticou a fala de Bolsonaro após o pedido de demissão de Sergio Moro, quando o presidente disse que a Polícia Federal deu mais atenção ao caso Marielle do que às apurações sobre o atentado sofrido pelo então candidato nas eleições em 2018. Bolsonaro foi vítima de uma facada quando fazia campanha em Juiz de Fora (MG).
"Ele mente, a PF investigou e concluiu, mas o grupo bolsonarista não aceita isso, estão inventando novas testemunhas para fazer política com a segurança pública. Vão plantar novos depoimentos para reacender. O caso Marielle não foi investigado. O presidente manipula as informações, mente, desrespeitando uma vida, uma família. Fazendo a política mais baixa", completou.
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