Topo

Moro é assistido por advogados de Cunha e Odebrecht em depoimento na PF

 Fernando Frazão / Agência Brasil
Imagem: Fernando Frazão / Agência Brasil

Eduardo Militão e Flávio Costa

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

02/05/2020 23h03

Em depoimento de mais de sete horas, o ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro foi assistido por advogados de dois réus ilustres que ele condenou na Operação Lava Jato. Assim como Moro, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) e executivos da construtora Odebrecht contrataram o escritório Sánchez Rios, do criminalista Rodrigo Sánchez Rios, para defendê-los na investigação.

Pouco depois das 14h deste sábado (2), o ex-ministro da Justiça iniciou seu depoimento sobre as acusações que fez ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de interferir na Polícia Federal.

Odebrecht

Em junho de 2015, Moro mandou prender o então presidente e e acionista da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, na fase "Erga Omnes", da operação, palavra latina para "a lei é para todos".

Em agosto daquele ano, a empreiteira anunciou que seu time de advogados incluía Nabor Bulhões, Dora Cavalcanti, Augusto Botelho e Rodrigo Sánchez Rios. Àquela época, eles já trabalhavam com os executivos da empresa, informou a assessoria da Odebrecht.

Marcelo Odebrecht foi condenado, primeiramente, a 19 anos de prisão por Moro. Depois, o grupo Odebrecht fez um acordo de colaboração premiada e leniência, confessando crimes e apontando outros.

Eduardo Cunha

Em 25 de novembro de 2016, Sanchez Rios atuava na defesa de Eduardo Cunha. Por meio do advogado, o ex-deputado, que estava preso, enviou uma petição a Moro com perguntas para serem feitas ao então presidente da República, Michel Temer (MDB).

Uma das perguntas ligava o então presidente a outros réus condenado pela Lava Jato. Cunha queria saber se Temer tinha "conhecimento se, na coordenação de Minas Gerais, coordenada pelo sr. Fernando Diniz [ex-deputado do MDB], coube a indicação do diretor da área internacional da Petrobrás, tendo sido indicado o sr. João Augusto Henriques [lobista condenado por Moro], vetado pelo governo, e depois substituído pelo sr. Jorge Zelada [dirigente da estatal sentenciado pelo ex-juiz]".

Moro descobriu a importância do advogado, diz criminalista

Com 42 anos de advocacia criminal, Nabor atuou para o ex-presidente Fernando Collor e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Ele ironizou o fato de Moro contratar um defensor.

"Ele, que não dava muita bola para os advogados, descobriu que o advogado tem uma importância muito grande na vida das pessoas, principalmente aquelas que podem ser investigadas criminalmente", afirmou Nabor ao UOL.

Apesar disso, ele afirma que é "especulação" ligar o ex-juiz aos réus que condenou por causa de ter advogados comuns.

"É especulação. Não há nenhuma incongruência, ilegalidade, nem conflito nas posições dele. Isso é outra coisa. Essa assistência que ele presta ao Sergio Moro não tem nada a ver com Lava Jato e aos processos de Odebrecht e Cunha."

O currículo de Rodrigo Sánchez Rios é extenso. Advogado há 33 anos, é doutor em direito penal e criminologia pela Università Degli Studi Di Roma Tre, "La Sapienza", na Itália. É especialista em direito penal econômico, a disciplina que estuda os crimes de colarinho branco, como a corrupção e a lavagem de dinheiro, pela Universidade Castilla La Mancha, Espanha.

É professor de direito penal da PUC do Paraná desde 1992. É membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim).

A reportagem tentou contato com Sanchez Rios e a assessoria de Moro, mas não obteve retorno.