'Casal governador': alvo da PF, mulher de Witzel tem papel ativo no governo
No centro de investigações que associam o seu escritório de advocacia a presos da Operação Lava Jato e à suposta fraude na contratação de hospitais de campanha para pacientes com o novo coronavírus no Rio, a primeira-dama Helena Witzel tem influência no Palácio Guanabara que a aproxima do primeiro escalão, com direito a uma sala na sede do governo fluminense.
Presente em agendas políticas ao lado do marido, Wilson Witzel (PSC), e figura fácil em reuniões do seu secretariado, Helena frequentemente opina em relação às falas do governador e de integrantes do primeiro escalão do governo. A advogada também é conhecida pela memória privilegiada e costuma lembrar Witzel de dados e projetos estratégicos, considerados fundamentais.
Diante da influência da primeira-dama sobre as decisões do marido, funcionários do governo se referem aos dois como "o casal governador". Helena é ex-aluna de Witzel —que foi juiz federal antes de entrar na vida política— e mãe de três dos quatro filhos do chefe do Executivo fluminense.
Em um desses momentos em que o casal mostrou colaboração na administração pública, em dezembro do ano passado, Witzel consultava a esposa em relação aos números que citava durante um café da manhã com jornalistas. "É isso mesmo, Helena?", perguntou por mais de uma vez. Em algumas ocasiões, ela demonstrava mais intimidade do que o governador com dados do seu mandato.
Oficialmente, Helena ocupa a presidência de honra do Rio Solidário (organização sem fins lucrativos ligada ao governo estadual) e participa de ações sociais do governo. No entanto, costuma trabalhar até tarde no Palácio Guanabara, já que no ano passado foi contemplada pelo marido com uma sala na sede do governo. Neste ano, ela contraiu covid-19 na mesma época em que Witzel anunciou estar com a doença.
Porém, nem sempre ela apoiou Witzel no sonho de chegar à chefia do Executivo fluminense. Em evento realizado no ano passado, ele contou que precisou vencer a resistência da esposa ao decidir deixar a magistratura.
"A minha esposa, Helena, chegou a chorar quando soube que eu havia tomado essa decisão e, a partir do mês seguinte, não contaria mais com o salário de juiz, mas sempre tive fé de que conseguiria [vencer a eleição]", contou. Apesar da resistência inicial, ela se engajou durante a campanha de 2018 e comemorou a vitória do marido.
Apesar de não esconder a sua participação intensa na rotina de trabalho de Witzel, a primeira-dama se mostra arredia a conceder entrevistas e raramente fala com a imprensa. Em rara exceção, no Carnaval do ano passado, ela declarou torcida pela Imperatriz Leopoldinense enquanto assistia aos desfiles na Marquês de Sapucaí.
Apesar do rebaixamento da escola para o Grupo de Acesso do Carnaval carioca, a primeira-dama mostrou fôlego e acompanhou o cortejo de todas as agremiações. A sua resistência durante os dias de desfile parece ter contagiado Witzel, que arriscou um pé-ante-pé na avenida.
Helena nega suspeitas
Em nota divulgada na última terça-feira (26) em relação à ação de busca e apreensão realizada pela PF (Polícia Federal) no seu escritório de direito (HW Assessoria Jurídica), Helena Witzel fez coro ao discurso do marido e disse lamentar que "a operação tenha sido imbuída de indisfarçada motivação política, sendo sintomático, a esse respeito, que a ação foi antecipada na véspera por deputada federal aliada do presidente Jair Bolsonaro [sem partido]".
A Operação Placebo, autorizada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), diz que o escritório de advocacia da primeira-dama recebeu pagamentos de empresa pertencente a dois presos pela Lava Jato —ambos apontados como operadores do empresário Mario Peixoto.
Com base na investigação da PGR, a decisão do ministro do STJ Benedito Gonçalves afirma que há indícios de "atividade delitiva" na relação do escritório de advocacia de Helena com empresa investigada na operação que apura fraudes em compras do governo do estado durante o combate à pandemia.
Gonçalves relata "vínculo bastante estreito e suspeito entre a primeira-dama Helena Witzel e as empresas de interesse de Mário Peixoto", o principal fornecedor do governo do estado, ao qual Witzel é associado desde a campanha eleitoral de 2018.
Helena teria firmado contratos "sem que a investigação tenha encontrado provas da prestação do respectivo serviço, o que explicita possível exercício profissional voltado à atividade delitiva".
Por meio de nota, a advogada informou que a HW Assessoria Jurídica prestou serviços para a empresa apontada na investigação, "tendo recebido honorários, emitido nota fiscal e declarado regularmente os valores na declaração de imposto de renda do escritório".
O STJ também autorizou apreensão e quebrou o sigilo dos dados contidos nos telefones e demais equipamentos eletrônicos de Witzel e Helena.
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